Febre amarela pode virar epidemia urbana

A equipe da Fehoesp conversou com o infectologista Roberto Focaccia para entender melhor e epidemia de febre amarela no país.

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A equipe da Fehoesp conversou com o infectologista Roberto Focaccia para entender melhor a epidemia de febre amarela no país, e ajudar a esclarecer as dúvidas da população e dos próprios serviços de saúde, que começam a ser procurados por conta da vacina.

A iniciativa faz parte da campanha deflagrada ano passado contra a chamada tríplice epidemia (dengue, zika e chikungunya). Confira:

Já falamos sobre a tríplice epidemia do Aedes aegypti. Como o senhor analisa agora a febre amarela no país?
Trata-se da quarta epidemia ou surto no país. Tecnicamente é uma epidemia porque são números de casos não esperados. Mas o número ainda é pequeno. São poucos. Mas que coloca em alerta toda a vigilância sanitária.

Existe risco concreto de que o vírus silvestre da febre amarela se torne urbano, atacando cidades?
O risco existe porque as cidades incharam, cresceram e se aproximaram da zona de mata e de florestas. E por meio do vetor, o mosquito Aedes aegypti, pode sim ocorrer uma epidemia urbana.

E por que ainda o vírus não se tornou urbano?
Os próprios cientistas estão tentando entender. Talvez o Aedes aegypti não seja um vetor tão capacitado para a febre amarela e o número de casos é pequeno ainda. Mas o perigo existe.

Por que a febre voltou?
As políticas preventivas do poder público são falhas. Não se vacinou adequadamente as populações de risco. E também há graves falhas no controle de viajantes.  A mobilidade da população dentro e fora do país leva as arboviroses rapidamente para várias regiões. É clara a deficiência das autoridades sanitárias no controle dos viajantes. O controle dessas populações que se mobilizam prá lá e prá cá, tanto interna como externamente, merecem do governo uma atenção especial. já que eles são os grandes disseminadores da febre amarela. O governo deve manter uma atenção toda especial nas rodoviárias, nos aeroportos, nos terminais de ônibus para que as pessoas sejam vacinadas antes de viajar. O ideal é que vacinem 10 dias antes para ter uma proteção total. Mas se isso não é possível, no momento que iniciar a viagem tome a vacina e por pelo menos 7 a 10 dias essa pessoa use repelentes e evite entrar em matas, principalmente de manhã cedo ou a noite, quando o número de mosquitos é maior. E para as pessoas que vêm de fora, de regiões infestadas como Angola, que o governo seja rigoroso, exigindo o certificado de vacinação ao adentrarem no Brasil.

E o que deve ser feito agora?
O foco principal é combater o mosquito Aedes aegypti nas grandes cidades. Ele pode ser o vetor de mais de 200 vírus. Tem que haver cobertura de proteção em torno das cidades. Populações têm que ser vacinadas, especialmente aquelas que vivem na periferia, no entorno das florestas e os viajantes. Mas o grande problema do Brasil é a falta de um grande saneamento básico, falta de esgoto e água tratada e uma educação de saúde pública precária. Tudo isso induz ao desenvolvimento de vetores.

E quem deve tomar a vacina?
A vacinação em massa tem seus riscos porque é uma vacina que pode dar efeitos colaterais. A vacina está destinada às populações que vivem nas cercanias de onde ocorreram casos confirmados de febre amarela. Quem vai viajar para regiões que sabidamente tem febre amarela deve se vacinar dez dias antes da viagem.  A vacina tem 95% de eficiência e não pode ser aplicada em gestantes, crianças menores de 6 meses e indivíduos imunossuprimidos. Como a vacina é um vírus vivo atenuado pode causar efeitos colaterais severos. Uma em cada 300 mil pessoas desenvolve efeito colateral importante e um em 1 milhão pode morrer de febre amarela pela vacina. A OMS recomenda tomar a vacina uma vez na vida enquanto o Ministério da Saúde do Brasil recomenda duas vacinas com intervalo mínimo de 5 anos.  Nunca se deve tomar essa vacina em duas doses seguidas. E por se tratar de uma vacina com vírus vivo, tenho receio de vacinações em massa.

A vacina tem estado em falta…
As autoridades sanitárias deveriam ter planejado melhor uma cobertura vacinal em torno das cidades. Eu tenho receio de vacinações em massa com a população em pânico.  Mas além da falta de vacinas, não temos também número suficiente de testes de febre amarela. Os testes são importantes porque pode-se confundir clinicamente a febre amarela com outras doenças como dengue, zika ou chikungunya. O teste sorológico não é 100% específico. Pode dar como resultado um falso negativo ou um falso positivo. Mas há um teste mais específico de pesquisa de imunoglobulina.

Como os serviços de saúde podem identificar e diagnosticar a febre amarela?
Clinicamente, as quatro doenças transmitidas por arbovírus , quando brandas, possuem sintomas semelhantes como dor de cabeça, vômitos, dores pelo corpo, um quadro enfim, muito inespecífico. Isso pode confundir o colega. O melhor nesses casos é pedir o exame específico para a suspeita que o médico tem. Na evolução, pode haver comprometimento do fígado, do rim, ocorrer hemorragias. O paciente fica ictérico, amarelado, daí o nome febre amarela. E para o tratamento não há medicação específica. Os cuidados são de UTI e os casos graves têm alta letalidade.

E como o senhor avalia a evolução dessas quatro arboviroses no país?
Acho imprevisível. Não sabemos ao certo como vão evoluir. Mas nossos gestores de saúde devem estar atentos para a vacinação de proteção em torno das áreas infectadas, distribuição de testes em todo o país, política de vacinação de forma a cercar os viajantes, informar a população para que ao adentrar em matas e florestas utilizem também repelentes. Agora não sei se teremos vacinas suficientes porque a produção da Fiocruz é limitada.

 

 

Fonte: Assessoria de Imprensa FEHOESP
 

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