SindHosp entrevista os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo

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O SindHosp vem promovendo nas últimas semanas uma série de entrevistas com os principais pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. O presidente Francisco Balestrin tem recebido representantes de diferentes partidos na sede do Sindicato, em São Paulo, onde se dá a gravação do videocast “Papo da Saúde”. A iniciativa até repercutiu na imprensa. A jornalista Mônica Bergamo mencionou os debates em sua coluna da Folha de São Paulo. 

Acesse: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2023/11/sindhosp-debate-saude-publica-com-pre-candidatos-a-prefeitura-de-sp.shtml

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) inaugurou o ciclo de conversas. Depois, foi a vez do também parlamentar Guilherme Boulos (PSOL). Na sequência, Balestrin entrevistou os congressistas Kim Kataguiri (UNIÃO) e Ricardo Salles (PL) e a economista Marina Helena (NOVO). As íntegras dos cinco primeiros bate-papos já estão disponíveis no canal do SindHosp no YouTube.

Confira a temporada completa: https://www.youtube.com/@SindHospOficial

Francisco Balestrin ainda vai receber o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) . Com essa iniciativa, o SindHosp promove um debate democrático em torno dos desafios políticos do novo prefeito de São Paulo, com destaque para o tema da saúde. 


Políticos no Papo da Saúde


Tabata Amaral

Nascida e criada na periferia da cidade de São Paulo, filha de mãe baiana e pai paraibano, Tabata Amaral veio de uma família muito pobre, com problemas estruturais profundos, que nunca teve condições de arcar com os custos de uma escola privada. Apesar das adversidades, estudou muito, formou-se com bolsa na Universidade de Harvard e se tornou a segunda mulher mais votada do Brasil nas eleições para a Câmara dos Deputados.

Hoje, aos 29 anos de idade, está em seu segundo mandato no Congresso Nacional, quer se tonar prefeita da capital paulista e vem recebendo elogios públicos até do vice-presidente da República, Geraldo Alckimin. Com muitas histórias para contar, Tabata Amaral conversou com Francisco Balestrin e mostrou por que virou um fenômeno político. “Acredito em duas coisas, no estudo e no diálogo”, resumiu Tabata Amaral. “A desigualdade de esquerda e direita vem deixando muitas rachaduras no nosso país. Mas existe outra desigualdade, que me chama mais atenção, e dói mais. De um lado, temos um povo que nasce sem oportunidades, sem acesso a serviços básicos, como a saúde; de outro, pessoas que podem sonhar… que podem ser o que quiserem… que podem conquistar o mundo”.

Na conversa, Tabata Amaral destacou três passagens que moldaram sua vida. Segundo ela, a primeira foi participar da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), que a conduziu para uma escola de elite. O segundo momento foi a perda do pai de criação para o crack. “Ele cometeu suicídio quatro dias depois de minha aprovação em Harvard. Na época, não tínhamos a compreensão plena de que, além de dependente químico, ele era doente, bipolar. Diante desse episódio, acabei mudando meu curso nos Estados Unidos de Astrofísica para Ciência Política”. A terceira passagem se deu entre os anos de 2017 e 2018, quando “se cansou” das promessas de políticos e decidiu entrar na vida pública.

A convidada do Papo da Saúde gosta de dizer que o que a levou para a política foi o confronto, a raiva, o inconformismo em torno da situação da educação. E conhece a força de sua história. “Acho que o que sempre quis é que o filho do pobre tenha as mesmas oportunidades do filho do rico. Quero que minha história não seja uma exceção”.

Guilherme Boulos

Filho de pais infectologistas, Guilherme Boulos nasceu em uma família de classe média de São Paulo e convive com o tema saúde desde a infância. Apesar de sua origem, o hoje deputado federal deu início ao que chama de “militância social” ainda jovem, trabalhando na alfabetização de moradores da favela do Flamengo, na capital paulista. Aos 18 anos de idade, foi viver em ocupações e permaneceu atuando durante pelo menos 20 anos no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Também estudou e se formou em Filosofia na Universidade de São Paulo, além de obter Especialização em Psicologia Clínica e Mestrado em Psiquiatria, ambos na Faculdade de Medicina da USP. 

Após ingressar em um partido político, o PSOL, Boulos já foi candidato à Presidência da República e disputou o segundo turno das últimas eleições municipais de São Paulo. Politicamente próximo do presidente Lula, ele acredita que a luta por moradia é também uma luta por saúde. “A casa é base da dignidade, é a base da saúde. A política é o instrumento para poder melhorar a vida das pessoas, transformar a sociedade e combater as desigualdades tristes e inaceitáveis do nosso país”, acredita Boulos.

Para Guilherme Boulos, a cidade precisa olhar para as mais de 50 mil pessoas sem moradia e recuperar a empatia por quem vive na rua. “Temos uma rotina bruta, uma crosta de indiferença, apesar de São Paulo ser a cidade mais rica da América Latina. Como podemos ser tão ricos e desiguais, com tanta gente jogada na rua, com crianças revirando lixo para comer? Não podemos naturalizar a barbárie, temos de reagir, algo que seria bom para todos, porque aumentaria a segurança e criaria melhores condições de convivência”, disse o parlamentar no bate-papo com Francisco Balestrin, do SindHosp.

Segundo ele, há dados que mostram que a expectativa de vida em São Paulo sobe 20 anos de acordo com o CEP onde a pessoa mora. “Em bairros nobres, a expectativa de vida supera os 80 anos de idade enquanto no extremo leste da cidade não chega aos 60 anos. Precisamos de mais emprego, mais infraestrutura e mais serviços públicos e privados em regiões periféricas para que as pessoas não tenham de atravessar a cidade para trabalhar, perdendo duas horas no transporte público”, sustenta Boulos.

Kim Kataguiri

Neto de imigrantes japoneses e filho de mãe nordestina, Kim Kataguiri cresceu em São Paulo, mas, durante a infância, sempre viajava para Santa Isabel e Belém, no Pará. Ele fala com orgulho dos avós, que vieram para o Brasil fugindo da fome no Japão e criaram os filhos com dificuldade, trabalhando na roça ou dirigindo caminhão. Também lembra com carinho do empenho da mãe, que teve diferentes profissões, desde garçonete e massoterapeuta até vendedora de rua e servidora pública em creche.

O hoje deputado federal reconhece o esforço da família para que pudesse estudar. Kim se tornou programador e queria ser designer de videogame, mas logo migrou para Economia e, depois, Direito, ingressando no Instituto de Direito Público. Apesar da formação acadêmica, ele ficou famosos como influenciador digital e fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), insuflando os protestos de rua que levaram ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff e à eleição de Jair Bolsonaro. “O intuito era difundir ideais liberais, principalmente entre pessoas mais jovens, nas redes sociais, quebrando o monopólio que as esquerdas tinham sobre a juventude, sobre os movimentos de rua… e passamos a organizar manifestações”, contou Kataguiri, que acabou se elegendo parlamentar em 2018.

Para Kim Kataguiri, não existe uma contradição entre os conceitos liberais e as preocupações sociais. “O Liberalismo nasceu para combater privilégios e se debruça em soluções técnicas de combate à pobreza. O principal papel do poder público é contribuir para a erradicação da miséria. Em São Paulo, temos 52 mil pessoas morando nas ruas e 370 mil pessoas em moradias precárias, muitas vezes em lugares sem regularização fundiária”.

Para o pré-candidato, um dos grandes problemas da cidade é a falta de regularização dos terrenos, dificultando a construção de creches e unidades de saúde e pavimentação de ruas, sobretudo em favelas. Além disso, há regiões com milhares de moradores e raríssimos estabelecimentos comerciais registrados formalmente, favorecendo a corrupção de fiscais. Kim também é um crítico da atuação do Estado. “Os impostos aumentam a desigualdade social. O Estado tira do pobre e dá para o rico. As políticas públicas liberais foram as que mais enriqueceram os pobres, investindo na educação da primeira infância, como fizeram países do sul asiático, que eram mais pobres do que o Brasil há 20 ou 30 anos”.

Marina Helena

A pré-candidata do Novo para as eleições municipais de São Paulo em 2024 nasceu em Brasília e se mudou ainda criança para a periferia de São Luís, a capital do Maranhão, onde viveu uma realidade bem diferente da que conhece hoje, de muita pobreza. Faltava luz e água, e Marina Helena tinha de carregar baldes de cima para baixo, sempre cuidando dos irmãos menores. Com 13 anos de idade, sofreu um abuso e fugiu de casa, voltando ao Distrito Federal para morar com o pai. “Ali as portas se abriram. Tive acesso a uma educação de qualidade, estudei muito, trabalhei muito. Vim para São Paulo, onde trabalhei no mercado financeiro e trouxe minha família”, revela a hoje economista.

Marina Helena teve uma carreira de sucesso, muito além do que poderia imaginar.  Foi CEO do think tank Instituto Millenium, fundadora do movimento Brasil Sem Privilégios e gestora em instituições como Itaú, Bradesco e Bozano Investimentos. Na política, foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia na gestão de Paulo Guedes e candidata a vice-prefeita na chapa do Novo em 2020, tendo redigido o plano de governo, antes de receber mais de 50 mil votos para deputada federal e se tornar suplente. “Quando recebi o convite para me tornar pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, descobri que estava grávida. Ao discutir o assunto com o partido, eles me perguntaram: ‘E daí?’. Adorei essa pergunta. Quero governar uma cidade onde meus filhos tenham orgulhos de viver”, revela a economista, que tem uma filha de sete anos e vai ter o segundo, um menino, no ano que vem.

Aos 43 anos de idade, Marina Helena demonstra ceticismo em relação às soluções apresentadas ao país nas últimas décadas. “Desde que nasci, o Brasil praticamente não cresceu. Nossa renda média subiu pouco mais de 0,5% ao ano. Enquanto isso, o mundo dobrou sua renda média em 30 anos, ficamos muito para trás. Isso tem a ver com gestão pública”, argumenta a economista. Para ela, há uma disfunção nos gastos públicos. “Gastamos praticamente 40% da riqueza que produzimos, um dos maiores gastos públicos do mundo, e isso não se reflete na vida do cidadão”. 

Marina Helena se queixa que o Brasil é um dos piores países do mundo em termos de criminalidade, saúde pública e educação. “Os problemas do país são muito conhecidos. Temos técnicos incríveis capazes de apontá-los e encontrar soluções. Mas os políticos conseguem, com uma vírgula, mudar tudo. Por isso precisamos mudar as pessoas que têm a caneta na mão”, contesta a pré-candidata. “A segurança pública é a base da função do Estado, que surgiu para evitar que os mais fortes subjugassem os mais fracos. E São Paulo gasta menos de 1% do que arrecada com segurança. O governo se mete em tantas empresas e frentes que mal consegue fazer o essencial, com um agravante: metade de tudo o que se arrecada se destina para os 20% mais ricos da população e 5% vai para os 20% mais pobres”.

Ricardo Salles

Filho de uma família com gerações de advogados, Ricardo Salles nasceu e cresceu na capital paulista. Seguindo a carreira de seus antepassados, formou-se em Direito na tradicional Universidade Presbiteriana Mackenzie, fez pós-graduações em Portugal, uma em Coimbra e outra em Lisboa, e estudo Administração na Faculdade Getúlio Vargas. Hoje, aos 48 anos de idade, ele quer se tornar prefeito da cidade de São Paulo e espera contar com o apoio da chamada “nova direita”, que ajudou a criar.

A carreira política de Ricardo Salles começou em 2006, quando fundou um grupo assumidamente de direita, o “Endireita Brasil”, no auge da popularidade do governo Lula. “Na época, dizer-se de direita era praticamente uma heresia. Havia um patrulhamento ideológico poderoso contrário aos ideais de direita. Enfrentamos a situação e criamos uma entidade liberal na economia e conservadora nas questões de costume”, recordou-se o hoje deputado federal do PL a Francisco Balestrin.

Desde então, a trajetória de Ricardo Salles manteve o mote de sua primeira campanha, para deputado estadual, em São Paulo: “Por uma nova direita”.  Ele passou por três partidos, começando no PFL (depois DEM), migrando para o Novo e, finalmente, filiando-se à sua atual legenda, o PL. Com votações expressivas para a Assembleia Legislativa paulista (Alesp), tornou-se secretário Particular e depois do Meio Ambiente do então governador Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente. Em seguida, assumiu como ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro e acabou sendo o quinto deputado federal mais votado do país em 2022. Para São Paulo, o pré-candidato Ricardo Salles defende um choque de gestão, inspirado no “Tolerância Zero”, de Nova York. “São Paulo é uma cidade dinâmica, trabalhadora, cosmopolita, mas faltam lei e ordem. Somos dominados por máfias, que controlam quase tudo, desde o transporte e o lixo até a iluminação e o asfalto. Precisamos enfrentar a corrupção, a ineficiência e o tráfico de influências, começando pela máquina pública, com apoio do poder judiciário, e depois trazer para a cidade o que de melhor vem sendo feito mundo afora”, sustentou o político, que defende a conversão da guarda municipal em polícia e a internação compulsória de dependentes de drogas em condição de rua com investimento massivo em um grande centro de saúde. “Vivemos uma epidemia de crack, e medidas efetivas têm seu ônus”.      

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Todos os meses, o SindHosp convida experts de diversos segmentos para um bate-papo em sua sede sobre temas que impactam a saúde, trazendo reflexões e visões diversificada. Inscreva-se em nosso canal e seja notificado sempre que publicarmos um novo Papo: https://www.youtube.com/@SindHospOficial

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