Partos não valem o suficiente para pagar as contas de hospitais

Hospitais buscam investir em áreas médicas mais lucrativas

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As futuras mamães paulistas não poderão mais escolher dar à luz no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, e no Stella Maris, em Guarulhos. Ambas as instituições anunciaram que vão substituir a maternidade pela ampliação de outras especialidades médicas, especialmente procedimentos de alta complexidade e, consequentemente, maior rentabilidade.
 
Para o obstetra César Eduardo Fernandes, diretor científico da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo), “os hospitais não podem ficar com as contas no vermelho, mas acima de tudo são prestadores de serviços e precisam continuar atendendo a demanda da população”.
 
— Para os hospitais, compensa mais ter vagas para pacientes de alta complexidade, como o câncer, do que investir em leitos para maternidade, que são menos lucrativos. Dessa forma, os gestores dos hospitais não vêm mais atrativos em manter a maternidade.
 
Desiré Carlos Callegari, do CFM (Conselho Federal de Medicina), concorda com o colega e acrescenta que “como o custo da maternidade é muito alto e os convênios remuneram mal o serviço, a conta não fecha”.
 
—Os honorários do médico e os custos de maternidade precisam ser remunerados adequadamente para não haver desequilíbrio nas contas. Como a realidade atual não é essa, possivelmente outras maternidades vão seguir a mesma trajetória.
 
As instituições alegam que a população brasileira está envelhecendo e que serão necessários mais leitos para atender esse público. No entanto, Fernandes rebate a justificativa.
 
— Acho que criar espaço para esse novo panorama é muito sensato e importante, mas não consigo aceitar que para isso tenham que fechar as maternidades.
 
Nos últimos cinco anos, vários hospitais investiram na área de Oncologia porque é um “serviço que está em alta”, observou a professora Libânia Paes, coordenadora do CEAHS – Pós-Graduação em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Faculdade Getúlio Vargas.
 
— Antigamente, os hospitais investiam em serviços diferenciados e hotelaria das maternidades respondendo a uma demanda do mercado, mas hoje, com o aumento da expectativa de vida, surgiram outras necessidades. Mais do que o lucro, os hospitais buscam resultados positivos que servem como incentivo para novos investimentos.
 
Segundo Libânia, a área da saúde não pode parar no tempo. É preciso modernizar os departamentos, oferecer qualidade de atendimento, novas tecnologias e mão de obra especializada.
 
— Mas, para isso é preciso profissionalizar a gestão hospitalar para equilibrar as contas.  
 
O SUS (Sistema Único de Saúde) também não escapou da crise. Entre 2010 e 2013, 3.431 leitos públicos de obstetrícia foram desativados. No mesmo período, a quantidade de leitos privados e aqueles destinados aos beneficiários de planos de saúde caiu de 14.354 para 14.185. O levantamento é do CFM (Conselho Federal de Medicina). Embora a população esteja crescendo em velocidade menor, Callegari condena a diminuição de leitos, especialmente do SUS.
 
— Ainda temos 150 milhões de pessoas que dependem da rede pública de saúde e 50 milhões que usam o sistema suplementar. A situação é preocupante e já temos o caso da Santa Casa.
 
Em nota, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) informou que com o fechamento das maternidades, "os planos de saúde precisam oferecer alternativas para o atendimento das beneficiárias com a mesma qualidade e serviço prestado pelo hospital descredenciado".

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