Diretor da FEHOESP orienta sobre gripe H1N1

Busca frenética pela vacina não se justifica, segundo Luiz Fernando Ferrari Neto

Compartilhar artigo

O diretor da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) e vice-presidente do SINDHOSP, Luiz Fernando Ferrari Neto (foto ao lado), que é médico, fala sobre o surto de gripe H1N1 que vem assustando a população do estado de São Paulo nas últimas semanas. Segundo ele, estudos já comprovaram que o vírus não é mais agressivo que nos outros anos, e que estamos preparados – do ponto de vista sanitário – para lidar com o problema. 
 
Confira os principais pontos da entrevista, concedida à equipe de comunicação da FEHOESP:
 
Como o senhor avalia a efetividade da vigilância epidemiológica na detecção da chegada do vírus H1N1 no país?
 
Luiz Fernando: A vigilância epidemiológica dispões de um sistema bastante seguro e ágil para identificar e prever surtos e/ou epidemias, graças a um protocolo muito bem definido de notificações compulsórias frente ao diagnóstico de certas patologias. Dessa forma foi possível antecipar por quase dois meses a chegada do surto epidêmico da gripe imputada ao vírus H1N1.
 
Esse sistema ágil e padronizado de proceder frente a doenças de notificação compulsória nos permite ter uma certa tranquilidade em relação aos Jogos Olímpicos. 
 
Muito embora o sistema de saúde público atravesse uma fase extremamente difícil em nosso país, o trabalho de vigilância epidemiológica permanece preservado. 
 
Por conta do número de casos e de mortes, e da antecipação da chegada do vírus H1N1 – que geralmente aparece no inverno – cogitou-se a hipótese de que o vírus estaria mais resistente. É verdade?
 
LF: Realmente o vírus veio antes, e seus números já estão quatro vezes maior do que o mesmo período do ano passado. Mas estudos genéticos deram conta de que não houve mutação, segundo estudos realizados pelo Instituto Evandro Chagas. O vírus H1N1 que circula agora, em todas as regiões do país, é o mesmo que circulou em 2015. Então a vacina que usamos ano passado continua sendo eficiente para fazer a imunização da população. Também não foi demonstrado, de forma alguma, que o vírus possui alguma capacidade de provocar outras doenças ou de se propagar mais rapidamente entre a população. 
 
É importante ressaltar também que o alto número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (59 no Estado de São Paulo e 72 no país, até 7 de abril de 2016) decorreu em 100% dos casos pela contaminação do vírus H1N1. O que afasta qualquer hipótese da existência de outro vírus. Esta também é uma notícia alvissareira, porque mostra que estamos diante uma doença já conhecida, e não diante de algo que não conhecemos.
 
Outra coisa importante: de todos os casos que foram a óbito, todos apresentavam comorbidades. Isto é, os pacientes já possuíam uma doença de base, como câncer, asma, diabetes etc. Portanto, a população sadia, que não possui doença crônica, pode se sentir mais protegida, e não precisa correr para tomar vacina. Se uma pessoa saudável contrair H1N1, vai passar por ela e em no máximo sete dias deverá ter sua saúde restabelecida. 
 
Também houve muitos relatos de pessoas que não encontraram o Tamiflu – medicamento utilizado para tratar a gripe H1N1 – nas farmácias. Há desabastecimento?
 
LF: O antirretroviral mais conhecido para tratar a H1N1 é o Tamiflu, uma droga fabricada pela Roche. O governo, sabiamente, importou um lote inteiro do medicamento, e o disponibilizou na rede pública, que é distribuído mediante receita médica. 
 
O Tamiflu é um remédio que possui aplicações específicas e que precisa ser usado nas primeiras 48 horas após o surgimento dos sintomas. Não deve ter livre acesso na farmácia, para evitar uso inadequado, e evitar também que as pessoas façam estoque dele em suas casas.
 
Em relação às vacinas, a população ainda tem muitas dúvidas. Como a diferença entre a trivalente e a quadri/tetravalente. Como isso se aplica?
 
A trivalente é a que o Ministério da Saúde tem aplicado há vários anos. Ela tem três cepas. A do vírus H1N1, isolada inicialmente na Califórnia, em 2009. A do vírus H3N2, isolada em Hong Kong em 2014, e a cepa do vírus B, isolada em Bribane, em 2008.
 
Já a quadri ou tetravalente possui, além dessas três cepas, uma quarta variação, do vírus B, de Phuket, de 2013. Esta cepa, em particular, ainda não foi detectada em nosso hemisfério. 
 
Portanto, a corrida pela vacina tetravalente não se justifica e seu custo benefício precisa ser avaliado de maneira cuidadosa. Se ela custar mais caro, por exemplo, não vale a pena. Porque a trivalente já imuniza para os três vírus que circulam em nossa região. 
 
Quando se faz a vacina pela primeira vez, recomenda-se repetir a dose daí a trinta dias, em crianças. 
 
É importante dizer que a vacina não causa gripe e nem outras doenças, mesmo porque a vacina contém apenas parte do vírus. Destacar esta informação é muito importante, porque existe uma crença entre a população de que tomar a vacina causa gripe. E muitas pessoas deixam de se imunizar por conta disso. 
 
Esta pode ser a explicação para esta contaminação mais exacerbada que estamos vivendo agora?
 
LF: Uma das hipóteses para a contaminação aumentada é justamente o fato de as pessoas terem deixado de se vacinar em 2015, a despeito de ampla campanha feita pelo Ministério da Saúde. O calendário foi inclusive estendido, e mesmo assim não se conseguiu atingir a meta. 
 
Lembrando que estudos epidemiológicos da gripe mostram que a vacina proporciona uma proteção fugaz. Isto é: a imunização começa em quatro a seis semanas depois da aplicação da dose, quando haverá uma

Artigos Relacionados...

Curta nossa página

Siga nas mídias sociais

Mais recentes

Receba conteúdo exclusivo

Assine nossa newsletter

Prometemos nunca enviar spam.

error: Conteúdo protegido
Scroll to Top