Na véspera do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp 2023), o SindHosp promoveu em sua sede o “Fórum Saúde & Gestão – Sustentabilidade da Saúde Brasileira”, que teve como tema central uma pergunta desafiadora. Durante cerca de quatro horas, os participantes de duas palestras, um debate e um painel compartilharam informações e opiniões em torno de uma questão estratégica para o futuro do país: existem caminhos reais para a sustentabilidade da saúde brasileira? Apesar dos grandes desafios, o evento mostrou que, sim, existem caminhos promissores para incrementar a assistência médica e hospitalar nacional. A íntegra do fórum SindHosp Pré-Conahp 2023, que aconteceu no dia 17 de outubro, pode ser vista por aqui.
Futuro a construir
Na palestra magna, intitulada “Caminhos para a Sustentabilidade do Sistema de Saúde Brasileiro” e mediada pelo presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, o diretor executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Antônio Britto Filho, lembrou que o atual desenho do sistema de saúde do país remonta à Constituição de 1988, destacando que o modelo vem apresentando sinais de esgotamento, mesmo tendo sido bem-sucedido. Para Britto, a crise na área da saúde deixou de ser conjuntural e passou a ser estrutural, sobretudo do ponto de vista da relação entre custos e financiamentos, precisando de reforma. “Na área da saúde, temos um passado a comemorar, um presente a corrigir e um futuro a construir”, resumiu o ex-ministro e ex-governador, que ficou famoso como porta-voz do então presidente Tancredo Neves.
“O sistema precisa incentivar prevenção e promoção da saúde, os dois ‘pês’, como gosta de dizer o Balestrin. Temos de privilegiar o investimento público em atenção primária, em equipes de agentes de saúde e médicos da família, com apoio das faculdades de medicina, que precisam formar mais médicos generalistas. Hoje, ao contrário do que deveria ser, o que se valoriza são apenas construções físicas, como novas alas e leitos novos de UTI”, defendeu o diretor executivo da Anahp. “Além disso, o sistema de dados de saúde no Brasil é disperso e disfuncional. Não faltam dados, mas é preciso organizar e fazer uma melhor gestão dos dados”.
Os dados da saúde
No segundo painel dentro do fórum organizado pelo SindHosp, Angelica Carvalho, diretora-adjunta de Desenvolvimento Setorial na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Eduardo Cordioli, diretor técnico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana, participaram do debate “Tendências para o Futuro no Universo dos Dados e Tecnologia”, também mediado por Francisco Balestrin.
“Precisamos de reformas. O Brasil está envelhecendo. E dependemos da qualidade dos dados de saúde para mudar com segurança. Dentro da Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), estamos construindo a Rede Nacional de Dados da Saúde (RNS), que nos permitirá metrificar e analisar os indicadores de resultado e desempenho, garantindo transparência ao processo e facilitando a fiscalização por parte do cidadão”, destacou Angélica Carvalho, da ANS.
O médico Eduardo Cordioli, do Grupo Santa Joana, acredita que as soluções digitais são uma questão de sobrevivência para as instituições de saúde. Ele defende que a melhor sala de espera para um paciente é a sala da casa dele, resolvendo o que for possível por celular ou computador, via telemedicina, de maneira rápida e confiável. “A Inteligência Artificial (IA) já vem sendo usada com sucesso na auditoria de contas, identificando que código liberar. No futuro, poderá ser muito útil na interação com idosos. Para casos específicos, de pacientes com doenças crônicas, existe uma expectativa bastante otimista de que a IA venha a permitir que o médico realize em 15 minutos uma consulta segura e com qualidade”, ponderou Cordioli. “Para as instituições, graças ao 5G, a saúde digital não vai exigir tanto investimento em tecnologia, tudo pode estar na nuvem. Além disso, é preciso que se trabalhe com arquiteturas abertas, os dados têm de ser públicos. Quem os mantiver fechados estará fora do mercado”.
Eficiência e sustentabilidade
Dando sequência ao fórum, a diretora executiva do SindHosp, Larissa Eloi, mediou o painel “Eficiência e Sustentabilidade na Gestão da Saúde”, que teve como convidados Fabrícia Loro, diretora assistencial de Operações Hospitalares na Rede D’Or São Luiz, Marceli Serrano Nascimento, gerente médica executiva de Cuidados Integrados e Telessaúde da NAV-DASA, e Renato Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (ABRAMGE).
O presidente da ABRAMGE acredita que há um “descasamento” entre expectativa e entrega no ambiente da saúde, onde se mistura saúde suplementar com saúde fundamental, ou seja, aplica-se a lógica da integridade dentro do setor privado. “Mas criamos um sistema que entrega, mesmo com todas as questões que se possam apontar. Gosto da palavra eficiência, que é diferente de eficácia. Eficiência é fazer o melhor possível com o que se tem. Eficiência é uma mentalidade, buscando redução de desperdício”, ponderou Cassarotti.
“As tendências na área de saúde passam pelo cuidado adequado no momento certo, com uso das informações adequadas na hora correta”, acrescentou Fabrícia Loro, da Rede D’Or São Luiz. Já Marceli Serrano Nascimento, da NAV-DASA, defendeu que a eficiência e a sustentabilidade dependem de uma jornada de cuidado integrada, com o paciente no centro do cuidado e análise preditiva de dados. “Tenho de saber como navego de forma pertinente com um paciente pelo sistema, realizando os exames necessários sem desperdício, melhorando desfechos clínicos e reduzindo a sinistralidade”, sustentou Nascimento.
A jornada do paciente
Na palestra de encerramento, Kelly Rodrigues, CEO da Patient Centricity Consulting, abordou o tema “Experiência do Paciente – Como criar, implementar e gerir bem um Programa de Excelência em Experiência de Pacientes?”, com moderação de Nathália Nunes, fundadora da consultoria Arta. Ela deu pistas de como desenvolver ações, processos e iniciativas de melhoria pelo prisma do paciente, olhando a jornada completa dele para buscar a excelência no atendimento, dos pontos de contato iniciais até a assistência à saúde propriamente dita.
Segundo Kelly Rodrigues, o que o paciente quer vai depender de cada momento e de cada pessoa, incluindo respeito, agilidade, empatia, proximidade e personalização. “As instituições de saúde precisam pensar em como preparar as pessoas para que haja uma ‘cocriação’ plena de soluções, considerando que temos aspectos humanos dos dois lados, tanto de quem assiste como do paciente e seus acompanhantes. É preciso mudar a cultura organizacional, e são muitos detalhes para se entregar um bom ‘espetáculo’. Temos de pensar no palco, que são os médicos e enfermeiros na linha de frente, no backstage, que é o pessoal do administrativo, e no público, que é o paciente e seus entes próximos”.