Só no Brasil, quase um milhão de pessoas recebem atenção domiciliar por ano. Apesar de o termo "home care" ter se popularizado nos últimos tempos, a prática é muito antiga, anterior à medicina convencional, quando os hospitais eram escassos e o paciente era tratado em casa. Hoje, esse tipo de atenção voltou à tona e é indicado a pacientes que não precisam ser mantidos em ambiente hospitalar.
“Há patologias agudas, casos de acidentes e pós-operatórios, por exemplo, em que os pacientes devem ser mantidos nos hospitais. Mas, saindo dessa fase aguda e se o paciente tem estabilidade clinica e uma casa onde possa ficar sem riscos, a equipe médica pode indicar a atenção domiciliar", explica Ari Bolonhezi, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de Serviços de Atenção Domiciliar à Saúde (SINESAD).
Com a demanda, hoje já existem cerca de 230 mil profissionais – entre enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos – que atuam no setor. E um dos problemas a serem enfrentados é a confusão entre esse atendimento e o papel de cuidador, como aquele que proporciona higiene ao paciente, banho, alimentação e companhia.
Como a linha é tênue, é comum um profissional da saúde receber pedidos – ou até ordens – da família para que, por exemplo, dê banho e sirva comida ao paciente. “A atenção domiciliar não deve ser um serviço de pajem”, alerta Bolonhezi.
A diferença é simples: a atenção domiciliar tem a função de administrar medicações que uma pessoa sem formação não poderia fazer (injeções, por exemplo), além de manter o paciente em vida e recuperando-se cada dia mais. Já o papel dos cuidadores é visar pelo bem-estar do paciente, como higiene pessoal – não é papel dos enfermeiros do atendimento domiciliar dar banho em casa em um paciente acamado. A alimentação também é tarefa do cuidador, que deve seguir as ordens da nutricionista. A essa profissional cabe preparar o diário alimentar, mas não cozinhar para o paciente, tampouco dar a comida à beira do leito.
Para ilustrar, o médico usa o exemplo de uma paciente que não tem controle de suas necessidades fisiológicas e nem se alimenta sozinho. "Ele precisa de atendimento de enfermagem 24 horas por dia? Muitos dizem que sim, mas a situação dele é similar à de uma criança de seis meses de idade, em que a mãe é perfeitamente capaz de cuidar dela”, detalha Bolonhezi.
Para o médico, o suporte social proporcionado pelo cuidador é importante, mas a responsabilidade não cabe ao Ministério da Saúde ou às operadoras de saúde.
Tipos de atenção domiciliar
A atenção domiciliar é dividida em duas partes e destinada a dois tipos de pacientes: atendimento ambulatorial em casa e internação domiciliar.
A internação domiciliar presta serviço a quem precisava estar dentro de um hospital, por depender de alta tecnologia e também alguns serviços repetitivos de alguma área da saúde, mas que já está estável. Assim, leva-se o paciente para casa e monta-se uma estrutura personalizada. "Alguns precisam de equipamentos de sobrevida, por exemplo. A fisioterapia, nutrição e psicologia também dão qualidade de vida ao paciente em casa”, detalha Bolonhezi.
Já no ambulatório domiciliar o paciente recebe visita de enfermeiros na mesma frequência que recebia no hospital. Se ele precisava do atendimento de enfermagem, fisioterapia e outros cuidados médicos duas vezes ao dia, por exemplo, ele será feito dessa mesma forma no próprio lar. Se os procedimentos que o paciente precisa passar são repetitivos, um enfermeiro estará à disposição 24 horas por dia dentro da casa.