O desemprego no Brasil chegou a 8,3% no segundo trimestre deste ano, maior taxa desde 2012, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor de saúde privada é um dos que mais sofre com o cenário, uma vez que o segmento empresarial é a grande força motora dos planos de saúde. Ao perder seu emprego, a tendência de grande parte das pessoas é deixar de investir em convênios com operadoras, passando a pressionar uma saúde pública já sobrecarregada.
De acordo com estimativas da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), apenas no primeiro semestre de 2015 mais de 190 mil beneficiários encerraram seus planos, um recuo de 0,4%. O desempenho do setor para os próximos seis meses, na visão do diretor-executivo da entidade, dependerá da atividade econômica do país. “Com base nos indicadores analisados, nossa perspectiva para o número de beneficiários é de estabilidade ou mesmo de queda num cenário mais pessimista, o que seria inédito no setor", explica Antônio Carlos Abbatepaolo.
As projeções para a economia brasileira, entretanto, não são nada animadoras. O mercado estima uma retração econômica de ao menos 2% em 2015. Na visão do coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricardo Franco Teixeira, ajustes continuarão sendo feitos nos últimos meses do ano. “E enquanto isso estiver acontecendo, não teremos uma perspectiva de aumento da taxa de emprego”, opina.
Em junho, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged/TEM) também bateu recorde, indicando que 11 mil postos de trabalho foram fechados. Trata-se da maior baixa mensal desde o início da apuração, em 1999. Isso tem reflexos diretos na carteira de clientes das operadoras de saúde suplementar, mercado que se apoia majoritariamente em contratos coletivos do segmento empresarial.
De acordo com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), de 2009 a 2014, a participação de beneficiários enquadrados nessa categoria aumentou de 55,6% para 66,3%, enquanto as demais categorias – planos coletivos por adesão e plano individual – tiveram retração de 21,7% e 19,7%, respectivamente, no mesmo período de comparação.
Para Teixeira, existem duas situações, além do contrato empresarial, com impacto direto às empresas que fornecem esses serviços. O primeiro caso se refere a pessoas que trabalham de maneira autônoma e têm seu faturamento diminuído em função da crise, deixando de pagar o plano de saúde. “O segundo, a trabalhadores que não perderam seu emprego, mas têm familiares que foram demitidos. Por isso, passam a assumir mais responsabilidades financeiras e, consequentemente, a negligenciar o pagamento do plano”, enumera o professor.
Outro desdobramento do problema está na saúde pública, segundo argumenta José Reinaldo Nogueira de Oliveira Júnior, da Nelm Advogados. “Hoje, a saúde privada é essencialmente custeada pelas empresas, à medida que elas oferecem planos de saúde a seus funcionários. Ainda que o colaborador, quando desligado da empresa, possa manter o convênio com o plano por um tempo, ele tem que custeá-lo por conta própria. O que acaba por acontecer é que ele prioriza seus gastos e deixa de pagar o plano quando é desligado do emprego. Com isso, pressiona uma saúde pública já sobrecarregada”, discorre o advogado.
O cenário de crise abre oportunidades para operadoras que oferecem serviços mais baratos. É esse o caso da Assim Saúde, que, de acordo com superintendente Marcelo Teixeira, experimenta um crescimento em seu número de clientes, principalmente os empresariais. As empresas Unimed Rio e Amil, e a Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde) não quiseram se posicionar em relação ao assunto. A SulAmérica não enviou informações até o fechamento desta matéria.