10 de fevereiro de 2014

Teste rápido de tuberculose começa este mês em 6 cidades do país

O PNCT (Programa Nacional de Controle da Tuberculose), do Ministério da Saúde, começa a fazer, ainda este mês, nas cidades do Rio de Janeiro, de Manaus, do Recife, de São Paulo, Porto Alegre e Brasília o novo exame rápido que identifica a doença em menos de duas horas.
 
Um teste piloto para avaliar a implantação do novo exame foi feito no ano passado nas capitais dos estados do Rio e do Amazonas e chegou ao fim  em dezembro. O piloto fez parte do projeto "Inovação no controle da tuberculose no Brasil”, desenvolvido pelo PNCT em parceria com a Fundação Ataulpho de Paiva e o patrocínio da Fundação Bill e Melinda Gates.
 
O coordenador do PNCT, Draurio Barreira, explicou à Agência Brasil que se trata de um teste novo no mundo. Dois países tiveram uma postura pioneira em relação a esse exame, embora diferenciada. Enquanto a África do Sul decidiu implantar imediatamente o teste rápido, em substituição à baciloscopia, que é o exame tradicional de detecção da tuberculose, o Brasil  optou  por fazer um estudo piloto em duas cidades consideradas de alta carga “para avaliar a performance do teste e depois implantar”.
 
Agora, o PNCT decidiu implantar o teste rápido em todo o país. As máquinas para o exame já estão no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão — Antonio Carlos Jobim, aguardando liberação pela alfândega.  A encomenda total soma 160 máquinas. Na primeira leva, foram entregues 50 máquinas e as 110 restantes deverão ser entregues ainda em fevereiro.
 
“Nosso compromisso é que seis estados, este mês, iniciem o teste como rotina. Agora não mais como estudo, mas como rotina”, reiterou Draurio Barreira. Ele lembrou que após a liberação pela alfândega, as máquinas serão doadas pelo Ministério da Saúde às secretarias municipais de Saúde das seis capitais brasileiras que iniciarão o processo.
 
A expectativa do coordenador do PNCT é que em 24 de março próximo, quando se comemora o Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, todas as  capitais mais 92 municípios já estejam realizando o teste rápido. Ele acredita que antes que se faça uma campanha de divulgação do início da nova rede de testes rápidos, muitas unidades de Saúde já estarão utilizando o método, considerado revolucionário.
 
O novo exame mais rápido e eficaz para o diagnóstico da tuberculose, o Xpert, é o primeiro método de biologia molecular usado com essa finalidade. Draurio Barreira explicou que o bacilo da tuberculose, conhecido como bacilo de Koch, foi descoberto em 1882. “E desde então, o método de diagnóstico, basicamente,  é o mesmo. É visualizar o bacilo no escarro das pessoas. Agora, não. A gente começa a trabalhar com biologia molecular, o que já é uma tecnologia utilizada para várias doenças, mas a tuberculose foi, infelizmente, durante muitas décadas, uma doença negligenciada”. A partir de agora, com investimentos da indústria e dos governos, esse cenário foi alterado, disse.
 
Como a tuberculose é, atualmente, a doença que mais mata as pessoas que vivem com HIV, o investimento que sempre foi feito no campo da aids, a partir da década de 80, também se voltou para a doença. “Com isso, começam a aparecer os primeiros resultados”.  Entre eles, estão o teste rápido de biologia molecular e novas drogas desenvolvidas especificamente para a tuberculose. A doença foi declarada prioridade global pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 1993.
 
Draurio Barreira informou que até a sua vinculação com a aids, a tuberculose era uma doença que não interessava à indústria farmacêutica em geral, por não se tratar de uma doença rentável, uma vez que afeta mais a população pobre. Em termos do investimento público, disse que o Brasil aumentou em 14 vezes o orçamento para a tuberculose nos últimos dez anos.
 
O teste rápido para detecção da tuberculose será usado apenas na rede pública de saúde. O coordenador do PNCT informou que alguns laboratórios privados do Rio de Janeiro e de São Paulo já realizam esse exame. “Só que o valor  para a iniciativa privada é muito mais alto. É praticamente proibitivo para a população mais pobre”. Por meio de convênio com a Fundação Bill e Melinda Gates,  o Brasil foi incluído entre os países em desenvolvimento e de alta carga para conseguir as máquinas que fazem os novos testes.  “O Brasil entrou duplamente no critério de país emergente e também de alta carga de tuberculose”.
 
Segundo Barreira, o custo desse teste hoje para o setor privado é entre quatro e cinco vezes maior do que no serviço público, que tem o subsídio da Fundação Gates. Ele lembrou que a tuberculose, no Brasil, “é de absoluta responsabilidade pública”. Mesmo uma pessoa diagnosticada na rede privada com tuberculose é referenciada para o SUS (Sistema Único de Saúde), onde recebe o tratamento gratuito. Os medicamentos para tuberculose não estão disponíveis nas farmácias.
 
Barreira disse que a situação da tuberculose no Brasil não é tão dramática como em países africanos ou asiáticos. Enquanto a  mortalidade por tuberculose no mundo é 25 mortes por 100 mil habitantes, o índice no Brasil é 2,4 mortes na mesma proporção. “Menos que dez vezes a mortalidade média global”. A incidência, ou seja, o número de casos pela população, está em 36 casos por 100 mil pessoas no Brasil, contra 250 casos por 100 mil no mundo.
 
“Então, temos uma situação relativamente confortável”. O coordenador do PNCT acrescentou que mesmo assim, considerando que se trata de uma doença antiga, com métodos diagnósticos e terapêuticos  desenvolvidos há mais de 100 anos, é inadmissível que se tenha ainda tantos casos e tantas mortes. A prioridade dada à tuberculose pelo governo brasileiro decorre também do fato de a doença estar associada à classe social mais pobre, além de fatores como a concentração demográfica, o tabagismo, os hábitos alimentares, a aids.
 
Por essa razão, o enfrentamento da tuberculose pelo governo brasileiro é feito do ponto de vista biológico e social. Daí  a existência de  propostas de bene

Pesquisadores da USP usam corrente elétrica para tratar depressão

Cientistas da USP (Universidade de São Paulo) desenvolveram uma nova técnica para o tratamento da depressão. Uma estimulação elétrica indolor feita com a ajuda de dois eletrodos, colocados na cabeça do paciente, poderá servir como alternativa para quem sofre da doença, mas não toma os medicamentos antidepressivos devido aos fortes efeitos colaterais.
 
De acordo com o coordenador da pesquisa, o médico psiquiatra Andre Russowsky Brunoni, pessoas jovens, as mais acometidas pela depressão, evitam remédios para a doença porque muitas vezes eles vêm acompanhados de ganho de peso e disfunção sexual. Mulheres grávidas ou que estão amamentando também são impedidas de ingerir essa medicação.
 
Segundo o cientista, os eletrodos transmitem uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade para a área do cérebro que envolve a depressão, o córtex dorso lateral pré-frontal. A corrente corrige o baixo funcionamento dessa região cerebral, característica de quem sofre de depressão. “A estimulação elétrica aumenta a atividade dessa área do cérebro. Com isso, a gente tenta melhorar os sintomas depressivos”, explicou.
 
O procedimento dura 30 minutos e é repetido por 15 dias consecutivos. “Algumas pessoas sentem um leve formigamento na cabeça, mas outras não sentem absolutamente nada”, conta.
 
Outra vantagem da nova técnica em relação aos antidepressivos é a forma de atuação no organismo. Enquanto o remédio age em neurotransmissores que atuam no cérebro inteiro, ocasionando reflexos negativos em outras partes do corpo, a estimulação elétrica atua diretamente no córtex pré-frontal.
 
Além disso, embora o resultado de ambos os tipos de tratamentos (remédio e estimulação elétrica) seja o mesmo, o medicamento acaba passando por outras áreas subcorticais para só depois chegar ao córtex pré-frontal.
 
Esta não é a primeira vez que a eletricidade é usada no tratamento de transtornos mentais. Russowsky cita a tradicional técnica do eletrochoque, usada há 75 anos por psiquiatras. De acordo com ele, esse é um tratamento bem mais radical do que a estimulação que está sendo desenvolvida pela USP, destinado a pacientes com quadros muito graves. “É uma carga elétrica mil vezes maior do que a gente usa”, disse.
 
O tratamento por eletrochoque tem como objetivo provocar uma crise convulsiva em pacientes que apresentam casos graves de transtornos mentais, o que estimula a regulação de hormônios e de alguns neurotransmissores. “A única semelhança entre as duas técnicas é que elas usam a eletricidade, mas de forma bem diferente. O eletrochoque é um pulso elétrico para fazer uma crise convulsiva, a gente usa uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a atividade no cérebro”, define.
 
A estimulação criada pelo grupo de Russowsky já foi testada, há três anos, em 120 pacientes. “O resultado principal foi que a combinação da estimulação com o antidepressivo dava efeitos mais potentes que cada tratamento separado”, disse o médico.
 
O próximo passo da pesquisa será testar a estimulação sozinha. Serão recrutados 240 voluntários, entre 18 e 75 anos, com diagnóstico de depressão, no mínimo, moderada e que apresentem sintomas da doença.
 
Em um teste cego, metade dos pacientes vai receber o antidepressivo Escitalopram, e a outra metade recebe a estimulação elétrica. “Nem o paciente, nem o pesquisador saberão o que estão recebendo, senão favorece inconscientemente um dos grupos”, esclarece.
 
Ao final da pesquisa, aqueles voluntários que foram testados com o antidepressivo, e que não tiveram melhora do seu quadro, poderão receber o tratamento com a estimulação elétrica.
 
Nos próximos três anos, as equipes de Russowsky vão aceitar voluntários interessados em participar da pesquisa. Basta enviar e-mail para pesquisa.depressao@gmail.com. 

Saúde abre consulta pública para tratamento de HIV

A Secretaria de Vigilância em Saúde lançou, em 7 de fevereiro, consulta pública para tratamento da infecção pelo vírus HIV em crianças e adolescentes. A consulta ficará disponível no site do Ministério da Saúde por 30 dias. A ideia do Ministério é que todos possam contribuir para o aperfeiçoamento do tratamento do vírus.
 
As sugestões enviadas deverão estar devidamente fundamentadas em estudos clínicos realizados no Brasil ou no exterior, inclusive com material científico que dê suporte às proposições. Os arquivos dos textos e das fontes bibliográficas devem, se possível, ser enviados como anexos.
 
O Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida e Hepatites Virais, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, vai coordenar a avaliação das proposições recebidas e a elaboração da versão final consolidada do "Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Crianças e Adolescentes", para fins de posterior aprovação, publicação e entrada em vigor em todo o território nacional.
 
Clique aqui para acessar a consulta.

Paulistas que forem a PE e CE devem tomar antes vacina contra o sarampo

A Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo decidiu fazer um alerta à população paulista que pretende viajar para os Estados de Pernambuco e Ceará, no Nordeste, para que tomem a vacina contra o sarampo. O ideal é que a imunização ocorra 10 dias antes da viagem. Os dois estados vêm registrando casos da doença neste ano.
 
A vacina tríplice viral, que está disponível gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde), é a medida de prevenção mais segura e eficaz contra o sarampo, protegendo também contra a rubéola e a caxumba.
 
Em 2013, a doença esteve presente em diferentes regiões do mundo, resultando em óbitos no Paquistão e Nigéria, e milhares de casos na China, Turquia, Rússia, Georgia, Gabão, e no Reino Unido. Os Estados Unidos registraram surtos em três estados, relacionados à importação do vírus da Índia e Reino Unido.
 
No Estado de São Paulo foram registrados cinco casos de sarampo em 2013, todos vinculados à importação de outros países. Mas desde 2.000 o Estado não registra circulação endêmica do vírus.
 
Segundo Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria, os casos de sarampo são mais comuns durante a infância, mas na idade adulta e em crianças menores de um ano de vida os riscos de complicações pelo vírus costumam ser maiores.
"A vacina ainda é a forma mais segura de prevenção", assegura Boulos.
 
Pelo calendário do SUS, a primeira dose da vacina deve ser aplicada aos 12 meses de idade e a segunda, entre quatro e seis anos. Para os adultos não imunizados, a vacina também está disponível e é indicada para os nascidos a partir de 1960.
 
O sarampo é uma doença de natureza viral altamente contagiosa. Sua transmissão ocorre através do contato com uma pessoa infectada ao falar, tossir ou espirrar. Também têm sido observados alguns casos de contagio por dispersão de gotículas em ambientes fechados, como por exemplo, escolas, clínicas médicas e creches. As pessoas que viajaram ao exterior nos últimos 30 dias ou tiveram contato no mesmo período com alguém que viajou devem ficar atentas quanto aos sintomas da doença.
 
A doença geralmente se manifesta de forma mais acentuada nos primeiros dias após o contágio e os principais indícios do vírus são febre alta, tosse, coriza, conjuntivite e aparecimento inflamações avermelhadas na pele. Ao perceber os sintomas, o indivíduo deve procurar imediatamente atendimento médico.

Segundo a Folha de S. Paulo, país vive “apagão” de tratamento em transtornos mentais

Reportagem da Folha de S. Paulo denuncia o que o SINDHOSP, por meio de seu departamento de Saúde Mental, vem denunciando há anos: há cada vez menos leitos para tratamento psiquiátrico, e a rede ambulatorial está sucateada. 
 
Leia a reportagem:
 
(Por Cláudia Collucci)
 
Treze anos após a aprovação da lei que deu início à reforma psiquiátrica, que prioriza o atendimento comunitário em detrimento das internações, o país vive um "apagão" nos cuidados aos doentes com transtornos mentais.
 
Hoje há cerca de 27 mil leitos psiquiátricos, sendo 20 mil ocupados por doentes crônicos. Segundo projeções, seriam necessários 70 mil leitos para atender a atual demanda de doentes mentais.
 
Na década de 90, o país tinha 200 mil leitos. Mas a realidade era cruel. Os pacientes viviam em manicômios, longe do convívio familiar e social.
 
Com a reforma psiquiátrica, esses locais foram sendo fechados, mas o país ainda não conseguiu criar uma rede eficiente de atenção à saúde mental que garanta, por exemplo, consultas e tratamento com psiquiatras e psicólogos no SUS e leitos para situações de emergência.
 
O debate reaqueceu nos últimos dias com a posse do novo ministro da Saúde, Arthur Chioro, conhecido militante da luta antimanicomial e que já se posicionou contra os hospitais psiquiátricos. O temor dos médicos é que haja ainda mais cortes de leitos.
 
Segundo o Ministério da Saúde, as posições de Chioro estão em acordo com a atual política de saúde mental (leia texto nesta página).
 
O vácuo assistencial pode ser visto nas emergências dos hospitais gerais e psiquiátricos, para onde vão doentes agudos (em surto psicótico).
 
"Ficam ali agitados, circulando no meio de outros pacientes, até surgir uma vaga de internação", conta o psiquiatra Rodrigo Bressan, que coordena o programa de esquizofrenia da Universidade Federal de São Paulo.
 
Os doentes menos graves, após estabilizados com remédios, têm alta e orientação para procurar ambulatórios ou os Caps (Centros de Atenção Psicossocial). Mas como não encontram vagas ou não aderem ao tratamento, surtam e voltam aos prontos-socorros.
 
"É uma porta giratória. Entram, saem e voltam em pior situação. Ninguém quer o que existia antes, mas a realidade hoje também é cruel", afirma o psiquiatra Quirino Cordeiro Júnior, chefe do departamento de psiquiatria da Santa Casa de São Paulo.
 
Superlotação
A Santa Casa gerencia dois dos maiores prontos-socorros psiquiátricos do país, que, juntos, atendem cerca de 2.000 pacientes por mês.
 
"Estão sempre superlotados, trabalhamos com o triplo da capacidade", conta.
 
Segundo ele, muitos casos simples (renovação de receita, por exemplo) sobrecarregam os PSs e poderiam ser atendidos na rede básica, se houvesse estrutura. Uma consulta com psiquiatra no SUS chega a demorar um ano.
 
"Os Caps são muito importantes, mas estão sendo negligenciados. São poucas unidades, poucos profissionais e uma estrutura física precária", diz o promotor público Luiz Roberto Faggioni, que já instaurou inquérito civil para apurar as irregularidades.
 
A situação de caos não é exclusiva de São Paulo e se repete em todo o país, segundo Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.
 
"Hoje não temos leitos, não temos consultas, não temos nada. É um apagão. Em vez de fechar os hospitais psiquiátricos, o governo deveria qualificá-los e readequá-los."
 
Ele defende um sistema em rede, com atendimento primário, secundário e terciário –como prevê, no papel, a atual política.
 

Médicos estão preocupados com falta de doadores de fígado

A carência de doadores de fígado no Brasil é preocupante. O alerta é de médicos especialistas e dos próprios transplantados. Eles apontam que o país conta com número muito abaixo do ideal para suprir a demanda de transplantes de doadores não vivos em adultos. 
 
De acordo com o membro do corpo clínico do Serviço de Transplante de Órgãos e Cirurgia de Fígado do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Wellington Andraus, apenas 35% dos transplantes de fígado necessários são feitos no país.
 
“Uma estimativa da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos aponta que seriam necessários 25 transplantes por milhão de habitantes por ano no Brasil e conseguimos apenas 8 transplantes por 1 milhão de habitantes por ano. Apenas um terço dos transplantes são efetuados, os outros, 65% das pessoas que precisam deste procedimento morrem na fila”, lamentou ele.
 
Segundo o médico a situação é ainda mais grave em São Paulo, onde há maior fila de pacientes na lista de espera do país, em números relativos e absolutos. Ele ressaltou que a escala Meld-Modelo para Doença Hepática Terminal – que pontua a gravidade da doença hepática crônica, em pacientes hospitalizados em São Paulo está entre 32 e 33 [83% de mortalidade]. “Em países como os Estados Unidos e os da Europa essa escala está em torno de 20 [76% de mortalidade].
 
O problema prosseguiu o cirurgião é multifatorial, como carência de serviços de saúde em regiões pobres do país, precariedade do sistema de saúde em alguns hospitais, entre outros.
 
Existem duas modalidades possíveis para transplante hepático: doadores falecidos por morte encefálica e intervivos (família ou aparentados compatíveis que doam para o paciente com fígado doente). Andraus explicou que o ideal é que não seja necessária a doação de intervivos, para evitar risco cirúrgico para as pessoas saudáveis.
 
“A estimativa é que ocorrem 50 a 60 mortes encefálicas por milhão de habitantes por ano. Se conseguíssemos 25, já estaríamos atendendo às nossas necessidades”, comentou ele ao admitir que praticamente nenhum país tem autossuficiência em doadores. “Só que aqui essa relação está muito pior do que a de outros países, inclusive, da América do Sul”, explicou.
 
Ele reconhece o esforço do Ministério da Saúde em descentralizar a captação dos órgãos e treinar cirurgião, mas acredita que um dos gargalos é a falta de campanhas dentro da própria área de saúde para que os médicos e enfermeiros notifiquem potenciais doadores.
 
A colaboradora da Associação Brasileira dos Transplantados de Fígado e Portadores de Doenças Hepáticas (Transpática) e coordenadora de casa de apoio de transplante em São Paulo, Andrea Teixeira Soares acredita que é possível melhorar mais a captação dos órgãos de doadores com morte encefálica.
 
“A maioria dos hospitais tem pouca estrutura. Muitas vezes, falta leito para manter o doador que já está em morte cerebral, falta incentivar as equipes a notificarem, pois muitos doadores morrem sem serem notificados”, comentou ela que é transplantada há 14 anos e precisou esperar dois anos na fila por um novo fígado.
 
“A espera é muito angustiante. Assim como eu, havia várias pessoas no ambulatório à espera de transplante. Quando um deles falecia era um baque para todos os outros, a gente se perguntava se conseguiria chegar a nossa vez. É uma fase de bastante insegurança. Mas não temos outra alternativa senão aguardar”, comentou.
 
Andrea Soares ressaltou a importância das campanhas de conscientização.“Não bastam campanhas pontuais, na época da semana de doação de órgãos em setembro, são necessárias campanhas constantes que esclareçam às famílias como é o processo de doação e explicar que a morte encefálica é irreversível”, disse.
 
“Muitas famílias recusam-se a doar os órgãos do parente morto por não compreenderem o que é morte cerebral e acreditarem que enquanto o coração bater a pessoa continuará viva e irá se recuperar”, acrescentou.
 
Apesar dos desafios enfrentados no país, ela acredita que a situação da fila de transplantes melhorou muito nos últimos anos e elogiou a mudança do critério cronológico para o de gravidade a partir de 2006.
 
“Na época em que fiz o transplante, o critério era cronológico e muitas vezes aquele que estava no princípio da fila estava melhor do que o paciente que ocupava o último lugar e, provavelmente, essa pessoa acabava falecendo. Agora está um pouco mais igualitário,” opinou ela. “Mas nenhum critério será suficientemente justo”, ponderou. 
 
Os problemas mais comuns com o fígado que acabam gerando a necessidade do transplante no Brasil são ocasionados predominantemente pelo vírus C, responsável por alto índice de cirrose, além do álcool, hepatites autoimunes, gordura no fígado, entre outras causas.
 
Até o fechamento desta matéria, o Ministério da Saúde não havia se pronunciado sobre a situação da fila de transplantes de fígado no país.
 
 
 
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