Sindhosp

Giuliano Agmont

Modelo de remuneração de serviços representa um desafio para hospitais

O Grupo Técnico Financeiro do SindHosp abordou, em sua última reunião, um tema sensível às instituições de saúde, em especial hospitais. A coordenadora do GT, Carolina Dantas, atual diretora de Pessoas, Controladoria e Finanças do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo (SP), falou sobre os desafios em torno dos modelos de remuneração dos serviços de saúde. “Os gestores de instituições de saúde precisam entender como as estruturas de prestação de serviços e precificação influenciam na defesa de margens”, resumiu Carolina Dantas na abertura do evento virtual, que aconteceu no dia 15 de setembro.

Do ponto de vista financeiro, a perenidade e a longevidade do negócio dependem de um complexo equilíbrio na relação que se estabelece entre as instituições de saúde, os pacientes, as equipes assistenciais e as fontes pagadoras – que são as operadoras de planos de saúde. “Há em curso no mundo, e no Brasil, uma transição de modelos de remuneração de serviços de saúde, com foco cada vez maior no paciente, ou seja, no pagamento por desempenho. No futuro, a tendência é a de se trabalhar com uma coordenação do cuidado, privilegiando o monitoramento de desfechos clínicos e o aprimoramento da qualidade do sistema”, explicou a coordenadora do GT Financeiro do SindHosp.

Comitê de avaliação de margens

Segundo Carolina Dantas, a evolução dos modelos de remuneração depende de uma mudança cultural que influencie as áreas produtivas a pensarem a prestação de serviços sem ofender a defesa de margens necessárias para a sustentabilidade do negócio. “Por isso recomendamos que haja um comitê de avaliação de margens, com pessoas das diferentes áreas. Mas por que um comitê? Para que haja mandatos, de um a dois anos, no máximo”, recomendou Dantas.

A coordenador do GT Financeiro do SindHosp considera que o futuro da saúde depende da coordenação do cuidado, mas alerta: “Modelos de pagamento por desempenho exigem um esforço estruturado de toda cadeia de serviços de saúde, do cuidado em si até a estrutura de informações e de comunicação. Pensar a coordenação do cuidado transcende àquela unidade de saúde, passa a ser regida pelo paciente, e não pela unidade de saúde em si”. E acrescenta: “A coordenação do cuidado sendo feita de modo fluído entre todas as instituições que prestaram serviço de saúde para um determinado paciente tende a assegurar à fonte pagadora uma redução de sinistralidade importante. Além disso, à medida que nos distanciamos dos modelos mais antigos de remuneração, nos aproximando dos modelos que olham para os desfechos, ocorre uma transferência do risco de quem paga para quem presta os serviços”.

Eficiência e qualidade

A dúvida do mercado é se isso está ou não próximo de acontecer. Para Carolina Dantas, as instituições de saúde estão repensando suas estruturas de custos de modo a conciliar ganho da eficiência operacional com manutenção ou aumento da qualidade de atendimento. “Elas sabem que são necessidades indissociáveis e inegociáveis, mas quantas estão investindo na estruturação das informações e da comunicação dos dados de saúde? Este é o desafio: entender de que forma a gente viabiliza, no futuro, a coordenação do cuidado com transparência para as fontes pagadoras através da estrutura de informações e de comunicação. Temos de lembrar que as operadoras de planos de saúde estão vivendo um momento crítico com a elevação do índice de sinistralidade, e essa crise terá reflexo em toda a cadeia de custos”.

Na prática, a pergunta que fica é: as instituições de saúde brasileiras estão maduras para que possam evoluir com os modelos de remuneração voltados para desfechos clínicos, qualidade de vida, funcionalidade e assim por diante? “Maturidade significa estrutura de informações gerenciais de desempenho para que se entenda de maneira segura quais margens precisam ser defendidas para que haja perenidade da instituição. Ou seja, estrutura de informação e avaliação de desempenho. Antes de definir o preço, precisamos fazer a lição de casa e entender qual é a estrutura de captura da performance dos serviços de cada uma das verticais e, abrindo as verticais, das especialidades médicas”, sustentou Carolina Dantas. “Somente com esses dados conseguimos repensar com áreas multidisciplinares a configuração dos serviços. Mas existe uma baixa maturidade das instituições brasileiras”.  

Os principais modelos

Fee for service – Modelo mais tradicional, que se mostra cada vez mais ineficiente se utilizado de maneira isolada. O pagamento acontece de acordo com a quantidade de procedimentos e recursos usados.

Por diangóstico, ou DRG (Diagnosis Related Groups) – Regido pela classificação do CID (Código Internacional de Doenças). O pagamento ocorre por pagamento fixo baseados nos códigos CID-10. O modelo tem foco na doença em vez da prevenção e/ou internações evitáveis. Desconsidera o ciclo completo do cuidado à saúde. Tornou-se ultrapassado, pois está ancorado na doença.

Capitation – Objetiva resolver o problema dos altos gastos e o aumento da sinistralidade das operadoras. A ideia central está na previsibilidade. A remuneração é calculada por valor fixo para um grupo de vidas de determinado serviço. Não considera eventuais complicações ou desfechos clínicos. Não tem forte aplicação no sistema brasileiro, pois traz muitos desequilíbrios para o prestador de serviço.


Orçamento global – É fortemente praticado. Os valores são pré-estabelecidos e fixos para a prestação de serviço. Há um grande desafio de lidar com variáveis de risco, como a ineficiência no cuidado do paciente. Há um ganha-ganha entre operadora e prestador de serviço. Diárias globais são interessantes para ambos, mas o prestador de serviço de saúde precisa fazer sua lição de casa, no que diz respeito à apuração da margem dos serviços prestados.

Bundled service – Modelo mais atual, pratica o pagamento por performance, utilizando o desempenho profissional na medição. Os bundles, ou pacotes, podem ser criados segundo os serviços ou condições clínicas, o que permite estudo de realidades diferentes, considerando que o mesmo diagnóstico tem pacientes que necessitam de serviços diferentes.

Baseado em valor – Considerado o modelo mais evoluído, com o melhor de cada um dos outros modelos. Seu foco está no paciente como o centro dos serviços, o que motiva o alcance de uma boa experiência na jornada de saúde, considera a qualidade e a eficiência. O cálculo da remuneração utiliza resultados que importam ao paciente, como os desfechos clínicos e os custos relacionados. Fomenta nas instituições de serviços uma constante atualização e evolução de sua qualidade de nível de serviços, motivando as instituições a trabalharem em busca de eficiência operacional, fazendo mais com o mesmo, mantendo ou aumentando a qualidade.

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Grupo Técnico discute inspeções prediais e segurança de edificações   

O Grupo Técnico de Segurança e Saúde Ocupacional (GTSSO) do SindHosp realizou, na sede da entidade, um encontro transmitido via Zoom com o tema “Edificação Segura e Responsabilidades da Segurança do Trabalho”. Apresentada por Carlos Marrocos, engenheiro-chefe da Segurança do Trabalho do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), a reunião aconteceu no dia 14 de setembro último e teve como foco a segurança voltada para edificações. “Basicamente, o que precisamos para considerar um edifício seguro”, resumiu Marrocos, que teve a seu lado Carlos Cassiavillani, Roger Abdala e Lucineia Nucci. Ao todo, o encontro contou com 26 participantes de diferentes instituições.

De acordo com Carlos Marrocos, uma edificação segura pressupõe o cumprimento das diretrizes da nova norma de inspeção predial da Associação Brasileira de Normas Técnicas, a chamada ABNT NBR 16747:2020, principal ferramenta de gestão de manutenção predial no Brasil, inclusive para estabelecimentos de saúde. É uma norma que contempla todos os itens que precisam ser verificados para garantir a segurança das instalações de uma empresa.

Ganchos de ancoragem

Em sua apresentação, o engenheiro-chefe do HC-FMUSP detalhou equipamentos e instalações de segurança, chamando a atenção para aspectos que nem sempre os gestores levam em consideração. Os cuidados começam pelo alto, na laje de cobertura. Uma das novidades normativas é a exigência dos chamados Sistemas de Proteção Individual contra Quedas (SPIQ), que passa a vigorar a partir de 2024 para edificações sem um guarda-corpo no parapeito da laje.

 “Esse sistema de proteção contra quedas prevê a instalação de ganchos de ancoragem para que profissionais de diferentes áreas possam trabalhar presos a esses pontos, sem risco de queda. Eles garantem a proteção para o pessoal que faz limpeza de caixa d’água, inspeção de sinalização, verificação de para-raios, pintura de fachada e assim por diante, em geral, de empresas terceirizadas. Também podem servir para o içamento de máquinas e mobiliário”, explicou Carlos Marrocos. “Mas os gestores têm de levar em consideração que o teste de arranque desses ganchos é anual e que existem ganchos específicos para cada tipo de carga, tudo devidamente normatizado”. O teste de arranque ou carga tem como objetivo verificar a resistência, a estabilidade e a confiabilidade de um ponto de ancoragem.

Ainda na laje, os gestores precisam contar com Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), que é um conjunto de estruturas e soluções projetadas para proteger pessoas e construções da ação de raios. “Esse sistema requer uma medição ôhmica, que pode levar à perda da apólice de seguro se não for realizada anualmente ou em caso de sinistros”, destacou Marrocos. “Outra preocupação durante uma inspeção de laje é com a luz-piloto, que serve de alerta de obstáculo para aeronaves. A verificação no período noturno tende a ser mais eficaz”.

Elevadores

A prevenção de acidentes com elevadores pede uma série de medidas dos gestores de manutenção. A primeira delas é a verificação de itens obrigatórios no poço do elevador, como escada e sinalização. “Um item fundamental é a aba de proteção, que serve para proteger o passageiro de uma queda no poço em caso de uma operação de resgate. Essa aba também tem medidas normatizadas”, enfatizou Carlos Marrocos durante sua apresentação. “Mais uma situação comum é a falta de protetores de roldanas e tampas de painéis elétricos nas casas de máquinas dos elevadores. Isso tem de ser verificado e as equipes de manutenção precisam zelar por deixar tudo em ordem”.

Um dos itens mais importantes de segurança predial são os equipamentos de detecção e combate a incêndio. O engenheiro-chefe de Segurança do Trabalho do HC-FMUSP alerta para um problema mais comum do que parece. “Muitas vezes, as empresas instalam todo o sistema de detecção de fumaça, mas não protegem a fiação do forro e dutos, deixando os cabos sujeitos à ação de roedores e comprometendo a segurança do edifício. Esse detalhe pode passar despercebido até pela inspeção do Corpo de Bombeiros, que não abre o forro para verificar a existência dos dutos, e o sistema acaba não funcionando quando mais se precisa dele porque um cabo está rompido”, apontou Carlos Marrocos.

Escadarias pressurizadas

O sistema de pressurização de escada também requer um controle rígido para amenizar danos em caso de incêndio. Ele é importante para garantir que as pessoas tenham uma rota de fuga livre de fumaça em uma situação de fogo. Os dutos de pressurização costumam estar corretos no projeto, mas podem apresentar irregularidades ao ser construídos. “O problema é a perda da velocidade e da vazão de ar. Muitos edifícios não passam no teste de vazão e pressão de ar nas escadarias por esse motivo. Em geral, as empresas fazem o teste do detector de fumaça, que aciona o alarme e o sistema de pressurização, mas não se preocupam com o teste de vazão e pressão desse sistema”.

O engenheiro explica que, no topo dos prédios, há uma válvula de alívio que regula o sistema de pressão das escadas, mantendo a pressurização mesmo com a porta do térreo aberta. Segundo ele, no caso de uma emergência, a pressurização precisa ser forte o suficiente para garantir que as portas se fechem após a passagem das pessoas, mas não tanto a ponto de impedir que as pessoas acessem as escadas. “A vazão da pressurização influencia justamente nesse equilíbrio de forças e precisa estar adequada ao projeto”, reforçou Marrocos na reunião. “Além da parte estrutural, tem uma questão de cultura de segurança. Em caso de fogo, as portas das escadas têm de permanecer fechadas para impedir a entrada de fumaça e reduzir o risco de sufocamento, principalmente de cadeirantes, que precisam esperar ajuda para descer. Deixar um calço na porta corta-fogo para mantê-la aberta, por exemplo, significa colocar em risco a vida de todo mundo, assim como colocar correntes com cadeados nas portas, que impedem a passagem das pessoas”.  

Risco elétrico

A instalações elétricas e o grupo motogerador representam mais uma área de atenção em estabelecimentos de saúde. A sobrecarga de energia costuma estar associada a princípios de incêndio. “Não é incomum que muitos equipamentos sejam ligados na mesma tomada com uso de uma régua, incluindo aqueles que puxam mais energia e podem levar a superaquecimento e fogo”, destacou Carlos Marrocos. “Outra questão importante: os geradores. Existe o gerador de conforto e o gerador de segurança. O gerador de segurança precisa garantir que o sistema de combate a incêndio funcione em caso de fogo”.

A reunião do Grupo Técnico de Segurança e Saúde Ocupacional ainda discutiu temas como a instalação de sistema de condução de gases, destacando a importância de se garantir a ventilação permanente de áreas onda haja cozinha, aquecedores de água e a prevenção de vazamentos, e a colocação de redes de proteção conforme normas que regulamentam tanto sua produção como sua instalação.

Equipamentos hospitalares

Em sua apresentação, Marrocos falou também sobre um tipo específico de fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) em estabelecimentos de saúde. Trata-se de uma força-tarefa que promove uma inspeção em equipamentos hospitalares diversos, incluindo desfibriladores, monitores cardíacos, aparelhos de ultrassom, incubadoras, sistemas de anestesia, unidades eletro-cirúrgicas e radiografias, mamógrafos, ventiladores pulmonares, bisturis elétricos e assim por diante. “É importante que o gestor de manutenção esteja atento a esses equipamentos, realizando inspeções regulares”.

Por fim, os integrantes da reunião chamaram a atenção para a importância do treinamento e a percepção de risco por parte das pessoas que utilizam as edificações, além do trabalho de prevenção. O ponto, segundo os participantes, é que a questão da segurança vai além das leis ou das normas. Vidas estão em jogo, assim como a reputação do estabelecimento, enfatizaram. Os gestores precisam encontrar formas de lidar com isso, privilegiando a prevenção, porque sempre vai haver problemas com falhas de evacuação e uso incorreto de um extintor de incêndio, por exemplo. Além disso, é importante levar em consideração que muitos pacientes estão em uma condição temporária desfavorável para se deslocar e vão precisar de ajuda em caso de incêndio ou situação similar. Ter um espaço acessível não significa que a edificação está segura para um cadeirante ou um paciente de cama diante de uma necessidade de evacuação.  

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SindHosp retoma cursos presenciais após pandemia

Diante do arrefecimento da pandemia, o SindHosp retomou seu programa de cursos presenciais. O SindEduca, área de educação continuada e capacitação do Sindicato, realizou no dia 12 de setembro último o treinamento “Recursos Humanos e Relações de Trabalho na Saúde – Como gerenciar a sua equipe nos atuais e novos modelos de trabalho?”, ministrado pela advogada Daniela de Andrade Bernardo, que é sócia do escritório Machado Nunes, pós-graduada em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em Direito Empresarial do Trabalho pela Faculdade Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/SP) e embaixadora das Normas Internacionais pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Realizado no auditório do SindHosp, na Capital paulista, o curso contou com a participação de 27 gestores e analistas das áreas de Recursos Humanos e Atendimento de 16 empresas de São Paulo, incluindo clínicas, hospitais e laboratórios. Com as pessoas reunidas em um mesmo ambiente durante quase oito horas, o encontro permitiu uma troca de experiências mais próxima, favorecendo a interação entre os participantes e criando condições para um produtivo bate-papo no final da jornada.

Dividido por temas em oito blocos, o curso tratou de aspectos do dia a dia das relações trabalhistas, com o relato de casos reais e a apresentação de dúvidas para diferentes situações. A docente Daniela Bernardo abriu o treinamento dando um panorama das relações trabalhistas e sindicais e apresentando os diversos aspectos das negociações coletivas, desde convenções e acordos coletivos de trabalho até o impacto da reforma trabalhista e as peculiaridades da área da saúde nas relações com colaboradores.

Novos contratos de trabalho

Os contratos de trabalho também foram tema de diferentes blocos do curso. A palestrante falou sobre modalidades como teletrabalho e intermitente, além de estágio, prestação de serviço e trabalhos eventual, parcial e autônomo, por tempo determinando ou indeterminado. Além disso, discutiu conceitos em torno da suspensão ou interrupção do contrato de trabalho, apresentou formas de rescisão de trabalho, do pedido de demissão até a dispensa sem justa causa, e trouxe exemplos de medidas disciplinares.

No roteiro do curso, a embaixadora da OIT incluiu a gestão da saúde de empregados, tratando de medicina e segurança do trabalho. Nesse bloco, destaque para o chamado limbo previdenciário, situação em que um trabalhador em situação incapacitante recebe alta da Previdência Social sem o devido aval médico, ou seja, perde o benefício do INSS e fica sem salário.

Tendência nos diferentes campos do trabalho, a atenção à mulher contou com dois blocos do treinamento. Os participantes receberam mais informações sobre o programa “Emprega + Mulheres”, do governo federal, e discutiram o “A” acrescido à sigla CIPA, ficando CIPA+A, ou Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Assédio. Por fim, falaram sobre igualdade salarial entre homens e mulheres.

Gestão financeira

Mantendo sua tradição em capacitação, agora com o SindEduca o SindHosp já tem programados novos cursos para 2023. A expectativa é que o Sindicato sedie pelo menos dois cursos presenciais por mês e outros quatro virtuais, também mensais. Serão treinamentos divididos em quatro pilares-chave: gestão em saúde; negócios e questões técnicas; sistema de saúde; e desenvolvimento pessoal e profissional. O próximo curso, que está marcado para o dia 26 de setembro, das 9h às 17h, terá como tema “Gestão Financeira para a Área da Saúde: como promover sustentabilidade financeira na sua organização. Clique aqui para se inscrever

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Desenvolvimento sustentável entra na agenda de empresas de saúde

O terceiro Workshop da Saúde promovido pelo SindHosp abordou o tema Desenvolvimento Sustentável nos Ecossistemas de Saúde. O encontro virtual, que faz parte do programa de educação continuada do SindEduca, aconteceu no dia 5 de setembro último e foi transmitido pelas plataformas Hospitalar Hub e Youtube com a participação de internautas via chat e WhatsApp. Clique e assista na íntegra.

Durante quase uma hora e meia, a diretora Executiva do SindHosp, Larissa Eloi, conversou com o professor e pesquisador Marcos Felipe Magalhães, autor do livro “Estratégias do Desenvolvimento Sustentável: ASG+P” e coordenador geral da certificação do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Intitulado “ESG+P e os Quatro Pilares do Desenvolvimento Sustentável”, o workshop tratou dos desafios das organizações de saúde em torno dos fundamentos expressos na sigla ASG+P (ou ESG+P, em inglês): ambiente, sociedade, governança e pessoas. “Esse é um tema complexo, ousado e inovador, que tem de estar na agenda das empresas da área da saúde de todos os portes”, destacou Larissa Eloi na abertura do evento.

Valores intangíveis

Para Marcos Felipe Magalhães, missão e atividade econômica devem conviver harmoniosamente dentro da área da saúde. “Uma organização que se preocupa com meio ambiente, bem-estar social, governança consciente e humanização do trabalho tende a ser vista como mais confiável e responsável”, enfatizou o professor. “A saúde entrega valores intangíveis, por isso seus indicadores têm de ir além da qualidade assistencial, dos desfechos de atendimentos e do controle orçamentário”.

O desenvolvimento sustentável pressupõe uma evolução nas condições ambientais, sociais, culturais, econômicas e humanas de uma empresa com o objetivo de atender a todas as partes interessadas, isto é, a todos aqueles que afetam ou são afetados por uma organização. No caso de uma instituição de saúde, estão entre as partes interessadas os colaboradores, os médicos, os pacientes, os pesquisadores, os terceirizados, a comunidade vizinha, os prestadores de serviço da saúde, os fornecedores, os parceiros e assim por diante.

O professor Marcos Felipe Magalhães elaborou com sua equipe um programa de desenvolvimento sustentável em que lista 240 práticas distribuídas pelos quatro pilares do conceito ASG+P. Na prática, uma matriz que funciona como base para o desenvolvimento estratégico das empresas. “A ideia é convergir as soluções para os diferentes quadrantes da matriz, como se fosse um framework”, detalhou o acadêmico durante o bate-papo. “O conceito ASG+P é uma evolução de várias demandas que foram provocadas pelas mudanças no comportamento social ao longo das últimas cinco décadas”.

Compromissos e resultados

Os resultados de um programa ASG+P para uma instituição de saúde passam por conservação de recursos, responsabilidade social, melhoria da saúde pública, redução de custos operacionais, atração de talentos e pacientes, conformidade com regulamentações e promoção de inovações. “Para tanto, a empresa precisa gerar valor aos acionistas, atender às expectativas dos pacientes, compensar colaboradores com justiça, apoiar a comunidade, lidar com fornecedores de forma justa e ética, proteger práticas sustentáveis para o meio ambiente e agregar valor a outras partes interessadas. Sim, tudo isso garantindo a harmonia entre todos”, resumiu Magalhães.

O programa desenvolvido pelo professor estipula 16 compromissos de uma organização de saúde, quatro para cada um dos pilares ASG+P. Na área ambiental, estão o cuidado com o meio ambiente, a eficiência no uso de energia, o impacto das mudanças climáticas na saúde humana e na infraestrutura e a gestão de resíduos em serviços de saúde. No âmbito da sociedade, os objetivos são preservar ética e valores sociais, promover o desenvolvimento humano, cumprir as responsabilidades sociais e contribuir para o desenvolvimento econômico.

Para governança, os compromissos são garantir a excelência na segurança e na qualidade da saúde do paciente, buscar a sustentabilidade econômico-financeira, cuidar da experiência do paciente e dos desfechos clínicos e obter o reconhecimento e a reputação, tornando-se referência na especialidade. Por fim, dentro do pilar pessoas, os objetivos são qualificar a cadeia de valor, promover a participação e compartilhar os êxitos, incentivar a capacitação e desenvolvimento pessoal e assegurar a qualidade de vida no trabalho.  

Abordagem sistêmica

“O importante é pensar com lógica de rede, interligando os compromissos e as partes interessadas. Trata-se de uma abordagem sistêmica, uma visão holística que inclui demandas sociais, ambientais, organizacionais e individuais das partes interessadas, respeitando os ‘fluxos’ do planeta, da sociedade, do capital e do trabalho”, explicou Marcos Felipe Magalhães no workshop. Em outras palavras, existe uma lógica de ecossistema, os recursos entregues geram recompensas na cadeia. “No âmbito do ambiente, o uso de recursos naturais pede um equilíbrio ecológico; na sociedade, os recursos humanos demandam desenvolvimento social; na governança, os recursos financeiros exigem rentabilidade; e, na pessoa, os recursos humanos pressupõem satisfação pessoal”.

Na visão do palestrante, o gestor da instituição de saúde precisa entender o negócio para além da qualidade e da segurança do atendimento, enxergando o entorno do paciente. Existe a família que exige uma boa experiência e um desfecho clínico favorável, o investidor, que precisa de sustentabilidade do negócio, e o médico, que busca reconhecimento e reputação. Há uma segunda camada no entorno do paciente. São fornecedores e operadoras que dependem de uma cadeia de valor qualificada, a área de tecnologia que pede capacitação e desenvolvimento e os profissionais, que precisam de qualidade de vida no trabalho. Na última camada estão a sociedade com sua ética e seus valores, os cientistas que olham para a saúde e o meio ambiente e os agentes sociais que cobram responsabilidades sociais e governos, que dependem de contribuição para a economia.  

“Um dos desafios é identificar quem atende cada uma dessas partes interessadas na sua organização. Paralelamente, as pessoas precisam deixar de pensar no ‘egossistema’ para pensar no ecossistema. Não se trata do meu esforço na organização, mas, sim, do impacto do que faço na cadeia de fornecedores, na equipe de saúde e nos produtores de toda a indústria que gira em torno da minha atividade”, ensinou o professor. “O vestiário do pessoal que trabalha no atendimento de emergência está à altura do que eu exigiria? Se os colaboradores não forem bem tratados, não vão tratar bem os pacientes. O técnico de enfermagem é quem mais passa tempo com o paciente. O importante é que todos sintam que são tratados de maneira humana”.

Programa de capacitação

A base conceitual do workshop está no livro “Estratégias para o Desenvolvimento Sustentável: ASG+P”, do professor Marcos Felipe Magalhães. Ele é também a base do programa de certificação do CBEXs “Desenvolvimento Sustentável em Organizações de Saúde”, que acontece em 11 de outubro e terá 60 horas. Mais informações: https://www.cbexs.org.br/sustentabilidade

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