O surto de microcefalia e o aumento dos casos de complicações neurológicas que acenderam o alerta vermelho da saúde no Brasil desde o segundo semestre do ano passado agora são oficialmente um problema global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência de Saúde Pública de importância internacional diante do quadro, situação que só havia ocorrido outras três vezes na história, a última delas com a epidemia de ebola. Mesmo sem confirmar a relação do surto com o zika vírus, transmitido pelo Aedes aegypti, a organização recomendou aos governos adotar uma política de vigilância máxima.
O zika circula em 22 países e está em grau 2 de emergência, numa escala de 0 a 3. O anúncio aconteceu em Genebra, na Suíça, durante encontro com especialistas. Para o órgão, a explosão de casos de microcefalia é suficiente para decretar emergência.
“O zika vírus por si só não é a emergência internacional”, disse David Heymann, médico que presidiu a reunião dos cientistas. O diretor de Emergência da OMS, Bruce Aylward, também confirmou a posição da entidade. “A emergência são os grupos de doenças (neurológicas)”, disse.
A partir de agora, será feito um apelo internacional por recursos para financiar novas pesquisas e tentar determinar a relação entre o vírus e a malformação genética que altera o desenvolvimento neurológico dos bebês.
Essa é também a expectativa da secretária-executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque. “É um vírus novo. Sabemos pouco sobre ele, estamos fazendo história e ciência”, lembrou. No país, a notificação do zika passará a ser compulsória a partir da próxima semana, quando os laboratórios estaduais receberão os testes para confirmação da presença do vírus no organismo.
De forma imediata, a OMS sugeriu medidas para conter a proliferação do mosquito, sem incluir a restrição de viagens aos países afetados. A preocupação é evitar orientações para não vir aos Jogos Olímpicos. As recomendações são para as grávidas tomarem medidas extras de proteção, que os aviões sejam desinfectados e que os serviços de saúde se preparem para o aumento de casos neurológicos. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), entre três milhões e quatro milhões de pessoas poderiam ser contaminadas pelo vírus zika em 2016 nas Américas.
Bruce Aylward admitiu que o zika vírus é “um teste de uma nação” para o Brasil e pediu “maturidade” a grupos políticos e atores da sociedade. A OMS estima que o vírus pode ser registrado em casos locais no sul da Europa a partir da primavera no Hemisfério Norte.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que o reconhecimento internacional deve facilitar a busca de parcerias, reunindo esforços de governos e especialistas para enfrentar a situação e disse, ainda, que afirmou à OMS a possiblidade de um evento de importância internacional desde o ano passado. Amanhã, a presidente Dilma Rousseff fará pronunciamento em rede nacional para pedir a mobilização da sociedade contra o Aedes.
FOTO: Fabrice Coffrinni/AFP