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Bets: a bomba-relógio da economia e da saúde brasileira

Na passagem bíblica sobre a partilha das vestes de Jesus, os soldados romanos “lançaram sortes” para decidir quem ficaria com a túnica dele. Segundo a mitologia grega, a divisão dos céus, dos mares e do submundo foi definida através de sorteio entre os deuses Zeus, Poseidon e Hades. Apostar em gladiadores era prática comum na Roma antiga, assim como em atletas, nas primeiras Olimpíadas, na Grécia. Os jogos de azar, portanto, são milenares e sempre acompanharam a Humanidade. Uma prática que até então era esporádica, hoje alcançou a palma da mão, com efeitos nocivos sobre a economia e a saúde das pessoas.

As apostas online têm movimentado valores exorbitantes no Brasil. De acordo com o Banco Central (BC), no primeiro trimestre deste ano o volume mensal de gastos variou entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bi. Estes valores são mais do que o dobro do gasto de 2024, que registrou média mensal de R$ 10 bi, totalizando R$ 120 bi no ano, ainda segundo o BC. Caso o atual ritmo se mantenha, as chamadas bets poderão movimentar este ano aproximadamente R$ 250 bi. Para efeito de comparação, o valor é superior ao orçamento destinado para o Ministério da Saúde em 2025, de R$ 245 bi.

Pesquisa DataSenado indica que 22,1 milhões de brasileiros são usuários dos sites de apostas, sendo a maioria formada por homens entre 16 e 39 anos. Infelizmente, muitos têm retirado recursos da família e direcionado para as apostas online, como mostra levantamento DataFolha/FGV realizado em 2.600 domicílios. Nele, 29% dos entrevistados assumiram que gastam parte do dinheiro destinado a lazer e alimentação com as bets. Estimativa do BC lança ainda mais luz sobre o problema, ao prever que 20% da massa salarial nacional passa por casas de aposta ao menos uma vez por ano. São recursos que estão sendo retirados dos setores econômicos produtivos e direcionados para os jogos.

A necessidade incontrolável de jogar é uma patologia reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ludopatia e classificada como um transtorno do controle dos impulsos ou transtorno relacionado ao uso de substâncias e comportamentos dependentes e compulsivos. A ludopatia utiliza os mesmos mecanismos neuropsicológicos da dependência química, pois ativa a liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer. O resultado é a sensação de euforia, de autoconfiança. Esse estado incentiva a repetição e faz com que o cidadão que sofre de dependência recorra com cada vez mais frequência às apostas, para obter o mesmo prazer que tinha inicialmente. Com as drogas ilícitas esse comportamento leva à overdose; nos jogos, leva ao endividamento, a problemas sociais e familiares, estresse, insônia, ansiedade, depressão, a pensamentos suicidas e ao aumento de doenças como arritmias, infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O tratamento com maior evidência científica para o transtorno de jogos é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), mas pode incluir também psicoterapia, participação em grupos de apoio e, em alguns casos, o uso de medicamentos é indicado. Atualmente, com a saúde digital em franca ascensão e maior acesso das pessoas à internet, é possível oferecer Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) em ambiente 100% digital. Estudos mostram que, quando bem estruturada, os níveis de eficácia são semelhantes à TCC presencial.

O fato é que a Lei 14.790/23, conhecida como a Lei das Bets, definiu regras, tributou empresas e apostadores, mas não previu os impactos dos jogos online na sociedade. Agora, o Brasil precisa agir – e rápido. Segundo o Ministério da Previdência Social, ainda que o número pareça baixo (84 casos de janeiro a abril deste ano), os pedidos de auxílio-doença concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por ludopatia cresceram 2.300% entre 2023 e 2025. Paralelamente, inexistem protocolos clínicos específicos sobre o transtorno no Sistema Único de Saúde (SUS), nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

O problema torna-se ainda mais delicado porque as bets estão por toda parte, com investimento altíssimo em marketing e publicidade. De junho de 2024 a junho deste ano, rastreamento do Ibope Repucom aponta que os sites de apostas destinaram R$ 1,1 bilhão em patrocínios, verbas para influencers e financiamento de programas esportivos. Portanto, fica cada vez mais difícil o cidadão escapar da sedução dos jogos online.

Diante do avanço das apostas e seus impactos crescentes na sociedade, há uma série de medidas regulatórias que podem ser consideradas: restrições a propagandas e patrocínios em eventos de grande visibilidade, limites de tempo e valor por usuário nas plataformas, mecanismos de autoexclusão, monitoramento de comportamentos de risco e verificação de idade obrigatória.

No entanto, embora a regulamentação seja crucial para mitigar a exposição e o incentivo ao jogo, milhões de brasileiros já foram afetados pela compulsão. Por isso, é fundamental que a sociedade se mobilize e exija, com urgência, uma resposta concreta do Executivo e do Legislativo para o sistema de saúde. O Brasil tem a oportunidade de adotar medidas, como algumas citadas acima, não apenas para aliviar o sofrimento de quem já foi impactado, mas também para prevenir o surgimento de novos casos de dependência. Essa é uma política pública possível – e urgente.

 

Francisco Balestrin

Presidente do SindHosp e da FESAÚDE

 

Artigo publicado na edição de 17/08/2025 do jornal Correio Braziliense. Clique aqui e acesse a pulicação.

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A falta de segurança pública mata a saúde

Ambientes dominados pela violência e pelo medo geram efeitos profundos e duradouros sobre o corpo e a mente, comprometendo redes de cuidado

 

No filme da campanha publicitária The Lost Class, um defensor de armas de fogo foi convidado para fazer um discurso de formatura “simbólica” para 3.044 cadeiras vazias, exatamente o número de alunos vítimas da violência armada nos EUA em 2021. Ao chamar atenção para vidas tão jovens ceifadas pela violência, a campanha levantou uma questão séria que extrapola fronteiras e atinge todo o globo, com efeitos devastadores sobre as famílias e empresas, para a economia e o futuro.

A violência sempre acompanhou a humanidade e está presente na passagem bíblica que levou à morte de Abel pelo seu irmão, Caim, considerado o primeiro registro de homicídio da história. Passados quase seis mil anos, o impacto econômico mundial da violência atingiu, em 2023, US$ 19,1 trilhões, o equivalente a 13,5% do PIB global, ou US$ 2.380 por pessoa, segundo o Global Peace Index 2024.

Na América Latina e Caribe, o gasto no combate ao crime representa o dobro dos orçamentos destinados a assistência social, 12 vezes o que é dirigido a pesquisa e desenvolvimento e 80% dos orçamentos públicos que os países destinam para a educação. A região, que abriga 8% da população mundial, concentra um terço de todos os homicídios registrados no mundo, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

No Brasil, especificamente, a violência abocanhou 11% do Produto Interno Bruto (PIB), ou mais de R$ 1 trilhão em 2023. Entre outros números, o país registrou um caso de estupro a cada seis minutos; dois roubos ou furtos de celulares por minuto; e 46.328 mortes violentas intencionais. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. Este cenário faz da violência, hoje, a principal preocupação dos brasileiros.

Em suas múltiplas formas – urbana, doméstica, institucional – a violência é também uma epidemia. Como toda epidemia exige vigilância, resposta articulada e, sobretudo, compromisso com a dignidade humana. Ambientes dominados por ela, pela falta de segurança e pelo medo geram efeitos profundos e duradouros sobre o corpo e a mente. Comunidades são silenciadas; serviços, paralisados; redes de cuidado se fragmentam e impedem a prevenção. A insegurança pública, portanto, nos adoece.

Abordar a temática da segurança pública é defender vidas. E falar de vida é, inevitavelmente, falar de saúde. Por isso, é importante analisar o problema de forma ampla, integral e conectado com os chamados determinantes sociais que verdadeiramente levam à satisfação das pessoas, como educação, moradia, saneamento básico, emprego, renda, alimentação, cidades e locais de trabalho mais saudáveis, proteção ao meio ambiente, cultura, lazer, entre outros.

Papa Francisco, liderança que defendia a humildade, a tolerância e a inclusão, dizia que “apenas os que dialogam podem construir pontes e vínculos”. Territórios mais seguros precisam ser construídos com a presença do Estado, através do diálogo com a sociedade e de políticas integradas, abrindo caminhos para que a saúde floresça e novas oportunidades sejam criadas, principalmente para os jovens. Segurança pública não é só polícia. É política. É planejamento. É, acima de tudo, cuidado.

 

Francisco Balestrin

Médico e presidente da Federação e do Sindicato de Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo (FESAÚDE e SindHosp)

 

Artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 19 de junho de 2025. Clique aqui e acesse a publicação

 

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O silêncio dos partidos sobre a saúde

Propostas contidas nos programas de governo, em sua maioria, são genéricas e, com frequência, inexequíveis

As mazelas do sistema de saúde costumam figurar entre as três maiores preocupações dos brasileiros nas pesquisas de opinião. A exemplo do que ocorre em tantas áreas de responsabilidade do poder público, a angústia da população não parece ser tratada com a urgência que o tamanho do problema sugere. No caso da saúde, pouco ou nada se sabe a respeito do que as principais Excelências e suas agremiações pensam sobre o assunto.

Os desafios se tornam cada vez mais complexos ano a ano. Como revelou O GLOBO, a fila de espera por uma cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) dura em média um ano e sete meses; por uma consulta, dois meses. O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou, em julho passado, relatório apontando que o déficit no SUS estava em R$ 31 bilhões em 2017, com projeções de aumento para R$ 57,5 bilhões em 2030. É preciso preparo político e conhecimento técnico para solucionar demandas superlativas como essas.

A Lei 9.096/95, que regulamenta os partidos políticos, prevê a criação de fundações vinculadas às siglas destinadas ao estudo, à pesquisa, à doutrinação e educação política. É de esperar que as legendas, mais precisamente essas instituições ligadas a elas, capitaneiem permanente elaboração de políticas públicas dirigidas à área que tem por fim garantir o direito à vida, o mais basilar dos previstos na Constituição.

Não faltam ou não deveriam faltar recursos. Dados do Tribunal Superior Eleitoral ( TSE ) mostram que há 28 fundações ou institutos criados pelas legendas do país. Em 2024, o fundo partidário destinou R$ 1,1 bilhão aos partidos. Pela lei, cerca de R$ 220 milhões foram reservados a essas entidades.

A vasta quantidade de siglas, porém, não se traduz em fartura de propostas para a saúde. Quando muito, algumas legendas se dispõem a externar diretrizes a respeito do assunto, muitas vezes exclusivamente sob o viés econômico — fortalecimento do SUS 100% gratuito, ampliação de parcerias público-privadas ou, em outros casos, redução do papel do Estado na gestão da saúde pública. A apresentação de ideias e os debates mais concretos ficam restritos às curtas temporadas eleitorais, de dois em dois anos. E, mesmo assim, as propostas contidas nos programas de governo, em sua maioria, são genéricas e, com frequência, inexequíveis.

A qualificação do debate nasce na formação de gestores capazes de propor ações estruturalmente transformadoras. Não se pretende que as fundações partidárias formem especialistas prontos para atuar em questões essencialmente técnicas da saúde. Bom senso. Mas não apenas é esperado, como necessário, que essas instituições sejam capazes de desenvolver soluções, com o mínimo de embasamento, para problemas como filas para cirurgias e transplantes, judicialização da saúde, consequências do envelhecimento populacional, estimativa de explosão dos casos de câncer até 2050, entre outros. Por ora, sabe-se que sobram recursos, e faltam repertório e disposição para atacar o que a sociedade grita que considera mais urgente.

Francisco Balestrin

Presidente da FESAÚDE-SP e do SindHosp

Inaldo Leitão Filho

Gerente de Relações Institucionais e Governamentais da FESAÚDE-SP

 

Artigo publicado pelo jornal O Globo, de 08/04/2025. Clique aqui e acesse o pdf da publicação

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O sentimento dos trabalhadores brasileiros

William Shakespeare dizia que “a alegria evita mil males e prolonga a vida”. Infelizmente, os resultados da pesquisa State of the Global Workplace, realizada pela consultoria Gallup, especializada em análise comportamental no trabalho, acendem um sinal de alerta para as organizações do país, ao mostrar que grande parte dos trabalhadores não está feliz em suas ocupações. O levantamento ouviu 128 mil funcionários em 160 países, para verificar o que eles sentem em relação a suas vidas e aos seus empregos.

Perguntados se vivenciaram situações de estresse no trabalho no dia anterior, 46% dos brasileiros responderam que sim, o que coloca o Brasil na sétima posição na América Latina nesse quesito. Os seis países mais estressados do continente são: Bolívia (55%), República Dominicana (51%), Costa Rica (51%), Equador (50%), El Salvador (50%) e Peru (48%). Quando analisadas a raiva e a tristeza diárias, o Brasil sobe para a quarta posição em ambos os quesitos, com 25% dos trabalhadores afirmando estar tristes (Bolívia, El Salvador e Jamaica ocupam as três primeiras posições) e, 18%, com raiva (novamente a Bolívia ocupa o primeiro lugar, seguida da Jamaica e do Peru).

Para a saúde, que depende de mão de obra especializada e qualificada, os resultados são preocupantes. Cuidar de pessoas em situações de fragilidade, muitas vezes com risco de morte, é uma arte que exige foco e equilíbrio. Saber que quase metade dos trabalhadores do país estão estressados e boa parte encontra-se triste ou com raiva, demanda atenção redobrada por parte dos gestores do setor. Para evitar situações estressantes, algumas ações podem e devem ser adotadas, como manter os colaboradores treinados, um bom clima organizacional, estar atento às relações entre as equipes multidisciplinares, oferecer um canal aberto para diálogo, ter uma comunicação transparente, entre outras.

Mas não são apenas as empresas que devem fazer a sua parte. É sabido que fatores externos, como o contexto econômico e os altos índices de violência, têm impacto direto nas emoções. Em 2022, a pesquisa Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, feita pela Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) com apoio do Banco Central (BC), relatou que 56,1% dos respondentes percebiam as finanças como motivo de estresse na família. Paralelamente, a violência é porta de entrada para uma série de problemas mentais, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.

Além de oferecer cursos de capacitação para o setor, a FESAÚDE-SP e o SindHosp, como entidades da sociedade civil, estão sempre abertas ao diálogo com o poder público das três esferas para colaborar na discussão e formulação de políticas públicas capazes de assegurar ambientes de trabalho mais produtivos e uma melhor qualidade de vida à população. Com a união da sociedade, dos setores produtivos e do governo é possível introduzir saúde ao dia a dia dos trabalhadores, pensando nela como um estado de completo bem-estar físico, mental, emocional e espiritual, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Francisco Balestrin

Presidente do SindHosp e da FESAÚDE-SP

Artigo publicado na edição de dezembeo de 2024 da revista LaborNews. Clique aqui e acesse a íntegra da publicação

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Desejos para a saúde em 2025

Nações, companhias, organizações da sociedade civil e o próprio ser humano costumam renovar pactos, redefinir estratégias e realinhar objetivos a cada final ou início de ciclo. Estes momentos de reflexão e replanejamento trazem oportunidades de mudanças, principalmente para os que têm propósitos claros e desejam alcançá-los. Afinal, como já ensinou o grande filósofo Confúcio, “você não pode controlar o vento, mas pode ajustar as velas”. Para o setor saúde, especificamente, o que podemos desejar neste novo ano?

2025 chega com a esperança renovada nos 5.570 municípios brasileiros, com a posse, em janeiro, dos novos prefeitos, prefeitas e dos que foram reeleitos. Como são nas cidades que a saúde pública se concretiza, é de fundamental importância que os secretários e secretárias municipais de Saúde tenham habilidade política, disposição para o diálogo e as competências técnicas necessárias para lidar com a complexidade e as dinâmicas de um sistema tripartite, como o SUS.

A saúde aspira por bons diagnósticos municipais e regionais, baseados em informações sociodemográficas e econômicas, tendências de doenças, fatores de risco e análise da infraestrutura, equipamentos, mão de obra e protocolos assistenciais. Feito isso, é preciso traçar um plano de saúde para a cidade, lembrando que muitas ações de saúde devem ser desenvolvidas em conjunto com outras áreas da administração pública, pois é sabido que variáveis como renda, saneamento básico e nível de escolaridade podem influenciar direta e indiretamente nos indicadores de saúde, além de proporcionar melhor qualidade de vida.

Para assegurar acesso integral, rápido e de qualidade, desejos de toda a sociedade, é necessário adotar novos modelos de governança assistencial, com a coordenação dos diferentes níveis de atenção em redes regionalizadas e hierarquizadas. Para esse desafio, a participação e respaldo das secretarias estaduais de Saúde são cruciais, além da utilização de ferramentas de saúde digital. São Paulo tem avançado nessa direção.

Doenças crônicas, envelhecimento populacional, saúde mental e controle de epidemias são agendas prioritárias que devem ser enfrentadas e exigem abordagens multidisciplinares e coordenadas. Para que tudo isso possa se tornar realidade, é imprescindível uma maior integração entre público e privado, o estabelecimento de parcerias entre universidades, startups, empresas e governos dos três níveis; criação e introdução de indicadores que permitam remunerações baseadas em desfechos, entre outras ações. A FESAÚDE-SP e o SindHosp já deram sua contribuição visando a transformação das comunidades e um melhor cuidado, com o Guia de Ações Municípios Saudáveis, que está disponível para download nos sites das entidades.

Acredito piamente ser possível termos as pessoas certas nos lugares certos, diagnósticos bem elaborados, melhor planejamento em saúde, enfim, garantir acesso e uma assistência digna em um ambiente de respeito e confiança entre todos os que atuam no ecossistema da saúde. Este é o meu desejo.

Francisco Balestrin

Presidente do SindHosp

Artigo publicado na edição de novembro/2024 da revista LaborNews. Clique aqui e acesse a íntegra da publicação

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Anvisa: independência ou morte

 “Saber não é suficiente; devemos aplicar. Querer não é suficiente; devemos fazer. Cada momento que adiamos, arriscamos perder o fruto de todos os nossos esforços”. A frase é de um dos maiores pensadores alemães e escritor que transcendeu sua época, Johann Wolfgang von Goethe, e se encaixa perfeitamente ao atual momento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Criada pela Lei nº 9.782/1999 e prestes a completar 26 anos em janeiro de 2025, a Anvisa tem como missão proteger a saúde da população por meio da regulação, fiscalização e controle de produtos, serviços e ambientes que possam afetar a saúde pública. Seu campo de atuação, portanto, é vasto e inclui medicamentos; alimentos; bebidas; cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes; cigarros; equipamentos e materiais médico-hospitalares e odontológicos; imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemoderivados; serviços hospitalares, ambulatoriais, de apoio diagnóstico e terapêutico e que impliquem a incorporação de novas tecnologias; órgãos, tecidos humanos e veterinários para uso em transplantes ou reconstruções; entre outros, além do controle de portos, aeroportos e fronteiras.

Calcula-se que cerca de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro seja regulado pela Anvisa e suas ações e competências sustentam e apoiam o Sistema Único de Saúde (SUS). Seu trabalho, além de ser reconhecido internacionalmente, é de imensa importância para a segurança da sociedade e para o desenvolvimento do país. Uma questão, entretanto, vem prejudicando o bom funcionamento, a produtividade e a missão da Anvisa: a falta de pessoal.

De 2007 a 2024, o número de servidores efetivos da Agência despencou de 2.360 para 1.476, ou seja, uma redução de 44%. Dos atuais colaboradores, cerca de 400 estão prestes a se aposentar, agravando o problema. Soma-se a isso o fato de que dois diretores terão seus mandatos encerrados até o final deste ano, incluindo o diretor-presidente. Os nomes dos novos ocupantes são indicados pela Presidência da República e precisam ser aprovados pelos senadores. Como em fevereiro haverá eleição para a presidência do Senado Federal, certamente esse processo será mais moroso. Ainda que os postos sejam ocupados por substitutos técnicos, é evidente que há perda de produção.

O número de registros de medicamentos, por exemplo, caiu 16% (de 375 para 314), entre 2019 e 2023. Porém, mesmo com a escassez de recursos humanos e o aumento no volume de serviço, no ano passado a Anvisa atingiu 67% das metas estabelecidas. Entre outras atividades, aprovou mais de 150 registros de alimentos, autorizou cerca de oito mil dispositivos médicos, emitiu 560 mil certificados internacionais de vacinação, realizou 675 avaliações toxicológicas para fins de registro de agrotóxicos e analisou aproximadamente 3,7 mil pedidos de Certificados de Boas Práticas de Fabricação, com 500 inspeções realizadas.

As agências reguladoras são importantes para a democracia, para a garantia da prestação de serviços e agem na defesa do consumidor. Por atuarem com autonomia, buscam garantir o equilíbrio entre os interesses dos usuários, das organizações e do Poder Executivo. Para que possam cumprir suas missões, porém, é fundamental que o governo garanta a mão de obra necessária e adequada para cada uma das 11 agências reguladoras existentes no país, pois estimativas mostram que, juntas, elas têm atualmente cerca de 30% dos seus cargos desocupados.

A composição do quadro de funcionários da Anvisa é de interesse da sociedade, importante para a garantia de um processo regulatório eficiente e crucial para o desenvolvimento do Brasil. A falta de pessoal tira a independência de qualquer ente público ou privado e pode levar à asfixia uma Agência imprescindível para a economia e a segurança da população. Que o governo se conscientize e aja com rapidez para que não percamos os bons frutos colhidos até aqui.

Francisco Balestrin

Médico e presidente do SindHosp

Artigo publicado em 18 de dezembro pelo jornal Correio Braziliense. Clique aqui e veja a publicação

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Uso de dados e a inteligência artificial na saúde

Steve Jobs, o fundador da Apple, dizia que “a tecnologia move o mundo”. Os avanços tecnológicos, realmente, modificam a sociedade, a cultura, os modelos produtivos e vêm conquistando, ao longo dos anos, cada vez mais espaço. Hoje, moldam a forma como as pessoas se comunicam, aprendem, trabalham, se informam e se divertem. No setor saúde, esse elo entre a assistência médica, a ciência e a tecnologia existe, pelo menos, desde o século XIX, quando o físico alemão, Wilhelm Conrad Rontgen, descobriu o raio X.

Atualmente, uma transformação digital está revolucionando a saúde. A crescente quantidade de dados clínicos, a necessidade de gerar e compartilhar informações a partir deles, o cada vez mais extenso leque de exames diagnósticos, a demanda por eficiência, entre outros tópicos, têm pressionado o setor – em todos os cantos do mundo – a adotar novas tecnologias que possam melhorar e até transformar a prática assistencial. Nesse cenário, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma ferramenta capaz de oferecer soluções que vão além da automação de tarefas e com potencial para promover mudanças na forma como as decisões médicas e gerenciais são tomadas e como os serviços são prestados.

Para compreender como essa ferramenta está sendo utilizada pelo ecossistema da saúde no país e seus impactos para prestadores de serviços, operadoras de planos de saúde, indústria farmacêutica e setor público, a FESAÚDE-SP, o SindHosp e a KPMG lançaram o e-book “Uso de Dados e a Inteligência Artificial na Saúde”.  A publicação é fruto de uma pesquisa inédita que ouviu, em um primeiro momento, profissionais que estão vivenciando a implementação de ferramentas de IA em suas organizações. Posteriormente, um questionário on-line foi difundido por diversas entidades representativas da saúde, contemplando todos os atores da cadeia produtiva. Os dados revelam expectativas, temores, desafios, bem como a diversidade atual de modelos de aplicação da IA nas instituições de saúde e seus resultados.

Além da íntegra da pesquisa, o e-book traz capítulos sobre cronologia e conceituação; arquitetura e privacidade de dados; o impacto da IA no ecossistema da saúde e na jornada assistencial; regulamentação; e desafios para sua implementação nos setores público e privado. O conteúdo abrangente da publicação certamente trará insights aos gestores que já operam com algum grau de IA e também aos que estão começando essa trajetória. O download da publicação pode ser feito clicando aqui.

O fato é que a IA realmente tem capacidade de transformar a maneira como os serviços são prestados em todos os níveis assistenciais, o jeito de promover saúde e prevenir doenças, de melhorar as operações das organizações e de engajar o paciente como responsável principal pela sua saúde. É, portanto, uma poderosa ferramenta para a eficácia e a eficiência. Não podemos esquecer, porém, que apesar de todas as inovações tecnológicas, saúde é um setor feito por gente que cuida de gente. Portanto, é fundamental capacitar e treinar os profissionais para que possam extrair todos os benefícios dessa ferramenta sem, contudo, perder a essência da assistência, que é a humanização.

Francisco Balestrin

Presidente do SindHosp e da FESAÚDE-SP

Artigo publicado na edição de outubro/24 da revista LaborNews. Clique aqui e acesse a íntegra da publicação

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Saúde mental, uma agenda prioritária

Os jogos olímpicos de Paris, além de nos entreter e extasiar com modalidades sendo disputadas a céu aberto em cartões-postais e monumentos históricos, nos deixam lições de persistência, planeamento, estratégia, determinação, disciplina, foco e trabalho em equipe. Atletas de alto rendimento, contudo, não são super-heróis, ainda que façam o que parece “impossível” para a maioria das pessoas. Isso ficou explícito nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando a norte-americana Simone Biles (dona de 11 medalhas olímpicas, sendo sete de ouro), abandonou as finais das competições de ginástica alegando problemas de saúde mental.

            O fato chocou o mundo do esporte, trouxe o tema à tona, quebrou tabus e incentivou outros atletas de diferentes modalidades a pausarem suas carreiras por motivo semelhante. A tenista Naomi Osaka, vencedora do US Open em 2018, e o surfista (hoje medalhista olímpico), Gabriel Medina, são dois exemplos de atletas de alta performance que pararam de competir por um período para cuidar do bem-estar emocional e psicológico. Atento ao ocorrido em 2021, o Comitê Olímpico Brasileiro levou para Paris dez psicólogos e um psiquiatra para auxiliar os 277 atletas da delegação brasileira. Trata-se do maior time de profissionais especialistas em psicologia esportiva da história do país em competições internacionais.

            Para entender como o tema está presente na nossa sociedade, antes da pandemia da Covid-19, a Organização Mundial da Saúde publicou, em 2017, um dossiê mostrando que 9,3% dos brasileiros sofriam com ansiedade, a maior proporção entre os países incluídos no levantamento. Cinco anos depois, em 2022, dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) mostram que a incidência de ansiedade entre crianças no SUS superou a dos adultos. Paralelamente, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública traz o Brasil como o 8º país do mundo em número de suicídios, com um índice de oito mortes por grupo de 100 mil habitantes. Saúde mental é, portanto, um tema que precisa ser enfrentado com urgência pelas três esferas de governo.

            Em âmbito municipal, a FEHOESP e o SindHosp elaboraram o Guia de Ações Municípios Saudáveis – Transformando Comunidades, Cuidando de Pessoas, material que está sendo disponibilizado para os candidatos a prefeito das 645 cidades paulistas. Nele, entre outras proposições, são apresentadas quatro agendas prioritárias para os futuros prefeitos e secretários municipais de Saúde: doenças crônicas, envelhecimento saudável, controle de epidemias e saúde mental. Para esta última agenda, a publicação defende a formação e capacitação das equipes da atenção básica para que adotem um olhar integral à saúde, incluindo os transtornos mentais, comportamentais e cognitivos, estratégias de prevenção, criação de políticas que suportem a saúde mental no trabalho e nas escolas, além de programas de intervenção precoce, especialmente para crianças e adolescentes.  

            Medalhistas olímpicos não chegam ao pódio sem antes superar limites e enfrentar dificuldades. Assim como os atletas, um ser humano saudável é aquele que se encontra em perfeita harmonia física, psicológica, espiritual e emocional. No dia em que conquistou o ouro olímpico por equipes em Paris, a ginasta Simone Biles começou o dia com terapia e, em entrevista coletiva logo após a competição, proferiu uma frase que é exemplo de superação e uma motivação para os que atravessam problema semelhante: “Neste momento, nada pode me quebrar”. Que possamos implementar políticas de saúde mental capazes de prevenir, promover e, depois de diagnosticado o problema, assistir e recuperar nossos cidadãos.

Francisco Balestrin

Presidente do SindHosp e da FEHOESP

Artigo publicado na edição de agosto/24 da revista LaborNews. Clique aqui e acesse a íntegra da publicação.

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Na saúde, não compre gato por lebre

O ditado popular que intitula este artigo é provocativo, à medida que as eleições municipais se aproximam. Votar é um direito constitucional e precisa ser encarado com sensatez. Uma das premissas para o voto consciente é lembrar que “o quadro é mais importante do que a moldura”, portanto, o eleitor não deve se deixar enganar por frases de efeito, aparências ou cenas de propaganda política. Conhecer a trajetória e os planos dos candidatos para as áreas que realmente interessam à sociedade é o caminho para não cair em armadilhas.

Nos últimos processos eleitorais, a polarização impediu uma discussão mais aprofundada sobre temas importantes, como saúde, educação, meio ambiente, segurança pública e geração de empregos. O debate e a apresentação de propostas praticamente inexistiram, em um cenário mesquinho que, lamentavelmente, persiste. Agressões ideológicas e discursos vazios desviam a atenção do eleitor e só servem para beneficiar aqueles que nada ou pouco têm a oferecer, caso eleitos (lembram da moldura?).

Recente pesquisa Genial/Quaest aponta a saúde como o segundo mais grave problema da cidade de São Paulo, só perdendo para a segurança pública. Com a consciência de que é preciso mudar essa realidade, propor ações para melhorar a saúde das pessoas e visando qualificar o debate político (lembram da pintura?), a Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) desenvolveu e está apresentando aos pré-candidatos às Prefeituras o Guia de Ações Municípios Saudáveis – Transformando Comunidades, Cuidando de Pessoas.

Como são nas cidades que a saúde pública se concretiza, esse Guia objetiva contribuir para a construção de uma agenda inovadora e positiva, que leve a uma melhor organização e gestão do sistema de saúde municipal. Ele foi desenvolvido para que possa ser adaptado e servir de referência para todos os 645 futuros gestores da saúde dos municípios paulistas, afinal, uma organização mais eficaz da saúde municipal pode garantir, por exemplo, o acesso universal aos serviços, promover a prevenção, prover o cuidado, assegurar maior integração entre público e privado, a qualidade assistencial e a melhoria dos indicadores em saúde.

 No Brasil, a complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS), maior sistema de saúde público do mundo e com gestão tripartite, não consegue inibir os imprudentes. Ainda é comum, infelizmente, que o maior posto da saúde nas cidades seja ocupado pelo médico pessoal ou correligionário político do prefeito, sem o mínimo preparo para o cargo ou conhecimento do sistema. Um secretário ou secretária municipal de Saúde deve conhecer, pelo menos, o funcionamento do SUS, os mecanismos de participação social, de financiamento e ter capacidade técnica para estabelecer pactos assistenciais regionais.

 Mudanças constantes na condução da saúde municipal favorecem também o rompimento de programas e causam danos especialmente à atenção primária. Essa prática, porém, é comum. Levantamento do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (COSEMS) entre 2021 e 2023 aponta que 40% dos municípios paulistas efetuaram trocas de secretários no período. O tempo médio de permanência no cargo de um secretário municipal de Saúde é de 1,8 ano, segundo o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS). O órgão também estima que aproximadamente 300 novos secretários municipais de saúde assumem o cargo todos os meses no país. O problema é sério, pois gera desperdícios, impede a execução do programa de governo traçado para o setor e traz prejuízos diretos à população, ao SUS e ao setor privado com e sem fins lucrativos (santas casas).

Na saúde, para garantir acesso e uma assistência integral a todos os cidadãos é necessária uma abordagem colaborativa e organizada que envolva toda a sociedade. É, portanto, essencial propor ações com capacidade de inovar, garantir a sustentabilidade do sistema de saúde e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nas próximas eleições temos a chance de escapar da polarização, pois só assim deixaremos de andar em círculos e conseguiremos implementar políticas públicas que garantam mais dignidade e justiça social.

Um provérbio chinês ensina que “podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que semeamos”. Que o bom senso prevaleça e o eleitor não compre gato por lebre nessas eleições.

Francisco Balestrin

Presidente do SindHosp e da FEHOESP

Artigo publicado em 17/08 pelo jornal Correio Braziliense. Clique aqui e veja a publicação

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As mudanças climáticas e as ameaças à saúde

Os brasileiros ainda acompanham, atônitos, à tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul (RS). Em meio ao caos, movimentos de solidariedade se espalham pelo país, angariando água potável, roupas, alimentos, remédios, produtos de limpeza e recursos financeiros. Alguns se tornam voluntários, prestando ajuda humanitária in loco. Lamentavelmente, enquanto alguns arregaçam as mangas, muitos, sentados nos sofás confortáveis de seus lares, espalham notícias falsas pelas redes sociais, dificultando esse trabalho. Em uma missão, chamada “Querência Amada”, o SindHosp, a Viveo e os hospitais do Coração (HCor) e Osvaldo Cruz angariaram mais de 80 toneladas de produtos em prol do povo gaúcho. Como sempre, temos o livre arbítrio de decidir de que lado desejamos estar.

O fato é que nossas decisões pessoais, profissionais e políticas têm impacto direto sobre o sistema e a saúde das pessoas. As tristes enchentes no RS são consequência direta de uma das maiores ameaças à saúde global do século XXI, que são as mudanças climáticas. Desde 1950, o número de enchentes ao redor do mundo aumentou 15 vezes, eventos de temperaturas extremas aumentaram 20 vezes e os incêndios se tornaram sete vezes mais frequentes. Alguns podem estar se questionando: o que isso tem a ver com a saúde?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas devem causar aproximadamente 250 mil mortes adicionais por ano, provocadas principalmente por desnutrição, malária, diarreia, hepatite A, leptospirose e outras doenças infecciosas. Isso sem contar a insegurança alimentar, que tem impacto direto sobre a qualidade de vida, e as consequências para a saúde mental, com o aumento de distúrbios como ansiedade e depressão.

Como profissionais e lideranças do setor temos o compromisso ético de falar sobre o assunto e conclamar que os governos assumam suas responsabilidades e adotem medidas, por exemplo, que melhorem o uso do solo, reduzam a pobreza, estabeleçam códigos de construção mais consistentes e sustentáveis e protejam os ecossistemas. Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez outro alerta, lembrando que o desmatamento tem reflexo direto também no surgimento de novas pandemias.

Precisamos entender, definitivamente, que é dever de cada um de nós cuidar de nosso planeta e exigir que esse cuidado encontre eco nas leis e fiscalizações, poupando vidas e recursos financeiros. Somente assim conseguiremos minimizar os efeitos das mudanças climáticas e planejar a construção de um futuro mais sustentável.

Francisco Balestrin

Presidente do SindHop

Artigo publicado na edição de maio/2024 da revista Labor News. Clique aqui e leia a publicação na ínregra

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