Fórum discute futuro da saúde no CONAHP 2024

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A FESAÚDE-SP e o SindHosp promoveram durante o Congresso Nacional de Hospitais Privados de 2024 o Fórum Saúde & Gestão. Foram palestras e debates que abordaram alguns dos temas mais relevantes em discussão dentro da comunidade da saúde, no Brasil e no mundo. Das soluções digitais, passando pelo uso de dados e a inteligência artificial, até a complexidade e os desafios que estão postos ao sistema brasileiro de saúde, incluindo a rede privada de hospitais, clínicas e laboratórios. “Temos mudanças importantes em curso na nossa área da saúde e precisamos discuti-las”, destacou na abertura do evento Francisco Balestrin, presidente da FESAÚDE-SP e do SindHosp.

Soluções digitais

Na palestra de abertura, Jennifer Schulze, líder do Programa Global de Saúde Digital da KPMG Internacional, e Leonardo A. Giusti, sócio, líder de C&Ops e IGH da KPMG no Brasil, trataram do tema “Transformação da Saúde com Soluções Digitais” na esteira do lançamento do e-book “Uso de Dados e a Inteligência Artificial (IA) na Saude”. Clique aqui e baixe a publicação eletrônica.

Para Jenifer Schulze, a transformação é uma jornada e o que precisamos fazer é uma transição do cuidado. “A tecnologia não é a solução para tudo, apenas parte do processo, e os robôs não vão assumir tudo”, enfatizou a palestrante. “Entre as principais mudanças na saúde estão o foco não mais na doença, mas no bem-estar e na promoção e na prevenção da saúde, a tomada de decisão por múltiplos médicos, a transição de uma medicina genérica para uma personalizada e o uso das soluções digitais, num primeiro momento para evitar prejuízos com altas tardias, por exemplo. Por isso, para mergulharmos mais fundo na IA, temos de resolver questões como prontuário eletrônico e plataforma na nuvem”.

Leonardo Giusti concorda que a tecnologia digital não chega para substituir a mão de obra humana. “O que estamos assistindo é ao uso da tecnologia para a realização de tarefas ordinárias, administrativas, repetitivas, para liberar o corpo clínico para cuidar da jornada do paciente, reduzindo custos e aumentando a eficiência”, chamou a atenção Giusti. “Na KPMG, forneci meus dados para serem rodados numa IA, que sugeriu exames e fez recomendações. Ao serem submetidos a uma revisão humana, descobrimos resultados bastante assertivos. O médico me disse que recomendaria 90% do que a máquina falou”. Segundo ele, o desafio talvez esteja mais na transformação cultural de adaptação das pessoas do que no desafio técnico propriamente dito.

IA em debate

Diante do lançamento do e-book “Uso de dados e IA na Saúde”, o Fórum Saúde & Gestão propôs um debate e reuniu especialistas para fornecer uma compreensão mais abrangente de como a IA pode ser integrada nas rotinas de trabalho, destacando os impactos positivos na gestão hospitalar, no atendimento ao paciente e na pesquisa médica.

Participaram do debate Vivian Jonke, cardiologista e docente de MBA Gestão Executiva, Negócios e Health Tech, com o ponto de vista operacional; Giovanni Guido Cerri, presidente do ICOS, com a perspectiva da regulamentação; Rodrigo Gosling, Sales Consulting Senior Director da Oracle, da área de TI, e João Carlos de Campos Guerra, vice-presidente do Conselho SindHosp, com o olhar da assistência. Moderou o debate Bianca Simon, gerente Healthcare&Life Sciences na KPMG Brasil.

Para Rodrigo Gosling, da Oracle, a pandemia acelerou a transformação digital, mas a jornada ainda requer coleta e uso de dados, com curadoria de dados, de forma responsável e inteligente. “Precisa haver coordenação entre os atores, incluindo o paciente, o hospital, os prestadores de serviço, a fonte pagadora e assim por diante. Tudo isso passa por transformação cultural, custo, coordenação e comprovação de benefícios”, apontou o convidado.

A médica Vivian Jonke falou sobre a IA nas operações hospitalares. Segundo ela, há inúmeras oportunidades, ainda que a resistência cultural das pessoas seja uma barreira importante. “Estamos falando de eficiência e excelência operacional, e segurança paciente. De tomada de decisão baseada em dados, suporte ao atendimento, manutenção preditiva, redução de custo em energia, entre outras transformações”, elencou a cardiologista.

O hematologista João Guerra abordou o tema do ponto de vista do paciente, da jornada assistencial. “Fizemos experimentos na alta complexidade, com software monitorando os pacientes, e tivemos resultados promissores, com queda de mortalidade de 85% e redução média de internação de 25 dias, além de diminuição de transfusões. No fim, há uma economia sistêmica ao se evitar complicações”, detalhou Guerra.

O radiologista Giovanni Guido Cerri elogiou os avanços tecnológicos, mas lembrou que o aspecto mais preocupante neste momento é a questão regulatória. “A tecnologia digital e a IA ‘se venderam’ mal até aqui, pois são vistas como algo ameaçador. Quantas vezes ouvi que meu trabalho ia desaparecer por causa da IA. E não é isso! A IA é e será cada vez mais uma ferramenta fundamental para o profissional da saúde. Acho que não temos de ter pressa para regular a IA, é difícil regular algo em evolução, e isso pode inibir a inovação”, sustentou Cerri.

Saúde, complexidade e glosa

Com mais uma convidada internacional, a segunda palestra do dia tratou do tema “Navegando na Complexidade – Implicações no contexto da Saúde”. A consultora sul-africana Sonja Blignaut, co-founder and managing director Complexity Fit, e Marcelo Cardoso, fundador da Chie, falaram sobre o assunto.

Trabalhando com a Teoria da Complexidade há anos, Sonja Blignaut diz que os humanos não gostam de complexidade ou ambiguidade. “Queremos vilões e heróis claros, amamos ter certeza. Queremos um contexto previsível, com clareza, certeza, controle e conforto. Mas não podemos ignorar a complexidade, levando em conta que tudo está conectado a tudo. A complexidade não é um problema, é a vida, e temos de aprender como lidar com ela”.

Segundo ela, em um ecossistema de saúde, por exemplo, para poder inovar, enfrentar os desafios do futuro, é preciso que haja um espaço adaptativo, onde se possa fracassar sem grandes riscos. “Temos de criar condições na busca por novos caminhos, como é o caso da relação com as máquinas inteligentes. Precisamos saber honestamente onde estamos e também de um horizonte para onde vamos. Entender o que é inegociável e sermos coerentes com o que não queremos. Feito isso, precisamos de um ambiente seguro para fracassar, além de dimensionar os recursos financeiros de que precisamos, sempre trabalhando com feedbacks, porque as coisas mudam”, detalhou Sonja Blignaut. “Precisamos entender que não estamos presos no trânsito, mas que somos o trânsito, ou seja, somos parte do problema que queremos enfrentar”.  

Marcelo Cardoso chamou a atenção para o impasse em torno das glosas para exemplificar a questão da complexidade. “Temos de um lado um exército trabalhando para que haja a glosa e, do outro, um exército para que não haja. No fim, todos se comportam para maximizar resultados, pagar por processos, e temos menos saúde, o que quebra o sistema. A solução é buscarmos mecanismo de incentivo, para equilibrar o sistema. Quando uma baleia e uma árvore valerem mais vivos, ganhamos. Na saúde, não podemos valorizar aumento de custo porque isso aumenta o PIB. Tem de ser o contrário, temos de ter mais saúde com menor custo”.

O sistema brasileiro

No último debate de dia, três convidados especiais discutiram “A Complexidade do Sistema de Saúde Brasileiro”. Participaram da roda o médico Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde do Brasil, Jean Gorinchteyn, diretor técnico-científico da FESAÚDE-SP e ex-secretário da Saúde de São Paulo, e Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, moderados por Francisco Balestrin, presidente do Conselho da FESAÚDE-SP e do SindHosp.

O ex-ministro Henrique Mandetta abriu o debate. Ele lembrou que nenhum país tem um sistema como o SUS. “São 340 mil agentes de saúde, 100 mil a mais do que as Forças Armadas, com comando único. A solução tem de ser pelo SUS, mas existem desafios. Tem o desafio político, uma vez que a política se sobrepõe à lógica, é sempre pragmática. Tem a questão dos planos de saúde, cujos preços sobem enquanto a renda da população cai. A digitalização continua sendo um desafio. Em compensação, temos o recorde mundial de pessoas vacinadas em um dia, ninguém vacina como a gente. A situação é complexa, mas há caminhos”.

O sanitarista Adriano Massuda reitera que o Brasil tem o melhor Programa Nacional de Imunização (PNI) do mundo. Também chama a atenção para a universalidade e a integralidade do SUS. “Além das vacinas, veja a eficiência em questões como transplantes e medicamento gratuito para portadores de HIV, assim como nossos conselhos, bastante sofisticados. Mas fizemos uma reforma parcial, incompleta, do sistema. Há uma contradição no financiamento do sistema. O investimento no SUS tem de ser de pelo menos 6% do PIB e os recursos precisam ser alocados no local certo, já que as emendas parlamentares e os recursos judiciais drenam a verba”. Segundo o secretário, o primeiro passo para começar a resolver a questão da saúde é reduzir as filas. “Uma discussão da equipe de atenção com especialista já resolve dois terços dos casos, eis uma ótima aplicação da telessaúde”.

O também médico Jean Gorinchteyn concorda que o “cobertor é curto”. “Mas temos de entender que as pessoas vivem no município, daí a importância de as prefeituras atuarem nas agendas prioritárias que apontamos em nosso ‘Guia de Ações Municípios Saudáveis’, destacando doenças crônicas, saúde mental, envelhecimento saudável, controle de epidemias e transformação digital. Para isso, precisamos de recursos, valorizando esforços como o SUS Paulista, para dar assistência à saúde”, pontuou o ex-secretário. Para baixar o Guia de Ações Municípios Saudáveis, clique aqui.

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