Uma verdade absoluta a ser pensada é: o Brasil não é mais um país de jovens. A população está envelhecendo rapidamente e a tendência dos próximos anos é ver o número de idosos quase dobrar no país. Com a expectativa de vida chegando a 75 anos e a taxa de natalidade menor do que dois filhos por casal, os gestores, principalmente da área da saúde, precisam repensar o envelhecimento saudável e ativo.
Durante a palestra “Longevidade Saudável: um sonho possível”, realizada em 6 de outubro pelo Instituto de Ensino e Pesquisa na Área da Saúde (IEPAS), no auditório do SINDHOSP, o geriatra Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Escola Paulista de Medicina e coordenador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explicou a transformação epidemiológica, a reforma da previdência social e o aumento das doenças crônicas num futuro não tão distante.
“Podemos dizer que o brasileiro ganhou nos últimos 50 anos quase 30 anos a mais de vida. Essa é uma equação complicada, porque mexe com o planejamento de vida das pessoas. Em pouco tempo, as pessoas passam a administrar 20, 30 anos a mais de vida e isso tem uma série de implicações até para o sistema da previdência social”, disse. “É uma mudança drástica, mas ignorada pelos gestores. Desde 1997 discute-se a reforma da aposentadoria, mas só agora os olhos públicos se voltaram para o problema”.
Ramos alertou ainda para a necessidade de políticas públicas e privadas para os idosos. “Sonhar com uma velhice sem doenças crônicas é impossível, mas podemos envelhecer com as doenças e com a saúde, controlando cada sintoma e assim tendo uma ótima qualidade de vida. O sistema de saúde não evoluiu. Continua estruturado para o velho paradigma das doenças infecciosas, enquanto na verdade, temos um aumento das doenças comportamentais que acabam evoluindo para quadros de incapacitação”.
O médico comenta também sobre as limitações da idade. “Após os 60 anos a grande maioria das pessoas vai ter pelo menos uma doença crônica, seja pressão alta, diabete, catarata, um problema cardíaco. Mas isso não quer dizer que ela vai ser uma pessoa limitada, dependente. Significa sim, que ela vai ter que administrar diariamente uma ou mais doenças crônicas que são inevitavelmente desenvolvidas na medida que os anos passam”.
Na Unifesp ele coordena o Projeto Epidoso, que realiza análise de regressão logística e fatores de risco de mortalidade entre os idosos de comunidades próximas, avaliando a capacidade de o indivíduo tocar a vida de forma independente. “Esse é o novo conceito de saúde. Aquele idoso que vive sozinho, capaz de realizar atividades comuns, como se vestir, tomar banho, comer, fazer compras, cuidar das finanças, enfim, manter a sua casa e a sua família sem precisar de ajuda específica de ninguém”.
Para envelhecer com saúde, Ramos dá as dicas. “Se manter ativo é uma grande ajuda para todas as pessoas depois da suposta idade da aposentadoria. Depois o viver sozinho, que estimula a independência. E claro, atividade física. Um bom exemplo de manter a saúde funcional é permanecer ativo do ponto de vista laboral e do ponto de vista físico e mental.