Médicos, empreendedores e líderes dos setores público e privado reuniram-se no Fórum Big Data em Saúde, realizado em 15 de junho, no Auditório Pequeno do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), para debater os conceitos de big data na saúde, tecnologias de análise e gerenciamento de grandes bases de dados, além dos desafios e oportunidades para o futuro no setor.
Big Data é o termo amplamente utilizado nomear um número de dados muito grandes ou complexos, que mesmo os mais complexos aplicativos de processamento ainda não conseguem ler. No processo, análise, captura, curadoria de dados, pesquisa, compartilhamento, armazenamento, transferência, visualização e informações sobre a privacidade de cada dado coletado. Uma maior precisão nas informações pode levar à tomada de decisões com mais confiança, significando maior eficiência operacional, além de reduções de riscos e custos.
Este foi o tema da palestra de abertura do evento, ministrada pelo ex-superintendente do Hospital Sírio-Libanês e ex-secretário municipal de saúde de São Paulo, Gonzalo Vecina Neto. “Atualmente temos um grande problema para a coleta de dados no Brasil. Há uma divergência de informações entre o que vemos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no CNES e nos próprios hospitais, públicos ou privados. Cada um criou uma metodologia de coleta, dificultando o avanço de discussões que poderiam beneficiar todo o setor”, explicou.
Hoje, o uso de big data tem crescido na saúde. Entre as principais áreas estão em que os dados são utilizados na medicina destacam-se medicina de precisão, prontuários eletrônicos dos pacientes, internet das coisas e políticas públicas. Luis Fernando Correia, médico e comentarista de saúde, foi o mediador da mesa de debates que utilizou como exemplo ao Brasil os Estados Unidos e seus bancos de dados abertos disponíveis através do National Institutes of Health (NIH). Na discussão, Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho, economista e professor doutor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, explicou que porque o big data permite um tratamento individualizado.
“A quantidade de dados coletadas permite uma análise mais profunda, possibilitando um tratamento mais específico”, disse. “Hoje em dia um mesmo medicamento pode ser utilizado para todas as pacientes com câncer de mama, por exemplo. Nós caminhamos para um futuro inovador onde cada paciente poderá saber qual medicamento se adapta melhor ao seu corpo”. Com a mesma opinião, Fabio Gandour, médico e cientista-chefe da IBM Brasil, afirmou ainda que o setor precisa ser paciente no desenvolvimento das informações. “O saber leva tempo e a saúde depende da metodologia científica. O que precisamos fazer é a ação de transformar o dado em informações e posteriormente em conhecimento”.
Estudo inédito
Durante o fórum, foi apresentado um estudo inédito que projetou a mortalidade, por tipo de câncer, nas cinco regiões brasileiras em 2029. O dado alarmante levantado pelo Observatório de Oncologia, iniciativa do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (MTJCC), organizadores do trabalho, é de que o câncer será a causa número um de mortes no país na data.
“O Observatório de Oncologia tem a missão de usar os dados para influir na tomada de decisão sobre políticas de prevenção e tratamento”, afirmou Merula Steagall, presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e líder do MTJCC. “A utilização destes grandes bancos de dados baseia com evidências essas tomadas de decisões e auxilia a avaliação e monitoramento das políticas de saúde e no empoderamento da sociedade”, ressalta.
O documento tem como base de dados são do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São utilizadas informações sobre incidência de câncer, atendimentos ambulatoriais, internações hospitalares e mortalidade. A plataforma online contem dados abertos e compartilhamento de informações relevantes da área de oncologia do Brasil, abrangendo dimensões demográfica, epidemiológica, de assistência à saúde, de rede assistencial, entre outras.