Apesar de a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes ter começado a se estabilizar a partir dos anos 2000 nos Estados Unidos, o problema continua se agravando entre os jovens americanos de classes sociais mais baixas.
Essa é a conclusão de um estudo feito por pesquisadores da universidade de Harvard e publicado na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS). Os resultados basearam-se em dois levantamentos nacionais que coletaram dados sobre a prevalência de obesidade entre crianças e adolescentes entre 1988 e 2011.
Para os autores do estudo, o contexto socioeconômico exerce forte influência sobre os padrões de atividades físicas e consumo de alimentos do indivíduo. "Não apenas as frutas e vegetais frescos são mais caros do que fast food, mas também as alternativas mais saudáveis são por vezes mais difíceis de serem encontradas em bairros pobres", diz o artigo.
O gráfico da obesidade entre adolescentes americanos de 12 a 17 anos parece ter começado a se estabilizar a partir de meados dos anos 2000. Dados coletados entre 1988 e 1991 apontam para uma taxa de 9,1% de adolescentes obesos nos Estados Unidos. Essa porcentagem pulou para 17% em dados coletados entre 2003 e 2004. Em novo levantamento feito entre 2009 e 2010, a parcela de jovens obesos permaneceu a mesma: 17%.
Entre 2000 e 2010, o consumo de calorias entre meninos de 2 a 19 anos chegou a cair 7%. Entre as meninas, a queda foi de 4% no mesmo período.
Desigualdade
A questão é que esse declínio não está ocorrendo de forma igualitária entre as diferentes classes sociais. Os dados mostram que entre os adolescentes cujos pais concluíram o ensino superior, o nível de obesidade tem declinado. Já entre os adolescentes cujos pais só estudaram até o ensino médio, o nível de obesidade continua subindo.
Segundo os pesquisadores, isso reflete tanto a falta de acesso à alimentação saudável pelos mais pobres quanto a falta de opções e estímulo para atividades físicas dessa população.
Em 2011, por exemplo, 91% dos adolescentes cujos pais têm ensino superior reportaram terem feito ao menos 20 minutos de atividade física contínua nos últimos sete dias. Já entre aqueles cujos pais têm apenas ensino médio essa porcentagem foi de 80,4%.
No Brasil
Para o médico Henrique Lobello, especialista em saúde da família da Santa Casa de São Paulo, essa tendência também pode ser observada no Brasil, apesar de não existirem estudos epidemiológicos focados no tema. Segundo Lobello, quanto mais carente a população, “mais restrições ela tem tanto no acesso à educação que permita distinguir a importância de um estilo de vida saudável, quanto no acesso à alimentação de qualidade e opções de atividades físicas”.
Ele cita que, para lidar com essa vulnerabilidade das classes sociais mais baixas à obesidade, a Santa Casa de São Paulo tem um projeto em que uma equipe de saúde visita escolas públicas durante o intervalo da aula para conversar com os alunos sobre a importância da alimentação saudável e dos exercícios físicos. “A obesidade é multifatorial; tem a ver com fatores culturais, sociais, ambientais e econômicos. Então fazer uma abordagem através da educação infantil é o melhor caminho.”
Segundo Lobello, o projeto, chamado “Move”, foi inspirado no projeto americano “Let’s Move”, criado pela primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama.