Dando sequência à série “Especial – Legados na Saúde” do videocast Papo da Saúde, o SindHosp recebeu o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que ocupou a pasta da Saúde durante o início do governo Jair Bolsonaro. Conversando com o presidente do SindHosp e da Fehoesp, Francisco Balestrin, e a diretora executiva do Colégio Brasileiro de Executivos em Saúde (CEBEX), Tacyra Valois, Mandetta contou como chegaram as primeiras informações sobre o que se transformaria na pandemia de Covid-19 e descreveu a escalada da crise sanitária no mundo até chegar ao Brasil. Também falou sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o futuro dos medicamentos, “que serão produzidos de modo personalizado, de acordo com a genética de cada”. Sobre eleições, o ex-ministro traçou alguns dos principais desafios das cidades brasileiras. Para assistir à íntegra da entrevista, clique aqui.
Filho de pai médico e mãe professora, Mandetta se tornou ortopedista pediátrico e teve contato desde cedo com associações como APAE e Pestalozze: “Criança não nasceu para ter doença, nasceu para brincar”. Iniciou sua trajetória política como presidente da Confederação Nacional das Cooperativas Médicas (Unimed) em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde nasceu. Em 2005, foi convidado para ser secretário municipal da Saúde da capital sul-mato-grossense, permanecendo no cargo até 2010. De 2011 a 2019, foi deputado federal por dois mandatos, antes de ser convidado para ser ministro. “E eu só fiz uma pergunta: ‘Posso fazer montar uma equipe técnica? Pode. Não há restrições a nomes? Não. Então tá bom’. E montei uma equipe muito, muito boa, e muito unida”.
A pandemia
À frente da pasta da Saúde em 2019, Luiz Henrique Mandetta viu de perto o surgimento da pandemia de Covid-19. “Tudo começou com um ruído, de que havia uma pneumonia na China, causando algum tipo de patologia. Só que a China não havia dito nada, enquanto discussões já aconteciam ao redor do mundo entre epidemiologistas. Então, fomos os primeiros a questionar a Organização Mundial da Saúde via e-mail sobre o que estaria ocorrendo. Com o tempo, veio a confirmação de que havia um vírus novo causando uma pneumonia atípica, uma alerta para o mundo”, revelou Mandetta. “Logo em seguida, começamos a assistir a cenas de construção de hospitais e pessoal de roupa especial retendo pessoas dentro de casa na China”.
Segundo o ex-ministro, o primeiro problema depois do agravamento da crise sanitária na China não era tanto o vírus, mas, sim, o material de atendimento hospitalar. “Nossa preocupação era com luvas, agulhas, escalpes e esparadrapos. Sem isso, não tínhamos como garantir as operações de centros cirúrgicos. Além disso, ainda havia os medicamentos. A produção estava concentrada em países como a China e a Índia, e isso foi uma grande lição para o mundo. Os sistemas de saúde foram caindo um por um. Primeiro o Irã, depois Itália, depois França, Inglaterra… Vi cenas de enfermeiras com saco de lixo na cabeça porque não havia touca nem máscaras, e pessoal de saúde se contaminando e morrendo aos borbotões”.
Mandetta diz que o Brasil enfrentou a pandemia se valendo muito do seu Sistema Único de Saúde. “Naquele momento, ficaram claras suas fortalezas e fragilidades. E o SUS mostrou ser importante para todo mundo, inclusive classe média e ricos”, destacou o ex-ministro. “Para os secretários de Saúde que vão assumir em 2025, vale a pena ficar atentos a um fenômeno que observamos durante a pandemia. Reduzimos o número de exames diagnóstico, por exemplo, mamografia. Ou seja, é de se imaginar que tenhamos aumento de casos de câncer em estágios mais adiantados, talvez já com metástase. Na prática, vale checar indicadores de próstata, risco cardiovascular e assim por diante”.
Promoção e personalização
Para além da pandemia, Mandetta falou da importância de indicadores de saúde para os futuros governos municipais. “O indicador determina onde se está e aonde se quer ir, saber o estado das coisas na tua cidade e depois trabalhar muito com a promoção da saúde, uma consciência coletiva em saúde. Por exemplo, uma cidade com aparelhos de atividade física ao ar livre pode investir em recursos humanos de saúde para orientar as pessoas, medir pressão arterial e ajudá-las a se manter ativas, longe do sedentarismo. Quando as pessoas se sentem cuidadas, elas respondem bem às políticas públicas”.
Para o futuro, Mandetta acredita que a medicina caminha para a personalização do diagnóstico. “Assim como a roupa de alfaiate, as doenças serão personalizadas. Então, vão ver sua genética e fazer o medicamento para você, a terapia gênica para você. O mundo acelera muito isso. São coisas que vão acontecer nos próximos anos. A pandemia acelerou muitos métodos, diagnósticos, exames de sangue e assim por diante”, revelou o ex-ministro.
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