93% da população está insatisfeita com a saúde pública e privada

Fila, acesso aos serviços e gestão dos recursos são os principais problemas

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Os serviços públicos e privados de saúde no Brasil são péssimos, ruins ou regulares para 93% dos eleitores brasileiros. A sensação também é de insatisfação em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), segundo 87% da população. Essa avaliação considerada negativa pelos pesquisadores integra pesquisa inédita realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Paulista de Medicina (APM). Estas e outras informações foram divulgadas nessa terça-feira (19), durante coletiva à imprensa, em Brasília.
 
“Trata-se de um censo que confirma o que os médicos já veem denunciando há muito tempo: a saúde não é uma prioridade de governo. O grau de insatisfação é emblemático e aponta o desejo da população por mudanças profundas na condução dos rumos do país. Essa pesquisa deve gerar a reflexão na sociedade sobre os caminhos a se tomar”, afirmou o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Ávila.
 
Metodologia
De acordo com o inquérito, a saúde no Brasil é apontada como a área de maior importância para 87% brasileiros e é também indicada por 57% como tema que deveria ser tratado como prioridade pelo governo federal. A abrangência do estudo foi nacional, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior de diferentes portes, moradores nas cinco Regiões do país. Foram ouvidas 2.418 pessoas – 60% delas residentes no interior – entre os dias 3 a 10 de junho, homens e mulheres com idade superior a 16 anos.
 
Outras áreas como educação (18%) e combate à corrupção (8%) também aparecem com alto nível de prioridade para a população. Contudo, a distância delas para a saúde é significativa. Entre os outros temas citados pelos entrevistados constam segurança (7%), combate ao desemprego (4%) e moradia (3%). Temas como combate à inflação, meio ambiente e transporte despontam com menor grau de prioridade, com menos de 1% na pesquisa.
 
SUS de difícil acesso e de má qualidade
A pesquisa realizada pelo Datafolha apontou ainda que todos os aspectos do atendimento do SUS têm imagem insatisfatória entre a população brasileira. Os pontos mais críticos estão relacionados ao acesso e ao tempo de espera para atendimento. Mais da metade dos entrevistados que buscaram acesso no SUS relataram ser difícil ou muito difícil conseguir o serviço pretendido, especialmente cirurgias, atendimento domiciliar e procedimentos específicos, como hemodiálise e quimioterapia.
 
Sobre a qualidade dos serviços, 70% dos que buscaram o SUS disseram estar insatisfeitos e atribuíram avaliações que variam de péssimo a regular. A percepção mais negativa está relacionada ao atendimento nas urgências e emergências e nos prontos-socorros. Juntamente com as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), estes setores têm se configurado como a principal ‘porta de entrada’ para o SUS. Homens com idade de 25 a 39 anos, com nível superior e moradores das regiões Norte e Centro-Oeste são os que pior avaliam os serviços públicos.
 
Fila de espera
O tempo aguardado para ser atendido ou agendar uma consulta, exame, internação, cirurgia ou outro procedimento também é um gargalo para o SUS. Entre os 2.418 entrevistados da Pesquisa do Datafolha, pelo menos 30% declararam estar aguardando ou ter alguém na família aguardando a marcação ou realização de algum procedimento pelo SUS. Até mesmo pessoas que possuem planos de saúde, 22% deles, disseram aguardam algum tipo de atendimento pela rede pública.
 
Mas apesar desse percentual, isso não significa inexistência de queixas ou facilidade no acesso ao procedimento diagnosticado. Só dois entre cada dez entrevistados conseguiram ser atendidos em até um mês no seu pedido de consulta, exame, internação, cirurgia ou procedimento específico (quimioterapia ou hemodiálise, por exemplo). Para quase metade da população esse tempo é ainda maior, podendo chegar a seis meses. O mais grave é que uma parcela significativa da população (29%) aguarda há mais de seis meses para ter seu pedido atendido, sendo que mais da metade desse grupo relata estar na fila de espera há mais de um ano.
 
As maiores taxas de pessoas que estão aguardando estão entre as mulheres de idade intermediárias (25 a 55 anos), de escolaridade fundamental, nos segmentos de classe menos favorecidos e residentes no Sudeste e nas regiões metropolitanas.
 
Falta de infraestrutura no SUS
“Essa sobrecarga no atendimento de urgência e emergência acentua a visão negativa sobre o SUS e demonstra a total falta de gestão e regulação do sistema. É ali que, diariamente, pacientes e médicos e outros profissionais de saúde constatam o abandono deste serviço público que, para muitos, é a única alternativa”, afirmou Roberto d’Avila. Parcela significativa dessa percepção ruim decorre da ausência de medidas que assegurem o bom funcionamento dos serviços, lembrou o presidente, para quem a desativação de milhares de leitos públicos nos últimos anos tem colocado médicos pacientes em “sacrifício”.
 
De acordo com dados apurados pelo CFM junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, quase 13 mil leitos foram desativados na rede pública de saúde entre janeiro de 2010 e julho de 2013. O número passou de 361 mil para 348 mil leitos. As especialidades mais atingidas com o corte foram a psiquiatria (-7.499 leitos), pediatria (-5.992), a obstetrícia (-3.431) e cirurgia geral (-340).
 
Em números absolutos, os Estados das regiões Sudeste e Nordeste foram os que mais sofreram redução no período. Só no Rio de Janeiro, por exemplo, 4.621 leitos foram desativados. Na sequência, Minas Gerais (-1.443 leitos) e São Paulo (-1.315). No Nordeste, foi no Maranhão o maior corte (-1.181). Entre as capitais, foram os fluminenses os que mais perderam leitos na rede pública (-1.113), seguidos pelos fortalezenses (-467) e curitibanos (-325).
 
Falta dinheiro e gestão de qualidade
As avaliações negativas não se restringem à atividade fim do sistema de saúde (atendimento). Há críticas também à gestão e ao financiamento do SUS. De acordo com a pesquisa, para a maioria da populaç&ati

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