Dívidas comprometem atendimento de santas casas espalhadas pelo país

Valor pago pelo SUS é apontado como uma das causas para prejuízo

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Cheia de dívidas, a Santa Casa de São Paulo, o maior hospital filantrópico da América Latina, chegou a fechar seu pronto-socorro. Reabriu, mas continua mergulhada numa crise financeira.
 
Um problema que se repete em boa parte das unidades, por todo o país. Repórteres do Fantástico foram a cinco capitais brasileiras e mostram que a saúde das Santas Casas vai mal.
 
Em Belo Horizonte, Minas, leitos estão novinhos. Quem usa? Ninguém.
Fantástico: O que o senhor precisa para fazer isso aqui funcionar, doutor?
Médico: Recurso financeiro.
 
Em Manaus, Amazonas, está tudo abandonado há anos. Sem condições de atender qualquer paciente.
Esses são apenas dois exemplos de Santas Casas visitadas pelo Fantástico nessa última semana. O Brasil tem 2,1 mil hospitais sem fins lucrativos, incluindo as Santas Casas. Elas atendem principalmente pacientes do SUS – o Sistema Único de Saúde.
 
“Oitenta e três por cento das Santas Casas estão em uma situação de dificuldade financeira”, afirma Edson Rogatti, presidente da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Brasil.
 
Em 2005, a dívida delas era de R$ 1,5 bilhão. Oito anos depois, em 2013, já tinha aumentado dez vezes: R$ 15 bilhões.
 
“Se nada for feito, em breve, haverá um colapso na saúde, porque as Santas Casas vão fechar as portas”, diz Edson Rogatti.
 
Diretoria anunciou que a Santa Casa de Belo Horizonte vai ser fechada
 
Em Belo Horizonte, Minas, o Fantástico encontrou mães prestes a dar à luz que não sabem se vão conseguir fazer o parto nesta maternidade no próximo mês.
 
“A gente fica desesperada mesmo, principalmente nesse momento que é muita insegurança”, conta Monalisa Botelho, grávida de oito meses.
 
A diretoria já anunciou: “Ela vai ser fechada”, diz Porfírio Andrade, superintendente da Santa Casa de BH.
 
“Pra qual maternidade eu vou? Eu não vou ter os médicos que eu estou fazendo o pré-natal, que eu confio”, diz Luciana Basilio dos Santos, grávida de oito meses.
 
A maternidade especializada em alto risco atende 30% do estado de Minas. São 330 partos por mês pelo SUS. Segundo a direção, cada criança nascida na Santa Casa de Belo Horizonte gera um custo de R$ 1,4 a R$ 1,6 mil reais. E o SUS só paga R$ 800. O prejuízo na maternidade é de R$ 10 milhões por ano.
 
“Ela está de uma certa forma, puxando as outras unidades da casa para baixo. Num colapso lento mais definitivo que pode comprometer todo o funcionamento da Santa Casa”, diz Porfírio Andrade, Superintendente Santa Casa de BH. 
 
Já está comprometendo o Centro de Tratamento Intensivo adulto que ficou pronto em julho do ano passado. Trinta leitos estão desativados porque a Santa Casa não tem dinheiro para mantê-los em funcionamento.
 
Alguns leitos não estiveram desativados o tempo todo não. “Parte deles estiveram funcionando pela única vez durante o período da Copa”, conta Porfírio Andrade.
 
Sobre isso, a prefeitura de Belo Horizonte, gestora da Santa Casa, disse em nota que “a abertura de leitos adicionais" foi possível por uma verba extra da Secretaria de Estado de Saúde prevendo que a Copa poderia ter "eventos com múltiplas vítimas".
 
Prédio da Santa Casa de Manaus assusta
 
Em Manaus, o prédio da Santa Casa assusta. Só tem movimento do lado de fora. A parte externa virou estacionamento. Paciente não entra. A Santa Casa fechou há dez anos, deixando só lembranças para Ana Jamile. “Eu e minha irmã nascemos aqui”, lembra.
 
E para o seu Evandro Nogueira, sorveteiro. John Hebert, o Everton e a Naoki, os três filhos dele nasceram na Santa Casa de Manaus.
 
O Fantástico entrou no prédio, com os atuais responsáveis pela Santa Casa de Manaus e também com um ex-funcionário, e encontrou o teto todo deteriorado, paredes inchadas e com infiltração. O lugar estava todo sujo. Na sala de raio-x não tinha mais nem porta.
 
Tem algumas salas que estão cheias de documentos, prontuários de pacientes. E eles estão espalhados, jogados pelo chão. Alguns com data da internação marcam 12/04/1987.
 
É possível ver que tem a estrutura agora. Mas não tem mais nenhum colchão nas macas onde os homens ficavam internados.
 
“O que tinha valor econômico foi penhorado e serviu de lastro para o pagamento de credores. A gente fica a mercê dos vândalos e eles invadem e praticam furtos em geral”, conta Tiago Queiroz de Oliveira, responsável pela Santa Casa de Manaus.
 
Seu Francisco, que trabalhou no local por 35 anos, antes limpava o lugar. Até que um dia foi ameaçado por um invasor.
“Botou eu pra correr, puxou uma faca, e eu corri. Eu e minha colega.”, lembra Francisco Borges Garcia, ex-funcionário.
O prédio da Santa Casa de Manaus é patrimônio histórico. Quando estava funcionando, chegava a receber mais de 2 mil pacientes por mês.
 
“Muito trabalho, não tinha sossego”, lembra o ex-funcionário Francisco.
 
Segundo os atuais administradores, isso mudou quando o governo estadual parou de repassar os recursos.
 
“Já existiam as dívidas e elas ficaram maiores”, conta Tiago Queiroz de Oliveira, responsável pela Santa Casa.
 
“O Governo muitas vezes tentou negociar e foi se retraindo de colocar dinheiro, aonde o dinheiro ia pelo ralo por inercia de produção de trabalho e incompetência administrativa”, diz o Wilson Alecrim, secretário de Saúde do Estado do Amazonas.
 
Pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo chegou a parar de atender
 
A maior Santa Casa da América Latina, a de São Paulo, chegou a fechar as portas também. Há duas semanas, o pronto-socorro parou de atender por quase 30 horas. Faltou o básico.
 
“Não tem seringa, esparadrapo, remédio”, diz o provedor da Santa Casa de SP, Kalil Rocha Abdalla.
Por que chegou a esse ponto? O hospital deve R$ 45 milhões s&oacute

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