Especialista em saúde suplementar, o economista Adriano Londres não mede palavras ao analisar a atual situação do setor, principalmente em relação aos planos de saúde coletivos. “Vivemos uma hipocrisia coletiva. Fazemos muito menos do que poderíamos para tornar esse setor um pouco mais eficiente. Claro que existem problemas ligado à economia do país, há uma correlação entre emprego, PIB e número de beneficiários, mas sabemos que somos pouco eficientes na gestão do cuidado e do recurso”, criticou o sócio da consultoria técnica Arquitetos da Saúde a Francisco Balestrin, presidente do SindHosp e FESAÚDE-SP e vice-presidente da CNSaúde, durante o videocast Papo da Saúde. Clique aqui e assista à integra da entrevista.
“Vivemos uma hipocrisia coletiva. Fazemos muito menos do que poderíamos para tornar esse setor um pouco mais eficiente”
No papo, Balestrin lembrou que Adriano Londres participou com ele da fundação da Anaph, em 2001, e que pertence a uma família tradicional de médicos: “Seu avô criou a Clínica São Vicente no Rio de Janeiro”. O convidado contou que seu sobrenome vem da Paraíba e falou de suas passagens pelo Hospital do Coração e Qualicorp antes de fundar sua consultoria. “O arquiteto tem de projetar sonhos com orçamento, é um pouco o nosso trabalho na área da saúde”, contou Londres.
Sem qualidade nem prevenção
Para Adriano Londres, a saúde suplementar precisa de um choque de gestão se quiser se tornar mais eficiente. Segundo ele, somente 7% dos hospitais privados do país têm acreditação e as operadoras investem apenas 0,25% de sua receita em planos reconhecidos pela ANS como de atenção à saúde. “Temos problemas reais e complexos, mas a gente pouco tem endereçado esses temas mais estruturantes, sobretudo de qualidade e prevenção. Resultado: em 10 anos, o setor cresceu menos de 1%, mesmo o plano de saúde sendo um objeto de desejo do brasileiro, isso é vergonhoso”, condenou Adriano Londres.
“Em 10 anos, o setor de saúde suplementar cresceu menos de 1%, mesmo o plano de saúde sendo um objeto de desejo do brasileiro, isso é vergonhoso”
Sobre a obrigatoriedade da acreditação para estabelecimentos de saúde, o convidado do Papo da Saúde citou o debate proposto pela filósofa Lúcia Helena Galvão sobre a ética da coerção em contraposição à ética da convicção. “Para que as pessoas ajam de maneira correta, elas precisam sentir que haja a possibilidade de ser penalizadas. Será que teremos de obrigar as instituições a ter um compromisso com qualidade, é isso? Agora, por outro lado, quantas empresas que contratam um plano de saúde sabem exatamente o que é uma acreditação ou quais benefícios a acreditação pode gerar tanto para ele, financiador, como para o beneficiário. Temos uma falha de comunicação, precisamos compilar mais dados associados à qualidade do cuidado”, ponderou Londres.
Judicialização da saúde
Francisco Balestrin e Adriano Lopes também discutiram a judicialização da saúde. O entrevistado do Papo da Saúde revelou que o número de processos dobrou de 2021 para 2024, atingindo 300 mil novos casos. “A judicialização é mais um sintoma dos problemas associados à saúde suplementar. Mas é preciso separar o que é legítimo do que não é. O ponto é que a politicagem ocupa um espaço que deveria ser de políticas para saúde, dando margem para a judicialização. E o setor não reage. Qual é a agenda estratégica da saúde suplementar? Não existe”, analisa o economista.
Nós, como Estado, não tratamos a saúde como deveríamos”
Adriano Londres também criticou o financiamento público da saúde no Brasil. “O valor per capta é baixo. Nós, como Estado, não tratamos a saúde como deveríamos”, afirmou o consultor. “Na outra ponta, a saúde suplementar faz menos do que poderia. As operadoras deveriam ser de planos de saúde, mas não temos planos de saúde no Brasil. O que temos são intermediários financeiros que vendem produtos que pagam contas do tratamento de doença”.