Giuliano Agmont

Os 35 anos do SUS: evento aborda conquistas e desafios

O presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, participou do Seminário Internacional “35 anos do SUS – SP”, promovido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES). O evento, que aconteceu entre os dias 30 e 31 de outubro, no Centro de Convenções Rebouças, na Capital paulista, teve sete mesas de debates abordando conquistas e desafios da saúde, além de homenagem aos profissionais que atuaram na linha de frente no enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS).

O seminário fez parte do “Movimento 35 anos do SUS – São Paulo”, realizado pelo governo paulista durante o mês de outubro em comemoração às três décadas e meia de existência do sistema, que contou com diversas ações coordenadas, incluindo um programa de apoio à qualificação da gestão estadual do SUS, no contexto da regionalização, com parceria internacional.  

Francisco Belestrin integrou a quinta mesa do segundo dia de evento, com o tema “Desafios do Dimensionamento, Qualificação e Fixação dos Profissionais em Saúde”. O debate contou com a presença também de Mario Scheffer, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e Paulo Seixas, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC-SP), e teve mediação de Mariana Carreira, do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Faculdade Getúlio Vargas (FGV Saúde). 

Como presidente do SindHosp, Balestrin pôde falar sobre os desafios da força de trabalho na saúde do ponto de vista de hospitais, clínicas e laboratórios privados de São Paulo. Além de mencionar as principais tendências do mercado, projetando uma saúde cada vez mais personalizada, digital e inclusiva, ele destacou as competências desejáveis para os líderes do futuro na área, incluindo escuta ativa, curiosidade contínua, autoconhecimento e repertório tecnológico.

O impacto dos pisos salariais

Para Balestrin, um bom exemplo do desafio de dimensionamento é a lei que instituiu o Piso de Enfermagem (14.434/2022), interferindo nos salários de mais de um 1,2 milhão de profissionais. “O impacto aproximado dessa medida para o setor privado com fins lucrativos, que absorve 27% desses profissionais e é composto em sua maioria por instituições de pequeno e médio portes, chegará a R$ 5,3 bilhões por ano”, destacou o presidente do SindHosp. “Hoje, o Congresso tem dezenas de outras propostas para a criação de piso nacional de salários para inúmeras categorias, e isso vai dificultar dimensionamentos pela limitação de recursos”. 

Em sua participação, o presidente do SindHosp definiu pilares de qualificação e estratégias de fixação dos profissionais da saúde e chamou a atenção para um tema sempre desafiador: o envelhecimento. “A cada 21 segundos nasce um ‘cinquentão’ e esse envelhecimento tem impacto no perfil dos recursos humanos”, apontou Balestrin.

O professor Mario Scheffer, da FMUSP, mostrou dados de uma pesquisa que coordena sobre a força de trabalho em São Paulo. Segundo ele, houve um aumento de 60% no número de médicos atuando no Estado de 2013 para 2023. “O número subiu de 110 mil para 177 mil médicos, dos quais 30% se movimentou entre os municípios”, informou Scheffer. “Em relação à formação, temos mais de meio milhão de estudantes de graduação em saúde no Estado de São Paulo e cerca de 15 mil médicos residentes, o que significa um terço do país”.

Já Paulo Seixas, da FCMSC-SP, em sua palestra, resumiu o principal desafio da saúde nos mais diversos campos, incluindo o de profissionais da área. “O grande desafio é encontrar o melhor equilíbrio possível entre o dever, ou seja, o que precisa ser feito, e o poder, isto é, o que a responsabilidade fiscal permite”.

Pesquisa SindHosp sobre aumento de casos de Covid repercute no Brasil

Uma pesquisa realizada pelo SindHosp com dados indicando o aumento dos casos de Covid-19 em instituições privadas de saúde em São Paulo ganhou repercussão nacional. Divulgada originalmente pelo O Globo, o levantamento virou notícia nos principais veículos de comunicação de massa do país, incluindo os jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Valor Econômico e Diário do Grande ABC; as emissoras de TV Globo, Bandeirantes, CNN e Record News; os sites das revistas Exame, Veja e Isto É Dinheiro; as rádios Band News FM, CBN e Nova FM ; e os portais Terra e Uol. No total, pelo menos 100 matérias mencionaram a pesquisa do SindHosp, segundo a empresa de monitoramento de mídia Clipping Service.

Intitulado “Panorama de internações por Covid-19 e outras doenças prevalentes”, o levantamento do SindHosp foi realizado no período de 10 a 19 de outubro, com 81 hospitais privados paulistas, sendo 49% da Capital e Grande São Paulo e 51% do Interior do Estado. O trabalho apurou que 84% dos estabelecimentos de saúde registraram aumento dos casos de suspeita de pacientes com Covid-19 no pronto atendimento/urgência nos 15 dias imediatamente anteriores à data de resposta dos questionários. Já em relação aos pacientes que foram testados, 68% dos hospitais informam que o aumento dos casos da doença ficou entre 11% e 20% no pronto atendimento.

A pesquisa mostrou, ainda, que 76% dos hospitais registraram aumento de internações de pacientes por Covid-19, sendo esse aumento de 5% em leitos clínicos para a maioria. E o tempo médio de internação dos pacientes em leito clínico apurado na pesquisa foi de 5 a 10 dias. Em leitos UTI, 92% dos hospitais relataram 5% de aumento nas internações, com tempo médio de permanência de até quatro dias.

Vacina bivalente

O presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, foi citado em praticamente todas as reportagens, falando da importância da atualização da vacina bivalente e do uso de máscara como forma de inibir a transmissão do vírus. “É necessário que a população complete o calendário vacinal com a vacina bivalente e se preocupe em usar máscara em ambientes com alta concentração de pessoas, como o transporte público”, destacou Balestrin.

A pesquisa também tratou de outras doenças. Questionados sobre quais outras doenças estão levando os pacientes para internação, 35% dos hospitais apontaram doenças crônicas, 32% outras doenças respiratórias e 18% viroses em geral.

Clique aqui e acesse a íntera da pesquisa

Fórum aponta caminhos para a sustentabilidade da saúde brasileira

Na véspera do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp 2023), o SindHosp promoveu em sua sede o “Fórum Saúde & Gestão – Sustentabilidade da Saúde Brasileira”, que teve como tema central uma pergunta desafiadora. Durante cerca de quatro horas, os participantes de duas palestras, um debate e um painel compartilharam informações e opiniões em torno de uma questão estratégica para o futuro do país: existem caminhos reais para a sustentabilidade da saúde brasileira? Apesar dos grandes desafios, o evento mostrou que, sim, existem caminhos promissores para incrementar a assistência médica e hospitalar nacional. A íntegra do fórum SindHosp Pré-Conahp 2023, que aconteceu no dia 17 de outubro, pode ser vista por aqui.

Futuro a construir

Na palestra magna, intitulada “Caminhos para a Sustentabilidade do Sistema de Saúde Brasileiro” e mediada pelo presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, o diretor executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Antônio Britto Filho, lembrou que o atual desenho do sistema de saúde do país remonta à Constituição de 1988, destacando que o modelo vem apresentando sinais de esgotamento, mesmo tendo sido bem-sucedido. Para Britto, a crise na área da saúde deixou de ser conjuntural e passou a ser estrutural, sobretudo do ponto de vista da relação entre custos e financiamentos, precisando de reforma. “Na área da saúde, temos um passado a comemorar, um presente a corrigir e um futuro a construir”, resumiu o ex-ministro e ex-governador, que ficou famoso como porta-voz do então presidente Tancredo Neves.

“O sistema precisa incentivar prevenção e promoção da saúde, os dois ‘pês’, como gosta de dizer o Balestrin. Temos de privilegiar o investimento público em atenção primária, em equipes de agentes de saúde e médicos da família, com apoio das faculdades de medicina, que precisam formar mais médicos generalistas. Hoje, ao contrário do que deveria ser, o que se valoriza são apenas construções físicas, como novas alas e leitos novos de UTI”, defendeu o diretor executivo da Anahp. “Além disso, o sistema de dados de saúde no Brasil é disperso e disfuncional. Não faltam dados, mas é preciso organizar e fazer uma melhor gestão dos dados”.

Os dados da saúde

No segundo painel dentro do fórum organizado pelo SindHosp, Angelica Carvalho, diretora-adjunta de Desenvolvimento Setorial na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Eduardo Cordioli, diretor técnico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana, participaram do debate “Tendências para o Futuro no Universo dos Dados e Tecnologia”, também mediado por Francisco Balestrin.

“Precisamos de reformas. O Brasil está envelhecendo. E dependemos da qualidade dos dados de saúde para mudar com segurança. Dentro da Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), estamos construindo a Rede Nacional de Dados da Saúde (RNS), que nos permitirá metrificar e analisar os indicadores de resultado e desempenho, garantindo transparência ao processo e facilitando a fiscalização por parte do cidadão”, destacou Angélica Carvalho, da ANS.

O médico Eduardo Cordioli, do Grupo Santa Joana, acredita que as soluções digitais são uma questão de sobrevivência para as instituições de saúde. Ele defende que a melhor sala de espera para um paciente é a sala da casa dele, resolvendo o que for possível por celular ou computador, via telemedicina, de maneira rápida e confiável. “A Inteligência Artificial (IA) já vem sendo usada com sucesso na auditoria de contas, identificando que código liberar. No futuro, poderá ser muito útil na interação com idosos. Para casos específicos, de pacientes com doenças crônicas, existe uma expectativa bastante otimista de que a IA venha a permitir que o médico realize em 15 minutos uma consulta segura e com qualidade”, ponderou Cordioli. “Para as instituições, graças ao 5G, a saúde digital não vai exigir tanto investimento em tecnologia, tudo pode estar na nuvem. Além disso, é preciso que se trabalhe com arquiteturas abertas, os dados têm de ser públicos. Quem os mantiver fechados estará fora do mercado”.

Eficiência e sustentabilidade

Dando sequência ao fórum, a diretora executiva do SindHosp, Larissa Eloi, mediou o painel “Eficiência e Sustentabilidade na Gestão da Saúde”, que teve como convidados Fabrícia Loro, diretora assistencial de Operações Hospitalares na Rede D’Or São Luiz, Marceli Serrano Nascimento, gerente médica executiva de Cuidados Integrados e Telessaúde da NAV-DASA, e Renato Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (ABRAMGE).

O presidente da ABRAMGE acredita que há um “descasamento” entre expectativa e entrega no ambiente da saúde, onde se mistura saúde suplementar com saúde fundamental, ou seja, aplica-se a lógica da integridade dentro do setor privado. “Mas criamos um sistema que entrega, mesmo com todas as questões que se possam apontar. Gosto da palavra eficiência, que é diferente de eficácia. Eficiência é fazer o melhor possível com o que se tem. Eficiência é uma mentalidade, buscando redução de desperdício”, ponderou Cassarotti.

“As tendências na área de saúde passam pelo cuidado adequado no momento certo, com uso das informações adequadas na hora correta”, acrescentou Fabrícia Loro, da Rede D’Or São Luiz. Já Marceli Serrano Nascimento, da NAV-DASA, defendeu que a eficiência e a sustentabilidade dependem de uma jornada de cuidado integrada, com o paciente no centro do cuidado e análise preditiva de dados. “Tenho de saber como navego de forma pertinente com um paciente pelo sistema, realizando os exames necessários sem desperdício, melhorando desfechos clínicos e reduzindo a sinistralidade”, sustentou Nascimento.

A jornada do paciente

Na palestra de encerramento, Kelly Rodrigues, CEO da Patient Centricity Consulting, abordou o tema “Experiência do Paciente – Como criar, implementar e gerir bem um Programa de Excelência em Experiência de Pacientes?”, com moderação de Nathália Nunes, fundadora da consultoria Arta. Ela deu pistas de como desenvolver ações, processos e iniciativas de melhoria pelo prisma do paciente, olhando a jornada completa dele para buscar a excelência no atendimento, dos pontos de contato iniciais até a assistência à saúde propriamente dita.

Segundo Kelly Rodrigues, o que o paciente quer vai depender de cada momento e de cada pessoa, incluindo respeito, agilidade, empatia, proximidade e personalização. “As instituições de saúde precisam pensar em como preparar as pessoas para que haja uma ‘cocriação’ plena de soluções, considerando que temos aspectos humanos dos dois lados, tanto de quem assiste como do paciente e seus acompanhantes. É preciso mudar a cultura organizacional, e são muitos detalhes para se entregar um bom ‘espetáculo’. Temos de pensar no palco, que são os médicos e enfermeiros na linha de frente, no backstage, que é o pessoal do administrativo, e no público, que é o paciente e seus entes próximos”.

Excelência de hospitais passa por melhorias da experiência do paciente

A consultora Kelly Rodrigues mudou sua trajetória profissional depois de uma experiência traumática como acompanhante. Profissional formada em Relações Públicas e então superintendente de Marketing em uma empresa na área hospitalar, ela sentiu na pele o despreparo das instituições de saúde do Brasil no atendimento ao público durante uma fase difícil de sua vida, quando recebeu a confirmação de diagnóstico de câncer de sua mãe.

“Para se ter uma ideia, ela estava sozinha no quarto quando deram a notícia. Foram experiências muito impactantes em toda a jornada, que me mostraram o quanto a gente não ‘enxergava’ o paciente. Infelizmente, o câncer era superagressivo e minha mãe acabou falecendo em um ano”, lembrou Kelly Rodrigues, que se tornou referência nacional em experiência do paciente e participou do videocast Papo da Saúde como convidada do presidente do SindHosp, Francisco Balestrin. A íntegra da conversa pode ser vista aqui


Pesquisa HCAHPS nos EUA

O episódio levou Kelly Rodrigues a reavaliar sua atuação e fundar a consultoria Patient Centricity Consulting, da qual é CEO hoje em dia, depois de uma imersão na Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, ainda em 2015. “Entendi como se fosse um chamado, dizendo que as coisas precisavam ser diferentes. Mesmo porque, não havia nada estruturado no Brasil”, contou Rodrigues. Em pouco tempo, ela se tornou uma das principais vozes em torno do tema, como se vê no livro “Experiência do Paciente – Como Criar, Implementar e Gerir um Programa de Excelência”.

Segundo Kelly Rodrigues, 41% dos norte-americanos escolhem uma instituição de saúde em função da experiência do paciente, utilizando como ferramenta o HCAHPS (Hospital Consumer Assessment of Healthcare Providers and Systems), que é uma pesquisa criada nos Estados Unidos para medir e comparar a qualidade dos serviços e a satisfação de pacientes dos hospitais responsáveis pelo atendimento aos beneficiários dos seguros públicos de saúde daquele país, o Medicare (maiores de 65 anos) e o Medicaid (pessoas de baixa renda ou com doenças crônicas). “Nos Estados Unidos, é o governo que promove essa pesquisa, remunerando as instituições de saúde de acordo com a avaliação de cada uma. Na prática, os pacientes aprenderam que podem contribuir para mudanças ao responder às questões e as instituições entenderam que as perguntas centradas nos pacientes servem como critérios de melhorias”, explicou Kelly Fernandes.

Acreditação e mudança cultural

A CEO da Patient Centricity Consulting concorda que a acreditação de saúde tem força para mudar o estado das coisas no Brasil, mas reconhece que o fato de não haver incentivos específicos por parte das autoridades públicas, sobretudo financeiros, retarda o processo. Francisco Balestrin vê a acreditação como ponto estratégico para melhorar a assistência em saúde no país. “Acreditação vê estrutura, processo e resultado. Qualquer instituição de saúde que faça isso provavelmente tem mais qualidade do que as que não fazem”, defendeu o presidente do SindHosp durante o bate-papo.

Alinhado com as premissas de acreditação, Kelly Rodrigues desenvolveu um método que permite às empresas olharem de modo dedicado para a experiência do paciente, algo que vai muito além da satisfação pura e simples. De acordo com a consultora, o método está escorado em três pilares: segurança e qualidade assistencial, cuidado centrado no paciente e excelência na jornada. “Ou seja, não adianta estender um tapete vermelho e causar eventos adversos, assim como não adianta ter um cuidado seguro se não houver um cuidado coordenado, com todos os profissionais de saúde alinhados, e um cuidado personalizado, que diferencie um paciente do outro. Além disso, a instituição tem de olhar tanto para a jornada clínica como para a não clínica, buscando a fidelidade do cliente e melhorando a reputação da instituição junto à comunidade”, detalhou Kelly Fernandes. “Melhorar a experiência do paciente não é melhorar o índice de satisfação, nem fazer tudo o que o paciente e seus acompanhantes querem, trata-se de uma mudança mais ampla, que envolve uma cultura organizacional capaz de privilegiar o paciente, incluindo o cuidado com o colaborador, que é quem entrega a experiência ao paciente”.

Estatuto do Paciente

Durante o Papo da Saúde, Kelly Fernandes deixou claro que as instituições que quiserem permanecer no mercado têm de estar atentas às mudanças em curso. “Em breve, o Congresso Nacional deve aprovar o Estatuto do Paciente, que vai falar não só sobre direitos e obrigações, mas, também, trazer luz sobre coisas que estão sendo feitas apenas por instituições acreditadas. Temos uma relação muito assimétrica na área da saúde e isso só fica claro para os gestores quando eles se tornam pacientes. Existem coisas que são óbvias para os profissionais de saúde, mas não são para os pacientes. Por isso, o que resolve grande parte das questões é a comunicação em saúde: a comunicação fluida é a chave para melhorar a experiência do paciente”.

A estruturação de um plano estratégico de experiência do paciente começa com um diagnóstico. Kelly Fernandes explicou que, além das métricas que as instituições já têm, das clínicas às de satisfação, existem métodos qualitativos para se fazer essa avaliação, incluindo grupos focais e outras técnicas de pesquisa, observando a instituição de fora para dentro. “A sobrecarga e o corre-corre do dia a dia fazem com que as tarefas dos profissionais da saúde, que são bonitas, na teoria, tornem-se automáticas e impessoais, na prática. Nesse processo, o paciente e os familiares ficam de lado e os conflitos aparecem”, explicou a convidada de Balestrin no Papo da Saúde. “O importante é ter claro que todo mundo entrega experiência. É preciso que o trabalho envolva desde a área assistencial, passando por marketing e hospitalidade, até o pessoal de qualidade. Todos terão de trabalhar juntos com a área de governança com base no diagnóstico. No fim, a ideia é cuidar dos pacientes como se cada um deles fosse um ente querido, sempre com muito amor. Somente quem se diferenciar vai se manter competitivo”.

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Paciente no centro: ‘Papo da Saúde’ trata dos desafios da acreditação no Brasil

O médico e administrador de empresas Rubens Covello defende que a busca por excelência depende de uma premissa básica quando se fala em saúde. Para o sócio-fundador e CEO da Quality Global Alliance (QGA) e um dos principais responsáveis pela consolidação de programas de acreditação de hospitais no Brasil e na América Latina, é preciso que os gestores de instituições de saúde coloquem “o paciente no centro” de suas decisões estratégicas. Ele foi o convidado do presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, na estreia da segunda temporada do videocast “Papo da Saúde”, e falou sobre sua trajetória de quase três décadas no desenvolvimento de processos e metodologias capazes de garantir qualidade e segurança na assistência médica, área em que é referência nacional e internacional. A íntegra do bate-papo, que aconteceu na sede do SindHosp, está disponível no canal do Youtube do Sindicato. Clique aqui e acesse a íntegra do programa

Formado em 1982 pela Faculdade de Medicina de Catanduva, Rubens Covello se tornou geriatra antes de migrar para a área de Administração Hospitalar e dirigir um hospital público, em São Paulo. Também cursou pós-graduação em Administração, o que o conduziu para o mundo da acreditação. “Eu era o único médico do curso e todos me perguntavam muita coisa sobre a área da saúde. Duas questões me chamaram particularmente a atenção. Na época, nos anos 1990, não havia dentro das instituições de saúde a gestão de pessoas, ou seja, uma política de recursos humanos, nem, tampouco, a preocupação que temos hoje com qualidade, que era confundida com a técnica, o médico, os profissionais – e qualidade não é isso”, esclareceu Covello. “Isso me fez refletir e pesquisar modelos dentro e fora do Brasil. Meu objetivo era inserir processos de qualidade e segurança nas instituições de saúde”.

Metodologia ONA

O que se seguiu ao insight de Rubens Covello no curso de pós-graduação a comunidade de saúde conhece bem. Nas palavras de Francisco Balestrin, ele se tornou uma das figuras mais notórias do país, sobretudo no setor hospitalar: “Como empreendedor que é, o Rubens introduziu no Brasil a acreditação na área de saúde, sempre com muita resiliência”. Atento ao que acontecia no Canadá, nos Estados Unidos e na Europa, Covello já falava de acreditação antes mesmo da criação da Organização Nacional de Acreditação (ONA), em julho de 1999. Segundo a ONA, “a acreditação é um método de avaliação e certificação que busca, por meio de padrões e requisitos previamente definidos, promover a qualidade e a segurança da assistência no setor de saúde”.

Covello gosta de dizer que tem um mapa das instituições de saúde desde 1999/2000, quando começou a aplicar a metodologia ONA. “Eu sou um fotógrafo do sistema de saúde. Meus auditores e eu entramos nos estabelecimentos de saúde tirando fotos de lugares, retratando diferentes aspectos do todo”, ilustrou o médico no bate-papo com Balestrin. “Na época, eu não queria ficar restrito à concepção das normas, eu queria ir para o ‘chão da fábrica’. Então, criamos a IQG (Instituto Qualisa de Gestão), que até hoje trabalha pela acreditação de instituições de saúde com base na metodologia ONA. São três níveis de certificação ONA, o Nível 1, voltado para segurança e legislação; o Nível 2, que privilegia processos; e o Nível 3, de excelência, que trabalha com indicador de desfecho. O Brasil é pioneiro nessa gradação”, explicou Rubens Covello.

Aliança global e sinistralidade

O médico diz que, durante muito tempo, as instituições de saúde procuravam uma certificação como uma peça de marketing e recebiam de presente uma ferramenta de gestão. “Nesse desenho de três níveis, ajudamos a transformar o sistema de saúde do Brasil, pelo menos até que os hospitais começassem a atingir o último nível e nos pedissem suporte para garantir uma melhoria contínua. Foi quando criamos a aliança global, a QGA, que tem nove países-membros e 120 padrões de qualidade”, revelou o sócio-fundador da QGA. “A aliança trabalha com a metodologia QMentum Internacional, concebida no Canadá, que é o maior programa de acreditação do mundo, com 16 mil serviços acreditados em 36 países”.

Apesar dos avanços na área de acreditação, o desafio do Brasil é muito grande. Segundo Rubens Covello, apenas 6,8% dos mais de seis mil hospitais do país têm certificação. “Isso me deixa chateado. É um número extremamente baixo. Em países como Canadá, Dinamarca, Holanda e Catar, 100% dos hospitais são acreditados”, revelou o convidado do Papo da Saúde do SindHosp. Provocado por Balestrin se acha que as acreditações deveriam ser obrigatórias, Covello respondeu que não, por causa de experiências negativas desse modelo em outros países. “O programa de acreditação precisa ser voluntário, sigiloso e periódico. Defendo que se trabalhe o conceito já na universidade, inserindo a questão da segurança do paciente e da qualidade assistencial na academia. Também acredito que as operadoras de planos de saúde, que pagam pelos serviços, exijam a acreditação de instituições de saúde, o que vai garantir uma redução da sinistralidade”, defendeu o médico.

A experiência do paciente

Para Rubens Covello, é importante que a comunidade de saúde pense na qualidade da assistência do paciente, avaliando como esse paciente entra ou sai do sistema, de como é essa linha de cuidado. Ele diz que as instituições acreditadas maduras pensam, por exemplo, na questão do acesso, em tomadas de decisões baseadas em princípios éticos e no compliance. “É olhar a sinistralidade pensando na pessoa, o paciente, na vida que tem ali. Dessa maneira, ele vai diminuir a sinistralidade. De outro modo, não vai conseguir. Quando o paciente ingressa pela entrada certa, passa por uma linha de cuidado adequada e tem a alta correta e, com certeza, o custo desse paciente é muito menor. Por isso, de alguma maneira, a instituição que faz isso deve ser remunerada. É preciso pensar em rentabilidade do sistema e não em faturamento do sistema”.

Para o especialista, as instituições de saúde precisam colocar foco no paciente, na experiência do paciente, na qualidade de vida do colaborador, atentas a questões como estresse, Síndrome de Burnout e suicídio. “Evoluímos muito em décadas. Hoje, não nos preocupamos com estrutura física em si. Nos preocupamos com processos que garantam a segurança”, elucidou Covello. “No fim, precisamos de instituições ativas e atentas, para evitar infecções hospitalares, maus processos, desvios e outras práticas por falta de qualidade. Evitar, como já vi acontecer, de um cirurgião operar o joelho errado de um paciente”.

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Modelo de remuneração de serviços representa um desafio para hospitais

O Grupo Técnico Financeiro do SindHosp abordou, em sua última reunião, um tema sensível às instituições de saúde, em especial hospitais. A coordenadora do GT, Carolina Dantas, atual diretora de Pessoas, Controladoria e Finanças do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo (SP), falou sobre os desafios em torno dos modelos de remuneração dos serviços de saúde. “Os gestores de instituições de saúde precisam entender como as estruturas de prestação de serviços e precificação influenciam na defesa de margens”, resumiu Carolina Dantas na abertura do evento virtual, que aconteceu no dia 15 de setembro.

Do ponto de vista financeiro, a perenidade e a longevidade do negócio dependem de um complexo equilíbrio na relação que se estabelece entre as instituições de saúde, os pacientes, as equipes assistenciais e as fontes pagadoras – que são as operadoras de planos de saúde. “Há em curso no mundo, e no Brasil, uma transição de modelos de remuneração de serviços de saúde, com foco cada vez maior no paciente, ou seja, no pagamento por desempenho. No futuro, a tendência é a de se trabalhar com uma coordenação do cuidado, privilegiando o monitoramento de desfechos clínicos e o aprimoramento da qualidade do sistema”, explicou a coordenadora do GT Financeiro do SindHosp.

Comitê de avaliação de margens

Segundo Carolina Dantas, a evolução dos modelos de remuneração depende de uma mudança cultural que influencie as áreas produtivas a pensarem a prestação de serviços sem ofender a defesa de margens necessárias para a sustentabilidade do negócio. “Por isso recomendamos que haja um comitê de avaliação de margens, com pessoas das diferentes áreas. Mas por que um comitê? Para que haja mandatos, de um a dois anos, no máximo”, recomendou Dantas.

A coordenador do GT Financeiro do SindHosp considera que o futuro da saúde depende da coordenação do cuidado, mas alerta: “Modelos de pagamento por desempenho exigem um esforço estruturado de toda cadeia de serviços de saúde, do cuidado em si até a estrutura de informações e de comunicação. Pensar a coordenação do cuidado transcende àquela unidade de saúde, passa a ser regida pelo paciente, e não pela unidade de saúde em si”. E acrescenta: “A coordenação do cuidado sendo feita de modo fluído entre todas as instituições que prestaram serviço de saúde para um determinado paciente tende a assegurar à fonte pagadora uma redução de sinistralidade importante. Além disso, à medida que nos distanciamos dos modelos mais antigos de remuneração, nos aproximando dos modelos que olham para os desfechos, ocorre uma transferência do risco de quem paga para quem presta os serviços”.

Eficiência e qualidade

A dúvida do mercado é se isso está ou não próximo de acontecer. Para Carolina Dantas, as instituições de saúde estão repensando suas estruturas de custos de modo a conciliar ganho da eficiência operacional com manutenção ou aumento da qualidade de atendimento. “Elas sabem que são necessidades indissociáveis e inegociáveis, mas quantas estão investindo na estruturação das informações e da comunicação dos dados de saúde? Este é o desafio: entender de que forma a gente viabiliza, no futuro, a coordenação do cuidado com transparência para as fontes pagadoras através da estrutura de informações e de comunicação. Temos de lembrar que as operadoras de planos de saúde estão vivendo um momento crítico com a elevação do índice de sinistralidade, e essa crise terá reflexo em toda a cadeia de custos”.

Na prática, a pergunta que fica é: as instituições de saúde brasileiras estão maduras para que possam evoluir com os modelos de remuneração voltados para desfechos clínicos, qualidade de vida, funcionalidade e assim por diante? “Maturidade significa estrutura de informações gerenciais de desempenho para que se entenda de maneira segura quais margens precisam ser defendidas para que haja perenidade da instituição. Ou seja, estrutura de informação e avaliação de desempenho. Antes de definir o preço, precisamos fazer a lição de casa e entender qual é a estrutura de captura da performance dos serviços de cada uma das verticais e, abrindo as verticais, das especialidades médicas”, sustentou Carolina Dantas. “Somente com esses dados conseguimos repensar com áreas multidisciplinares a configuração dos serviços. Mas existe uma baixa maturidade das instituições brasileiras”.  

Os principais modelos

Fee for service – Modelo mais tradicional, que se mostra cada vez mais ineficiente se utilizado de maneira isolada. O pagamento acontece de acordo com a quantidade de procedimentos e recursos usados.

Por diangóstico, ou DRG (Diagnosis Related Groups) – Regido pela classificação do CID (Código Internacional de Doenças). O pagamento ocorre por pagamento fixo baseados nos códigos CID-10. O modelo tem foco na doença em vez da prevenção e/ou internações evitáveis. Desconsidera o ciclo completo do cuidado à saúde. Tornou-se ultrapassado, pois está ancorado na doença.

Capitation – Objetiva resolver o problema dos altos gastos e o aumento da sinistralidade das operadoras. A ideia central está na previsibilidade. A remuneração é calculada por valor fixo para um grupo de vidas de determinado serviço. Não considera eventuais complicações ou desfechos clínicos. Não tem forte aplicação no sistema brasileiro, pois traz muitos desequilíbrios para o prestador de serviço.


Orçamento global – É fortemente praticado. Os valores são pré-estabelecidos e fixos para a prestação de serviço. Há um grande desafio de lidar com variáveis de risco, como a ineficiência no cuidado do paciente. Há um ganha-ganha entre operadora e prestador de serviço. Diárias globais são interessantes para ambos, mas o prestador de serviço de saúde precisa fazer sua lição de casa, no que diz respeito à apuração da margem dos serviços prestados.

Bundled service – Modelo mais atual, pratica o pagamento por performance, utilizando o desempenho profissional na medição. Os bundles, ou pacotes, podem ser criados segundo os serviços ou condições clínicas, o que permite estudo de realidades diferentes, considerando que o mesmo diagnóstico tem pacientes que necessitam de serviços diferentes.

Baseado em valor – Considerado o modelo mais evoluído, com o melhor de cada um dos outros modelos. Seu foco está no paciente como o centro dos serviços, o que motiva o alcance de uma boa experiência na jornada de saúde, considera a qualidade e a eficiência. O cálculo da remuneração utiliza resultados que importam ao paciente, como os desfechos clínicos e os custos relacionados. Fomenta nas instituições de serviços uma constante atualização e evolução de sua qualidade de nível de serviços, motivando as instituições a trabalharem em busca de eficiência operacional, fazendo mais com o mesmo, mantendo ou aumentando a qualidade.

Grupo Técnico discute inspeções prediais e segurança de edificações   

O Grupo Técnico de Segurança e Saúde Ocupacional (GTSSO) do SindHosp realizou, na sede da entidade, um encontro transmitido via Zoom com o tema “Edificação Segura e Responsabilidades da Segurança do Trabalho”. Apresentada por Carlos Marrocos, engenheiro-chefe da Segurança do Trabalho do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), a reunião aconteceu no dia 14 de setembro último e teve como foco a segurança voltada para edificações. “Basicamente, o que precisamos para considerar um edifício seguro”, resumiu Marrocos, que teve a seu lado Carlos Cassiavillani, Roger Abdala e Lucineia Nucci. Ao todo, o encontro contou com 26 participantes de diferentes instituições.

De acordo com Carlos Marrocos, uma edificação segura pressupõe o cumprimento das diretrizes da nova norma de inspeção predial da Associação Brasileira de Normas Técnicas, a chamada ABNT NBR 16747:2020, principal ferramenta de gestão de manutenção predial no Brasil, inclusive para estabelecimentos de saúde. É uma norma que contempla todos os itens que precisam ser verificados para garantir a segurança das instalações de uma empresa.

Ganchos de ancoragem

Em sua apresentação, o engenheiro-chefe do HC-FMUSP detalhou equipamentos e instalações de segurança, chamando a atenção para aspectos que nem sempre os gestores levam em consideração. Os cuidados começam pelo alto, na laje de cobertura. Uma das novidades normativas é a exigência dos chamados Sistemas de Proteção Individual contra Quedas (SPIQ), que passa a vigorar a partir de 2024 para edificações sem um guarda-corpo no parapeito da laje.

 “Esse sistema de proteção contra quedas prevê a instalação de ganchos de ancoragem para que profissionais de diferentes áreas possam trabalhar presos a esses pontos, sem risco de queda. Eles garantem a proteção para o pessoal que faz limpeza de caixa d’água, inspeção de sinalização, verificação de para-raios, pintura de fachada e assim por diante, em geral, de empresas terceirizadas. Também podem servir para o içamento de máquinas e mobiliário”, explicou Carlos Marrocos. “Mas os gestores têm de levar em consideração que o teste de arranque desses ganchos é anual e que existem ganchos específicos para cada tipo de carga, tudo devidamente normatizado”. O teste de arranque ou carga tem como objetivo verificar a resistência, a estabilidade e a confiabilidade de um ponto de ancoragem.

Ainda na laje, os gestores precisam contar com Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), que é um conjunto de estruturas e soluções projetadas para proteger pessoas e construções da ação de raios. “Esse sistema requer uma medição ôhmica, que pode levar à perda da apólice de seguro se não for realizada anualmente ou em caso de sinistros”, destacou Marrocos. “Outra preocupação durante uma inspeção de laje é com a luz-piloto, que serve de alerta de obstáculo para aeronaves. A verificação no período noturno tende a ser mais eficaz”.

Elevadores

A prevenção de acidentes com elevadores pede uma série de medidas dos gestores de manutenção. A primeira delas é a verificação de itens obrigatórios no poço do elevador, como escada e sinalização. “Um item fundamental é a aba de proteção, que serve para proteger o passageiro de uma queda no poço em caso de uma operação de resgate. Essa aba também tem medidas normatizadas”, enfatizou Carlos Marrocos durante sua apresentação. “Mais uma situação comum é a falta de protetores de roldanas e tampas de painéis elétricos nas casas de máquinas dos elevadores. Isso tem de ser verificado e as equipes de manutenção precisam zelar por deixar tudo em ordem”.

Um dos itens mais importantes de segurança predial são os equipamentos de detecção e combate a incêndio. O engenheiro-chefe de Segurança do Trabalho do HC-FMUSP alerta para um problema mais comum do que parece. “Muitas vezes, as empresas instalam todo o sistema de detecção de fumaça, mas não protegem a fiação do forro e dutos, deixando os cabos sujeitos à ação de roedores e comprometendo a segurança do edifício. Esse detalhe pode passar despercebido até pela inspeção do Corpo de Bombeiros, que não abre o forro para verificar a existência dos dutos, e o sistema acaba não funcionando quando mais se precisa dele porque um cabo está rompido”, apontou Carlos Marrocos.

Escadarias pressurizadas

O sistema de pressurização de escada também requer um controle rígido para amenizar danos em caso de incêndio. Ele é importante para garantir que as pessoas tenham uma rota de fuga livre de fumaça em uma situação de fogo. Os dutos de pressurização costumam estar corretos no projeto, mas podem apresentar irregularidades ao ser construídos. “O problema é a perda da velocidade e da vazão de ar. Muitos edifícios não passam no teste de vazão e pressão de ar nas escadarias por esse motivo. Em geral, as empresas fazem o teste do detector de fumaça, que aciona o alarme e o sistema de pressurização, mas não se preocupam com o teste de vazão e pressão desse sistema”.

O engenheiro explica que, no topo dos prédios, há uma válvula de alívio que regula o sistema de pressão das escadas, mantendo a pressurização mesmo com a porta do térreo aberta. Segundo ele, no caso de uma emergência, a pressurização precisa ser forte o suficiente para garantir que as portas se fechem após a passagem das pessoas, mas não tanto a ponto de impedir que as pessoas acessem as escadas. “A vazão da pressurização influencia justamente nesse equilíbrio de forças e precisa estar adequada ao projeto”, reforçou Marrocos na reunião. “Além da parte estrutural, tem uma questão de cultura de segurança. Em caso de fogo, as portas das escadas têm de permanecer fechadas para impedir a entrada de fumaça e reduzir o risco de sufocamento, principalmente de cadeirantes, que precisam esperar ajuda para descer. Deixar um calço na porta corta-fogo para mantê-la aberta, por exemplo, significa colocar em risco a vida de todo mundo, assim como colocar correntes com cadeados nas portas, que impedem a passagem das pessoas”.  

Risco elétrico

A instalações elétricas e o grupo motogerador representam mais uma área de atenção em estabelecimentos de saúde. A sobrecarga de energia costuma estar associada a princípios de incêndio. “Não é incomum que muitos equipamentos sejam ligados na mesma tomada com uso de uma régua, incluindo aqueles que puxam mais energia e podem levar a superaquecimento e fogo”, destacou Carlos Marrocos. “Outra questão importante: os geradores. Existe o gerador de conforto e o gerador de segurança. O gerador de segurança precisa garantir que o sistema de combate a incêndio funcione em caso de fogo”.

A reunião do Grupo Técnico de Segurança e Saúde Ocupacional ainda discutiu temas como a instalação de sistema de condução de gases, destacando a importância de se garantir a ventilação permanente de áreas onda haja cozinha, aquecedores de água e a prevenção de vazamentos, e a colocação de redes de proteção conforme normas que regulamentam tanto sua produção como sua instalação.

Equipamentos hospitalares

Em sua apresentação, Marrocos falou também sobre um tipo específico de fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) em estabelecimentos de saúde. Trata-se de uma força-tarefa que promove uma inspeção em equipamentos hospitalares diversos, incluindo desfibriladores, monitores cardíacos, aparelhos de ultrassom, incubadoras, sistemas de anestesia, unidades eletro-cirúrgicas e radiografias, mamógrafos, ventiladores pulmonares, bisturis elétricos e assim por diante. “É importante que o gestor de manutenção esteja atento a esses equipamentos, realizando inspeções regulares”.

Por fim, os integrantes da reunião chamaram a atenção para a importância do treinamento e a percepção de risco por parte das pessoas que utilizam as edificações, além do trabalho de prevenção. O ponto, segundo os participantes, é que a questão da segurança vai além das leis ou das normas. Vidas estão em jogo, assim como a reputação do estabelecimento, enfatizaram. Os gestores precisam encontrar formas de lidar com isso, privilegiando a prevenção, porque sempre vai haver problemas com falhas de evacuação e uso incorreto de um extintor de incêndio, por exemplo. Além disso, é importante levar em consideração que muitos pacientes estão em uma condição temporária desfavorável para se deslocar e vão precisar de ajuda em caso de incêndio ou situação similar. Ter um espaço acessível não significa que a edificação está segura para um cadeirante ou um paciente de cama diante de uma necessidade de evacuação.  

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SindHosp retoma cursos presenciais após pandemia

Diante do arrefecimento da pandemia, o SindHosp retomou seu programa de cursos presenciais. O SindEduca, área de educação continuada e capacitação do Sindicato, realizou no dia 12 de setembro último o treinamento “Recursos Humanos e Relações de Trabalho na Saúde – Como gerenciar a sua equipe nos atuais e novos modelos de trabalho?”, ministrado pela advogada Daniela de Andrade Bernardo, que é sócia do escritório Machado Nunes, pós-graduada em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em Direito Empresarial do Trabalho pela Faculdade Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/SP) e embaixadora das Normas Internacionais pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Realizado no auditório do SindHosp, na Capital paulista, o curso contou com a participação de 27 gestores e analistas das áreas de Recursos Humanos e Atendimento de 16 empresas de São Paulo, incluindo clínicas, hospitais e laboratórios. Com as pessoas reunidas em um mesmo ambiente durante quase oito horas, o encontro permitiu uma troca de experiências mais próxima, favorecendo a interação entre os participantes e criando condições para um produtivo bate-papo no final da jornada.

Dividido por temas em oito blocos, o curso tratou de aspectos do dia a dia das relações trabalhistas, com o relato de casos reais e a apresentação de dúvidas para diferentes situações. A docente Daniela Bernardo abriu o treinamento dando um panorama das relações trabalhistas e sindicais e apresentando os diversos aspectos das negociações coletivas, desde convenções e acordos coletivos de trabalho até o impacto da reforma trabalhista e as peculiaridades da área da saúde nas relações com colaboradores.

Novos contratos de trabalho

Os contratos de trabalho também foram tema de diferentes blocos do curso. A palestrante falou sobre modalidades como teletrabalho e intermitente, além de estágio, prestação de serviço e trabalhos eventual, parcial e autônomo, por tempo determinando ou indeterminado. Além disso, discutiu conceitos em torno da suspensão ou interrupção do contrato de trabalho, apresentou formas de rescisão de trabalho, do pedido de demissão até a dispensa sem justa causa, e trouxe exemplos de medidas disciplinares.

No roteiro do curso, a embaixadora da OIT incluiu a gestão da saúde de empregados, tratando de medicina e segurança do trabalho. Nesse bloco, destaque para o chamado limbo previdenciário, situação em que um trabalhador em situação incapacitante recebe alta da Previdência Social sem o devido aval médico, ou seja, perde o benefício do INSS e fica sem salário.

Tendência nos diferentes campos do trabalho, a atenção à mulher contou com dois blocos do treinamento. Os participantes receberam mais informações sobre o programa “Emprega + Mulheres”, do governo federal, e discutiram o “A” acrescido à sigla CIPA, ficando CIPA+A, ou Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Assédio. Por fim, falaram sobre igualdade salarial entre homens e mulheres.

Gestão financeira

Mantendo sua tradição em capacitação, agora com o SindEduca o SindHosp já tem programados novos cursos para 2023. A expectativa é que o Sindicato sedie pelo menos dois cursos presenciais por mês e outros quatro virtuais, também mensais. Serão treinamentos divididos em quatro pilares-chave: gestão em saúde; negócios e questões técnicas; sistema de saúde; e desenvolvimento pessoal e profissional. O próximo curso, que está marcado para o dia 26 de setembro, das 9h às 17h, terá como tema “Gestão Financeira para a Área da Saúde: como promover sustentabilidade financeira na sua organização. Clique aqui para se inscrever

Desenvolvimento sustentável entra na agenda de empresas de saúde

O terceiro Workshop da Saúde promovido pelo SindHosp abordou o tema Desenvolvimento Sustentável nos Ecossistemas de Saúde. O encontro virtual, que faz parte do programa de educação continuada do SindEduca, aconteceu no dia 5 de setembro último e foi transmitido pelas plataformas Hospitalar Hub e Youtube com a participação de internautas via chat e WhatsApp. Clique e assista na íntegra.

Durante quase uma hora e meia, a diretora Executiva do SindHosp, Larissa Eloi, conversou com o professor e pesquisador Marcos Felipe Magalhães, autor do livro “Estratégias do Desenvolvimento Sustentável: ASG+P” e coordenador geral da certificação do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Intitulado “ESG+P e os Quatro Pilares do Desenvolvimento Sustentável”, o workshop tratou dos desafios das organizações de saúde em torno dos fundamentos expressos na sigla ASG+P (ou ESG+P, em inglês): ambiente, sociedade, governança e pessoas. “Esse é um tema complexo, ousado e inovador, que tem de estar na agenda das empresas da área da saúde de todos os portes”, destacou Larissa Eloi na abertura do evento.

Valores intangíveis

Para Marcos Felipe Magalhães, missão e atividade econômica devem conviver harmoniosamente dentro da área da saúde. “Uma organização que se preocupa com meio ambiente, bem-estar social, governança consciente e humanização do trabalho tende a ser vista como mais confiável e responsável”, enfatizou o professor. “A saúde entrega valores intangíveis, por isso seus indicadores têm de ir além da qualidade assistencial, dos desfechos de atendimentos e do controle orçamentário”.

O desenvolvimento sustentável pressupõe uma evolução nas condições ambientais, sociais, culturais, econômicas e humanas de uma empresa com o objetivo de atender a todas as partes interessadas, isto é, a todos aqueles que afetam ou são afetados por uma organização. No caso de uma instituição de saúde, estão entre as partes interessadas os colaboradores, os médicos, os pacientes, os pesquisadores, os terceirizados, a comunidade vizinha, os prestadores de serviço da saúde, os fornecedores, os parceiros e assim por diante.

O professor Marcos Felipe Magalhães elaborou com sua equipe um programa de desenvolvimento sustentável em que lista 240 práticas distribuídas pelos quatro pilares do conceito ASG+P. Na prática, uma matriz que funciona como base para o desenvolvimento estratégico das empresas. “A ideia é convergir as soluções para os diferentes quadrantes da matriz, como se fosse um framework”, detalhou o acadêmico durante o bate-papo. “O conceito ASG+P é uma evolução de várias demandas que foram provocadas pelas mudanças no comportamento social ao longo das últimas cinco décadas”.

Compromissos e resultados

Os resultados de um programa ASG+P para uma instituição de saúde passam por conservação de recursos, responsabilidade social, melhoria da saúde pública, redução de custos operacionais, atração de talentos e pacientes, conformidade com regulamentações e promoção de inovações. “Para tanto, a empresa precisa gerar valor aos acionistas, atender às expectativas dos pacientes, compensar colaboradores com justiça, apoiar a comunidade, lidar com fornecedores de forma justa e ética, proteger práticas sustentáveis para o meio ambiente e agregar valor a outras partes interessadas. Sim, tudo isso garantindo a harmonia entre todos”, resumiu Magalhães.

O programa desenvolvido pelo professor estipula 16 compromissos de uma organização de saúde, quatro para cada um dos pilares ASG+P. Na área ambiental, estão o cuidado com o meio ambiente, a eficiência no uso de energia, o impacto das mudanças climáticas na saúde humana e na infraestrutura e a gestão de resíduos em serviços de saúde. No âmbito da sociedade, os objetivos são preservar ética e valores sociais, promover o desenvolvimento humano, cumprir as responsabilidades sociais e contribuir para o desenvolvimento econômico.

Para governança, os compromissos são garantir a excelência na segurança e na qualidade da saúde do paciente, buscar a sustentabilidade econômico-financeira, cuidar da experiência do paciente e dos desfechos clínicos e obter o reconhecimento e a reputação, tornando-se referência na especialidade. Por fim, dentro do pilar pessoas, os objetivos são qualificar a cadeia de valor, promover a participação e compartilhar os êxitos, incentivar a capacitação e desenvolvimento pessoal e assegurar a qualidade de vida no trabalho.  

Abordagem sistêmica

“O importante é pensar com lógica de rede, interligando os compromissos e as partes interessadas. Trata-se de uma abordagem sistêmica, uma visão holística que inclui demandas sociais, ambientais, organizacionais e individuais das partes interessadas, respeitando os ‘fluxos’ do planeta, da sociedade, do capital e do trabalho”, explicou Marcos Felipe Magalhães no workshop. Em outras palavras, existe uma lógica de ecossistema, os recursos entregues geram recompensas na cadeia. “No âmbito do ambiente, o uso de recursos naturais pede um equilíbrio ecológico; na sociedade, os recursos humanos demandam desenvolvimento social; na governança, os recursos financeiros exigem rentabilidade; e, na pessoa, os recursos humanos pressupõem satisfação pessoal”.

Na visão do palestrante, o gestor da instituição de saúde precisa entender o negócio para além da qualidade e da segurança do atendimento, enxergando o entorno do paciente. Existe a família que exige uma boa experiência e um desfecho clínico favorável, o investidor, que precisa de sustentabilidade do negócio, e o médico, que busca reconhecimento e reputação. Há uma segunda camada no entorno do paciente. São fornecedores e operadoras que dependem de uma cadeia de valor qualificada, a área de tecnologia que pede capacitação e desenvolvimento e os profissionais, que precisam de qualidade de vida no trabalho. Na última camada estão a sociedade com sua ética e seus valores, os cientistas que olham para a saúde e o meio ambiente e os agentes sociais que cobram responsabilidades sociais e governos, que dependem de contribuição para a economia.  

“Um dos desafios é identificar quem atende cada uma dessas partes interessadas na sua organização. Paralelamente, as pessoas precisam deixar de pensar no ‘egossistema’ para pensar no ecossistema. Não se trata do meu esforço na organização, mas, sim, do impacto do que faço na cadeia de fornecedores, na equipe de saúde e nos produtores de toda a indústria que gira em torno da minha atividade”, ensinou o professor. “O vestiário do pessoal que trabalha no atendimento de emergência está à altura do que eu exigiria? Se os colaboradores não forem bem tratados, não vão tratar bem os pacientes. O técnico de enfermagem é quem mais passa tempo com o paciente. O importante é que todos sintam que são tratados de maneira humana”.

Programa de capacitação

A base conceitual do workshop está no livro “Estratégias para o Desenvolvimento Sustentável: ASG+P”, do professor Marcos Felipe Magalhães. Ele é também a base do programa de certificação do CBEXs “Desenvolvimento Sustentável em Organizações de Saúde”, que acontece em 11 de outubro e terá 60 horas. Mais informações: https://www.cbexs.org.br/sustentabilidade

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