No quarto episódio da série “Especial – Legados na Saúde”, o videocast Papo da Saúde recebeu o médico sanitarista Arthur Chioro na sede do SindHosp, em São Paulo. Ministro da Saúde entre 2014 e 2015, durante o governo Dilma Rousseff, o convidado do programa foi entrevistado por Francisco Balestrin, presidente da Fehoesp e do SindHosp, e Ruy Baumer, vice-presidente da ComSaude FIESP. Arthur Chioro falou sobre sua trajetória profissional até se tornar Ministério da Saúde e destacou os desafios políticos ao lidar com a saúde pública no Brasil. A íntegra da entrevista pode ser vista no canal oficial do SindHosp no YouTub, clique aqui para assistir.
Natural de Santos, no Litoral Sul de São Paulo, Arthur Chioro se graduou em Medicina pela Fundação Educacional Serra dos Órgãos, em 1986, com Residência em Medicina Preventiva e Social pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em 1988, antes de se tornar Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Doutor em Ciências pelo Programa de Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ambos em 2011. Como político, ele foi secretário municipal de saúde de São Vicente (1993-1996) e São Bernardo do Campo (2009-2014), além de presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems-SP) por três mandatos e diretor do Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde (2003-2005).
Saúde pública
“Sempre quis trabalhar com a saúde pública. Eu queria ser um sanitarista. Era uma decisão que foi amadurecendo ao longo da minha trajetória. Sempre gostei de clínica. Cheguei a dar plantão em terapia intensiva. Dei plantão minha vida inteira. Sou médico plantonista até hoje na área de controle de intoxicações e mantive sempre um pezinho para não perder a dimensão da clínica”, revelou o entrevistado. “Mas a minha paixão sempre foi a saúde pública e eu fiz uma opção de me especializar na área da saúde, da medicina preventiva, na área da saúde coletiva, na área de política, planejamento e gestão. Então, já no meu R2, queria trabalhar com administração em planejamento de saúde”.
Arthur Chioro teve experiências em secretarias de Saúde de Botucatu, Santos e São Vicente e explicou o que novos secretários terão de fazer para garantir uma boa gestão. “A primeira coisa é entender que ser gestor no município significa assumir uma função que tem uma dupla dimensão. A dimensão política. O secretário representa o prefeito, e representa um projeto político específico”, enfatizou o ex-ministro. “Mas tem uma dimensão indissociável, que é técnica. Ele representa aquele município nas instâncias do SUS, junto a outros secretários, ao Ministério da Saúde e à Câmara de Vereadores. E precisa colocar em prática os princípios constitucionais que o SUS defende. Ou seja, não basta ser um excelente vereador, um ótimo cirurgião, um enfermeiro muito querido na cidade… é preciso compreender toda complexa dinâmica de gestão do Sistema Único de Saúde”.
Regionalização
“Mais de 70% dos municípios têm menos de 20 mil habitantes, ou seja, não conseguem oferecer um cuidado integral a seus moradores”
Arthur Chioro
O médico Arthur Chioro chama a atenção para o fato de que mais de 70% dos municípios têm menos de 20 mil habitantes, ou seja, não conseguem oferecer um cuidado integral a seus moradores. “Então, ser secretário municipal é o tempo inteiro costurar, fazer política com as diferentes instâncias do poder, administrar o conjunto de trabalhadores e trabalhadoras, tanto aqueles que fazem parte da rede básica como os que pertencem à rede hospitalar, ao setor especializado e à vigilância, incluindo a gestão financeira e investimento em capacitação técnica”, ressalta Chioro.
Para o entrevistado do “Papo da Saúde”, o conceito de regionalização ganha força no Brasil, prevendo que o conjunto dos serviços de saúde possa ser expandido para uma área composta por vários municípios e, não, tudo em uma mesma cidade. “É um conceito da Constituição. Não há no mundo um sistema de saúde que garanta tudo num único local. Itália, Reino Unido, França, Portugal, Canadá, países escandinavos… todos estes países trabalham com a dimensão de regionalização, que nem é uma ideia nova”, sustenta Arthur Chioro.