Economista e contador com pós-graduação em Finanças, João Luis Romitelli atua na área da saúde desde 1983. Começou a carreira como auditor na Arthur Andersen, depois atuou no setor de agronegócio até ser convidado a ocupar cargo de direção no Grupo São Francisco, de Ribeirão Preto, em 1993, onde desenvolveu o sistema de custos no plano e estabelecimentos de saúde do Grupo. Romitelli também trabalhou por anos ao lado do professor Afonso Matos, na Planisa, e hoje dirige a própria empresa: a Teorema Contabilidade, Auditoria e Assessoria.
Nesta entrevista exclusiva, Romitelli assegura que as empresas que estiverem despreparadas para os desafios do mercado de saúde terão problemas de sobrevivência. Confira essa e muitas outras notícias na edição de junho da Revista FEHOESP 360.
FEHOESP 360: Como foi sua entrada na área da Saúde?
João Luis Romitelli: Fui escolhido. Estava trabalhando em Goiânia, entre 1989 e 1993, na área de agricultura e fui convidado pelo Grupo São Francisco para trabalhar em Ribeirão Preto. O André Pessoa, filho de um dos donos, que trabalhou comigo na Arthur Andersen, me convidou para ir para Ribeirão e, assim, começou minha história no setor. Fui durante 11 anos diretor Financeiro do Grupo. Montei a Teorema e começamos a prestar serviços para o mercado, principalmente quando começou o processo de criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Aos poucos, em comum acordo com o São Francisco, fui me desligando do Grupo e passei a atuar em assessoria e consultoria para planos de saúde e hospitais.
360: Com a sua experiência em saúde, como o sr. vê o mercado atualmente e quais os principais desafios?
JLR: Trata-se de um mercado grande, que propicia muitas oportunidades de trabalho. Analisando o sistema público, temos o Sistema Único de Saúde (SUS) que, teoricamente, é muito bem concebido. A filosofia SUS é quase perfeita, mas o sistema carece de recursos. E temos um sistema privado que vive um grande processo de concentração, tanto na área de operadoras de planos de saúde, quanto de hospitais e serviços de diagnóstico. Recentemente, a Hapvida, operadora que atuava no Nordeste, comprou o Grupo São Francisco por R$ 5 bilhões. A Hapvida enxergou nesse negócio a oportunidade de crescer em outra região do país. Este é apenas um exemplo de como esse mercado está se movimentando.
360: Na sua opinião, quais os impactos da consolidação para os prestadores de serviços?
JLR: Esse processo de concentração certamente vai causar impactos entre os associados da FEHOESP, como clínicas de imagem e laboratórios de análises clínicas, segmentos que estão passando por uma grande concentração. Quem for pequeno e despreparado para enfrentar essa nova realidade vai ter problemas de sobrevivência.
"Quem for pequeno e estiver despreparado para enfrentar essa nova realidade de concentração de mercado, vai ter problemas de sobrevivência".
360: Quando o sr. fala “despreparado”, o que exatamente quer dizer?
JLR: Poucas empresas hoje realmente conhecem seus custos. É assustador. Ainda é baixo o número, e quando operadoras compram serviços dessas empresas que não conhecem seus próprios custos, na hora de negociar uma tabela fica difícil, porque do outro lado está uma empresa grande, com executivos que sabem negociar e também sabem quanto custa cada procedimento. Para um estabelecimento de saúde que não sabe quanto custa seus exames, por exemplo, a chance de fazer um mau negócio é enorme. Nesse processo de negociar mal, associado à concentração, a chance de não sobreviver no mercado é grande. Por isso, é fundamental que essas empresas, independentemente do seu tamanho, conheçam seus custos e organizem suas informações financeiras. É um processo que não acontece do dia para a noite, mas tem que começar.
"Se um estabelecimento não sabe o preço dos exames, a chance de fazer um mau negócio é enorme. É fundamental conhecer os custos".
360: Você colaborou na fórmula e concepção do Índice de Inflação dos Serviços de Saúde FEHOESP (IISSF). Qual a relevância desse dado para a gestão das empresas?
JLR: Contribuí na revisão do índice que já existia e era divulgado pelo SINDHOSP há alguns anos. Recentemente fizemos uma atualização. Este é um índice que parte da estrutura de custos da saúde. Serviços do setor têm como principal custo a mão de obra, depois materiais e medicamentos e, por fim, serviços gerais, como limpeza, segurança, lavanderia, manutenção, entre outros. Passamos a atualizar cada item com indicadores inflacionários conhecidos, como o IGPM para contratos; INPC para mão de obra; FIPE Saúde para materiais e medicamentos e assim sucessivamente. A divulgação acontece mensalmente pela FEHOESP, que conta com profissionais que calculam esse índice.
360: O IISSF é importante na hora de negociar com a operadora, por exemplo?
JLR: Para quem não conhece sua estrutura de custos, o índice é uma maneira de ver como estão evoluindo os custos do mercado. No mínimo, o gestor tem que ter uma noção
de como essa estrutura de custos está evoluindo. É um apoio para que a empresa, além de usar esse índice como parâmetro, possa ter ferramentas de negociação mais eficazes.
360: Em breve, os associados e contribuintes dos sindicatos ligados à FEHOESP poderão solicitar o cálculo do seu próprio Índice de Inflação de Serviços de Saúde Personalizado. Fale um pouco sobre os benefícios desse índice.
JLR: Sim, a FEHOESP disponibilizará esse serviço em breve e trata- -se de um serviço muito importante para as empresas. Por exemplo, se a clínica A tem 70% de custos
com mão de obra, 20% em materiais e medicamentos e 10% em outros custos; e a clínica B tem 40% de seus custos com mão de obra, o impacto da inflação para cada uma delas é diferente. Para que possamos apoiar o estabelecimento de saúde com informa&