Neste 14 de maio, especialistas da saúde se reuniram no Teatro Tuca Arena, na PUC-SP, para o Fórum “A saúde do Brasil”. Em sua terceira edição, o evento abordou as questões que afligem os gestores: financiamento – ou a falta dele – , modelo de atenção e a velha necessidade de se priorizar a atenção básica da população.
A principal conclusão que se pode levar do primeiro dia do evento foi: é preciso mudar o modelo de atendimento da saúde, tanto no âmbito privado quanto no público.
No SUS, embora exista uma hierarquização de atendimento, na qual as pessoas são obrigadas a passar pelas unidades básicas antes de serem encaminhadas aos especialistas, as emergências dos hospitais continuam lotadas. Tal fato demonstra falta de acesso e desorganização do sistema.
Para Lenir Santos, secretária de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, falta financiamento ao SUS, mas também falta definir qual o “rol que vai garantir a integralidade sem asfixiar o direito”. Em outras palavras, ela defendeu que a sociedade e o governo debatam sobre o que o SUS será capaz de arcar, tendo em vista que incluir tudo para todos é impossível.
Para Antonio Britto, presidente-executivo da Interfarma, o SUS tem que admitir que não pode incorporar tudo. “Nós estamos mascarando a realidade, porque não praticamos a integralidade”, disse.
A importância da atenção primária, neste contexto, é fundamental. Os especialistas denunciam que faltam médicos com formação em atenção básica e medicina de família, mas que só os médicos também não resolvem o problema. “Um dos problemas mais sérios que criamos foi estimular muito a formação de mais médicos baseados em parâmetros de oferta”, afirmou Eugênio Vilaça Mendes, consultor internacional na área de saúde pública.
Para Gustavo Gusso, professor de Clínica Geral da Faculdade de Medicina da USP, são precisos quatro atributos para a atenção primária funcionar bem: acesso, coordenação, rede de serviços ampla e continuidade no atendimento.
Na área privada, um dos grandes problemas é a maneira como se dá o acesso. Pacientes procuram em seus guias médicos qual especialista consultar quando apresentam algum sintoma, e entram nos consultórios esperando diversos pedidos de exames. Não é incomum que o paciente procure diversos especialistas neste processo, e que acabe na emergência do hospital para resolver problemas que agudizaram, mas que poderiam ser resolvidos de outra maneira.
“O problema é que temos um modelo de remuneração baseado no consumo, quando deveria ser no desfecho clínico”, defendeu Mauricio Ceschin, presidente da Gama Saúde, do grupo Qualicorp. Além disso, o atendimento na saúde suplementar é fragmentado, segundo Paulo Furquim, coordenador do Centro de estudos em Negócios do Insper.
Para Luiz Augusto Carneiro, superintendente do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar, o modelo de remuneração “fee for service” estimula o consumo, e as altas contas hospitalares. “Os preços e as contas hospitalares precisam ser mais transparentes. As instituições precisam trabalhar com indicadores e publicá-los”, afirmou.
A abertura do Fórum ficou por conta de Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde e atual secretário municipal da pasta, em São Paulo. A moderação dos debates foi feita pela jornalista da Folha de S. Paulo, Claudia Colucci.
Na foto, da esquerda para a direita: Marcelo Gratão, gestor do IEPAS; José Carlos Barbério, presidente do IEPAS; Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, e Luiz Fernado Ferrari Neto, vice-presidente do SINDHOSP, e diretor da FEHOESP.
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